Esquizofrenia é o segundo maior fator de risco para morte por COVID-19, aponta pesquisa

Os fatores de risco para complicações da Covid são bem conhecidos, mas uma nova pesquisa traz um novo fator pouco falado: a esquizofrenia. Entenda!
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Idade avançada é o maior fator de risco para morte por COVID-19, disso não há dúvidas. Porém, quando se trata de outros fatores de risco, uma série de condições inesperadas podem acabar influenciando nessa mortalidade.

Um estudo recente publicado no periódico científico JAMA Psychiatry mostra que, possivelmente, a esquizofrenia é o segundo maior fator de risco para morte por Covid, perdendo apenas para a idade. Ou seja, fatores de risco bem conhecidos, como outros problemas respiratórios, câncer, tabagismo, entre outros, ainda trazem chances menores de causar complicações do que a esquizofrenia.

Estudos anteriores mostram que pessoas com transtornos mentais como depressão e esquizofrenia têm mais chances de contrair o Sars-CoV-2, vírus causador da Covid. Porém, não se sabia, até então, em que medida essas condições poderiam afetar a mortalidade pela doença.

O objetivo do estudo, feito por Nemani, Olfson e colegas, era avaliar se alguns transtornos psiquiátricos poderiam aumentar a mortalidade por Covid. Para isso, os pesquisadores avaliaram registros de pacientes de 260 clínicas e hospitais de Nova Iorque, totalizando uma amostra de 7.348 pacientes que testaram positivo para COVID-19.

Os pacientes foram divididos em 3 grupos: diagnosticados com transtorno de humor (depressão), transtornos de ansiedade e esquizofrenia. Depois, estes 3 grupos foram comparados com os pacientes que não tinham nenhum diagnóstico psiquiátrico, levando em consideração também outros fatores de risco conhecidos para a Covid, como obesidade, tabagismo, hipertensão, problemas cardiovasculares, problemas renais, câncer, entre outros.

Desta amostra, 75 pacientes tinham o diagnóstico de esquizofrenia, 564 tinham histórico de transtorno de humor e 360 o diagnóstico de algum transtorno de ansiedade. No total, 864 dos pacientes foram a óbito ou foram encaminhados para um hospital psiquiátrico cerca de 45 dias após o diagnóstico de Covid.

Não foram encontradas associações entre a mortalidade por Covid e transtornos de humor ou de ansiedade. No entanto, quando se trata de esquizofrenia, os pesquisadores perceberam que estas pessoas tinham 2.7 vezes mais chances de morrer por COVID-19.

Este seria, então, o segundo maior fator de risco para morte por Covid depois da idade, que é de 3.9 vezes mais chances dos 45 aos 54 anos, dobrando o risco a cada 10 anos a mais depois dessa idade.

Já no caso de pacientes com insuficiência cardíaca ou diabetes, as chances de morrer de Covid são, respectivamente, 1.65 e 1.28 vezes mais altas do que em pessoas sem estes problemas. Em suma, são números mais baixos do que pessoas diagnosticadas com esquizofrenia.

Por que isso acontece?

Os pesquisadores ainda não têm uma resposta exata do porquê a esquizofrenia aumenta as chances de uma pessoa apresentar as complicações da Covid. No entanto, existem alguns palpites.

Em primeiro lugar, pessoas que sofrem de esquizofrenia podem desenvolver algumas comorbidades que são conhecidas por aumentar as chances de morrer por COVID-19, como obesidade, pressão alta, diabetes, problemas cardiovasculares, entre outras.

Porém, nem todos os pacientes com esquizofrenia acabam desenvolvendo essas comorbidades, e mesmo assim a esquizofrenia se apresenta como um fator de risco de grande preocupação.

Uma das hipóteses é a possibilidade de que a esquizofrenia ou os medicamentos usados para tratá-la sejam capazes de alterar o funcionamento do sistema imunológico. Pesquisas anteriores mostram que pessoas que sofrem com esquizofrenia podem ter respostas imunológicas alteradas, bem como variações nos genes que regulam a resposta imunológica do organismo às infecções.

O que alguns psiquiatras suspeitam é que a esquizofrenia está associada com a ativação de moléculas que auxiliam na resposta inflamatória, chamadas de citocinas. A relação disso com a Covid é que grande parte dos pacientes vão a óbito quando há uma resposta exagerada dessas moléculas, condição conhecida como tempestade de citocina.

Sendo assim, suspeita-se que a esquizofrenia (ou os medicamentos utilizados para tratá-la) pode aumentar as chances de uma pessoa apresentar uma tempestade de citocina, levando-a ao óbito. Porém, mais pesquisas precisam ser feitas para atestar a veracidade desta hipótese.

É importante ressaltar que pesquisas anteriores mostram que pessoas diagnosticadas com esquizofrenia têm uma expectativa de vida diminuída em até 20 anos em média, sendo que várias dessas pessoas acabam falecendo por pneumonia ou outras doenças virais — o que contribui para a hipótese de complicações causadas por alterações na resposta imunológica do organismo nessas pessoas.

Contudo, essa diminuição na expectativa de vida também pode ser causada pelas outras comorbidades comuns à esquizofrenia, como obesidade, problemas cardiovasculares e tabagismo.

Estes resultados são confiáveis?

Apesar de ser um estudo com dados bem interessantes, ainda são necessários mais estudos para poder afirmar que, com certeza, a esquizofrenia é um dos maiores fatores de risco para morte por Covid. Isso porque trata-se de uma amostra pequena, mas ainda assim perto de um tamanho de amostra significativo estatisticamente.

Por conta disso, seria interessante colocar pessoas diagnosticadas com esquizofrenia como prioritárias na fila da vacina, pois a tendência é que, com a vacinação, seja possível diminuir o número de mortes mesmo em pacientes com grandes fatores de risco.

Ainda assim, é importante ressaltar que os pesquisadores não tiveram acesso a informações a respeito das medicações utilizadas por estes pacientes, o que ajudaria a verificar se poderia ser uma questão relacionada à esquizofrenia em si ou aos medicamentos usados para combatê-la.

Os pesquisadores pretendem continuar investigando este problema, para verificar se existe uma razão biológica pela qual pacientes com esquizofrenia apresentam um maior risco de desenvolver complicações da COVID-19.

No entanto, por enquanto, é importante divulgar estas descobertas a fim de reduzir a mortalidade causada pela doença, dando prioridade aos pacientes com esquizofrenia na vacinação e em outras políticas de combate ao coronavírus.

Atualmente, a vacinação no Brasil se encontra bem avançada e diversas faixas etárias fora dos grupos de risco já foram vacinadas pelo menos com a primeira dose. Se você ainda não tomou a vacina e tem um diagnóstico de esquizofrenia ou possui familiares com o transtorno, não hesite em tomar as doses da vacina! Até o momento, a vacina é o único meio de prevenir casos graves da doença.

Referências

Nemani K, Li C, Olfson M, et al. (2021), Association of Psychiatric Disorders With Mortality Among Patients With COVID-19. JAMA Psychiatry. Published online January 27, 2021. doi:10.1001/jamapsychiatry.2020.4442

https://www.livescience.com/schizophrenia-covid-19-death-risk-factor.html

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