De quem é a culpa quando as coisas dão errado? Existe um único responsável pelo sucesso pessoal? As pessoas têm maneiras diferentes de responder a essas questões. Esse fenômeno se chama “estilo atributivo”, que pode ter consequências positivas ou negativas no estilo de vida e na autopercepção do indivíduo.
O que é estilo atributivo?
Os eventos que acontecem em nossas vidas costumam ser atribuídos a uma causa. A maneira que as pessoas atribuem eventos às causas variam em diversos fatores e, geralmente, as pessoas acabam desenvolvendo um padrão de atribuições, o que é chamado de estilo atributivo.
Os fatores que influenciam na atribuição são:
- Estabilidade: Se a causa do evento é um fator permanente/estável ou temporário;
- Abrangência: Se é algo universalmente abrangente ou algo específico, que acontece em situações isoladas;
- Personalização: Se o evento é causado por fatores externos ou internos.
Para ilustrar esses fatores, eis alguns exemplos:
O último relacionamento de Gabriel durou 4 meses e ele culpa a si mesmo pois nunca soube tratar bem um parceiro e todos os seus relacionamentos duram pouco tempo. Neste caso, a atribuição é estável, pois o problema persiste com o tempo, abrangente, pois acontece em todos os seus relacionamentos, e interno, pois Gabriel culpa a si mesmo.
Existe também o caso de Júlia, que conseguiu uma vaga de emprego em uma grande empresa com bons salários e atribuiu este fato à sua qualificação profissional e bom desempenho na entrevista, ignorando o fato de que possui amigos dentro da empresa que a indicaram para a vaga. Trata-se de uma atribuição estável e pessoal, pois Júlia acredita ter conseguido o emprego apenas com seu conhecimento e mérito.
A maneira que as pessoas explicam e atribuem causas aos eventos indicam a percepção e interpretação desses eventos, influenciando na maneira com a qual as pessoas vão lidar com os acontecimentos em suas vidas.
Tipos de estilos atributivos
Estilo atributivo negativo
Também chamado de pessimismo, o estilo atributivo é aquele no qual os eventos são explicados de maneira negativa. As coisas deram errado porque a pessoa é incompetente, ou porque tudo sempre dá errado para a pessoa.
No exemplo de Gabriel, este é o caso. Ele é o culpado de sua própria tragédia e isso sempre aconteceu e irá acontecer com ele.
Quando algo bom acontece com Gabriel, é bem provável que ele atribua esse evento à causas externas, como sorte. Além disso, ele tende a assumir que as coisas sempre darão errado para si, então se algo deu certo, é porque ele teve muita sorte só dessa vez.
Pessoas cujo estilo atributivo é negativo excessivamente tendem a ter pensamentos catastróficos, generalizados e personalizados sem evidências. Já quando esse pessimismo é mais moderado, os pensamentos costumam ser negativos sem evidências, porém são influenciados por experiências negativas anteriores e pelas observações negativas de outras pessoas.
Estilo atributivo positivo
É o otimismo, que consiste em pensamentos positivos e motivacionais. Quando exagerados, esses pensamentos podem ser utópicos, frustrantes e não têm evidências.
É o caso de Júlia, que atribui uma conquista apenas a si mesma, ainda que tenha evidências que houvesse fatores externos ajudando (a recomendação dos amigos). Se algo ruim acontecer a Júlia, é provável que ela pense que é só um caso isolado, que ela não tem culpa alguma e que logo vai passar, ainda que hajam evidências que ela tem alguma parcela de culpa e que ela precisa fazer algo para resolver o problema.
Estilo atributivo realista
De todos, este é o estilo mais “saudável”, pois está baseado em fatos e evidências.
No caso de Júlia, ela poderia perceber que conseguiu o emprego por conta tanto de sua qualificação profissional quanto pela ajuda dos amigos dentro da empresa.
Já no caso de Gabriel, ele poderia perceber que errou em alguns pontos no relacionamento, mas que ele acabou também porque a pessoa simplesmente não sentia mais a mesma coisa por ele.
Qual a relação entre estilo atributivo e a saúde mental?
Muitos estudos são feitos em relação ao estilo atributivo e seus efeitos na saúde mental. O que muitos pesquisadores encontraram é uma relação entre um estilo atributivo negativo e a depressão.
Quando a pessoa tende a pensar que todos os infortúnios em sua vida são sua culpa e que todas as situações são possíveis catástrofes, é fácil ficar com a autoestima abalada e não ter muitas expectativas boas em relação ao futuro.
Essas duas condições propiciam o surgimento de sintomas depressivos.
Do contrário, pessoas que atribuem os eventos positivos como algo pessoal têm menos chances de desenvolver depressão, embora a correlação entre otimismo e a prevenção da depressão seja menor do que a correlação entre o pessimismo e o desenvolvimento da depressão.
Um otimismo moderado baseado em evidências e um estilo atributivo realista geralmente indicam uma melhor saúde mental por conseguir analisar as coisas de forma mais realista.
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Referências
Bruder‐Mattson, S. F. & Hovanitz, C. A. (1990). Coping and attributional styles as predictors of depression. Journal of Clinical Psychology, 46(5): 557-565.
https://innovapsy.webnode.com/news/qual-seu-estilo-atributivo-2/
http://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=298910
