A vida é cheia de situações estressantes, mesmo quando as coisas vão bem. O cansaço do dia-a-dia, as responsabilidades que vão se acumulando, e até mesmo os problemas pequenos que vão se tornando bolas de neve, tudo acaba contribuindo para que nosso equilíbrio emocional acabe desandando vez ou outra.
É neste cenário que entram as estratégias de coping, que são maneiras de lidar com as situações de forma a melhorá-las ou, ao menos, conseguir resistir a elas sem sofrer prejuízos psicológicos muito graves.
Neste texto, falaremos sobre estratégias de coping e os seus tipos, entendendo que nem sempre essas estratégias são boas, mas que é possível desenvolver estratégias saudáveis.
O que são estratégias de coping?
As estratégias de coping (ou métodos de enfrentamento) podem ser definidas como esforços cognitivos e comportamentais que uma pessoa realiza para lidar com situações emocionalmente difíceis ou desafiadoras.
Tais estratégias podem ter como objetivo resolver um problema, se adaptar a uma condição ou até mesmo evitar lidar diretamente com a questão para conseguir manter o equilíbrio emocional durante algum tempo.
Essas estratégias podem ser tanto conscientes, como quando uma pessoa as utiliza de maneira intencional, quanto inconscientes, ou seja, a pessoa pode não perceber que está utilizando uma estratégia dessas para lidar com uma situação específica.
Embora sejam estratégias que tem como objetivo ajudar uma pessoa a lidar com um momento difícil, nem sempre essas estratégias funcionam bem a longo prazo, podendo trazer dificuldades no dia-a-dia. Estes casos são chamados de estratégias desadaptativas.
Tipos de estratégia de coping
Existem diversos tipos de coping, que podem ser classificados em 3 grandes categorias:
Foco no problema
As estratégias que tem foco no problema tem como objetivo alterar as variáveis ambientais que estão contribuindo para o problema.
Essas estratégias costumam ser embasadas em ações diretas para resolver o problema, como buscar informações, analisar detalhadamente a questão, conversar diretamente com as pessoas envolvidas, planejar soluções e até mesmo procurar a ajuda de um profissional especialista.
Foco na emoção
Já as estratégias de coping focadas na emoção geralmente ocorrem quando a pessoa sente que não pode mudar a situação (mesmo que isso seja uma percepção errônea da realidade). Essas estratégias tem como objetivo processar os sentimentos causados pelo problema.
Alguns exemplos são desabafar com alguém, tentar adotar uma nova perspectiva, permitir-se expressar emoções, trabalhar a regulação emocional, buscar maneiras de descontrair e até mesmo trabalhar práticas espirituais ou religiosas que podem trazer sentimentos agradáveis para contrabalancear os sentimentos ruins.
Coping evitativo (esquiva)
No coping evitativo, o principal comportamento é a esquiva, ou seja, a tentativa de sair ou escapar da situação. Em outras palavras, é uma estratégia na qual não se enfrenta o problema de nenhuma forma: nem com ações, nem em contato com as emoções.
Algumas formas de coping evitativo são a procrastinação, o uso de substâncias entorpecentes como álcool e drogas, a negação (a pessoa se recusa a reconhecer que está lidando com um problema), dormir em demasia, comer e gastar compulsivamente, fugir de situações conflituosas, entre outros.
Quando essa estratégia é feita de forma temporária, pode funcionar sem causar prejuízos para a pessoa e pode até mesmo ajudar a pessoa a economizar uma certa energia emocional, desviando o foco do problema momentaneamente.
No entanto, quando a pessoa acaba usando a esquiva para lidar com as coisas de forma frequente ou até mesmo crônica, é possível que isso tenha grandes impactos na sua saúde mental e física, bem como nos seus relacionamentos.

Como saber quando a estratégia de coping está me prejudicando?
Embora exista uma tendência a achar que algumas estratégias de coping sejam prejudiciais por si só, como por exemplo a estratégia da esquiva, a verdade é que a realidade não é tão simples.
A esquiva pode se tornar um problema quando acaba nos impedindo de viver situações que poderiam ter um resultado positivo, por exemplo, ou quando deixamos de encarar alguma coisa que queremos muito para conseguir evitar todo o nervosismo que vem junto dessa situação.
No entanto, às vezes a estratégia de esquiva é o que nos permite aguentar certos momentos. Uma pessoa que está em um emprego ruim, mas que não pode trocar no momento, talvez precise se desconectar um pouco das próprias emoções para conseguir lidar com isso por algum tempo. É claro que a pessoa não pode viver para sempre assim, sendo importante buscar alternativas para enfim poder enfrentar o problema. Contudo, esse é só um exemplo de como nem sempre a esquiva é necessariamente ruim.
Tentar resolver o problema a todo custo, embora pareça uma boa estratégia, pode ser um tiro no pé quando se trata de situações em que as coisas não estão no nosso controle. Nesses casos, essa estratégia de coping acaba sendo mais prejudicial do que ajuda, considerando que gera um alto nível de estresse sem uma resolução real.
Em outras palavras, para saber se uma estratégia está sendo saudável ou prejudicial, é importante avaliar não apenas sua efetividade diante da situação, mas também o impacto que ela tem na nossa saúde mental a longo prazo.
Estratégia de coping extrema: a síndrome de Estocolmo
A síndrome de Estocolmo é um fenômeno psicológico em que uma vítima de sequestro, abuso ou situação em que é controlada de forma extrema desenvolve laços emocionais com seu agressor, podendo até defendê-lo ou demonstrar lealdade a ele.
Estima-se que essa reação, apesar de contraditória, seria uma estratégia de coping extrema por ser uma tentativa de adaptação e sobrevivência a uma ameaça contínua.
O nome da síndrome, que não é reconhecida como um transtorno mental em si, surgiu após um assalto a banco em Estocolmo, na Suécia, em 1973.
Durante o assalto, pessoas dentro do banco foram feitas de reféns e, ao longo dos seis dias em que ficaram à mercê dos criminosos, as vítimas passaram a demonstrar empatia e até defenderam os assaltantes depois da libertação, recusando-se a testemunhar contra eles.
A síndrome de Estocolmo costuma ocorrer diante de situações em que a pessoa sofre uma exposição prolongada a ameaças à sua integridade física ou mental, como durante sequestros, ao ser vítima de um culto ou seita, entre outros.
A ideia é que a síndrome seria uma estratégia de coping surge pois, diante de uma ameaça constante, a pessoa passa a desenvolver laços afetivos com o agressor de forma não consciente com o objetivo de aumentar as chances de sobrevivência ou evitar desdobramentos ainda mais violentos.
Neste sentido, a síndrome acaba ajudando em duas frentes: na resolução do problema, de forma indireta, e na regulação emocional.
Se a pessoa nutrir sentimentos bons em relação ao seu agressor, pode sentir menos medo. Ao mesmo tempo, pode se esforçar mais para agradá-lo, fazendo com que se torne mais obediente e evite retaliações, diminuindo as ameaças e a violência por parte do agressor.
Contudo, a síndrome de Estocolmo é uma estratégia bastante desadaptativa, no sentido de trazer prejuízos para a pessoa a longo prazo. Isso porque a síndrome pode fazer com que a pessoa fique presa mais tempo naquela situação do que o necessário, considerando que o envolvimento emocional pode fazer com que ela não queira se distanciar.
Ao se ver livre da situação, ela pode desejar voltar para o agressor, mesmo sabendo, racionalmente, que ao fazer isso estaria novamente correndo riscos.
Como desenvolver estratégias de coping saudáveis?
Algumas ideias de como desenvolver hábitos de coping saudáveis são:
Estratégias focadas na resolução do problema
Algumas estratégias focadas na resolução do problema são:
- Aprender a pedir ajuda;
- Estabelecer limites saudáveis nas relações;
- Criar planos de ação e listas de tarefas;
- Desenvolver um bom gerenciamento de tempo;
- Buscar informações acerca do problema ao invés de se deixar levar por sentimentos de desespero;
- Procurar ajuda profissional.
Estratégias focadas na emoção
Quando não podemos focar diretamente na resolução do problema, cuidar do emocional pode ser a chave para lidar com tempos difíceis. Algumas ideias de estratégias focadas nas emoções são:
- Praticar um hobby;
- Fazer exercícios físicos;
- Focar-se intencionalmente em uma tarefa neutra;
- Praticar mindfulness;
- Usar técnicas de relaxamento;
- Expressar as emoções de forma saudável (como, por exemplo, através da arte);
- Permitir-se sentir sem julgar as próprias emoções e sem deixar que as emoções tomem conta de tudo;
- Buscar acolhimento com pessoas queridas;
- Desafiar crenças desadaptativas;
- Criar expectativas realistas;
- Escrever um diário (journaling);
- Manter uma boa rotina de sono e alimentação balanceada.

Lidar com o estresse e as questões emocionais no dia-a-dia pode ser desafiador. Não é a toa que muitas pessoas acabam desenvolvendo estratégias de coping desadaptativas. No entanto, isso não precisa ser sempre assim.
Se você percebe que está lidando com seus problemas de uma forma da qual desaprova, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!
Referências
https://www.portaldoimpacto.com/coping-estrategias-de-saude-mental-para-periodos-estressantes
https://www.verywellmind.com/forty-healthy-coping-skills-4586742
https://my.clevelandclinic.org/health/articles/6392-stress-coping-with-lifes-stressors