Por mais que a sabedoria popular deixe a entender que sim, a verdade é que o estresse não é exatamente uma situação evitável. Todas as pessoas terão que lidar com algum tipo de estresse em algum momento na vida, e um certo nível de estresse é até mesmo considerado saudável.
No entanto, quando esse estresse se torna demasiado, acontecendo de forma prolongada ou com frequência, ele pode causar danos significativos à saúde física e mental. Neste texto, iremos entender melhor o que é estresse, como a pressão contribui para seu surgimento, e quais as dicas para lidar melhor nos momentos em que o estresse se torna demais.
Estresse versus pressão: qual a diferença?
Enquanto a pressão pode ser um fator positivo e motivador, quando ocorre em demasia, ela dá origem ao estresse, que é uma resposta natural do organismo. O estresse ativa a resposta de fuga ou luta, bem como o sistema imunológico, a fim de ajudar o organismo a lidar com a pressão.
Em outras palavras, o estresse é um estado do próprio organismo, enquanto a pressão pode ser definida como um conjunto de fatores externos que causam estresse ao organismo.
Além disso, a pressão acaba a partir do momento em que um certo resultado é alcançado, mas o organismo pode demorar para sair do estado de estresse. Como exemplo, podemos pensar em um bombeiro que precisa salvar uma pessoa.
O “salvar a pessoa” é uma pressão, o estresse é a resposta do organismo a essa pressão, que se manifesta na liberação de diversos hormônios que causam mudanças fisiológicas que podem ajudar ou atrapalhar na tarefa a ser desempenhada.
No entanto, assim que o bombeiro consegue salvar a pessoa, mesmo que não haja mais pressão, ainda demora um pouco para que ele volte “ao normal”, pois os níveis de diversos hormônios no corpo podem demorar um pouco para voltar aos seus valores de base. Portanto, mesmo que não haja mais a pressão, o bombeiro ainda se encontra estressado.
É importante ressaltar que o estresse também surge como resposta a mudanças positivas, como mudança de casa, receber uma promoção no trabalho, fazer uma grande viagem, entre outros.
Como o estresse afeta a saúde mental?
Por ser uma resposta natural do organismo, entende-se que um certo nível de estresse é considerado saudável. No entanto, o estresse prolongado pode ter efeitos significativos não apenas na saúde física como também na saúde mental.
Situações como luto, divórcio, separações, desemprego, problemas financeiros e até mesmo estresse relacionado ao trabalho pode fazer com que uma pessoa passe por períodos prolongados de estresse, em que o organismo acaba não conseguindo se regular adequadamente.
Isso provoca um aumento da liberação do cortisol, conhecido como hormônio do estresse, o que traz consequências para o organismo como um todo. Neste momento, o estresse começa a se manifestar de forma sintomática, tanto fisicamente quanto mentalmente.
Sintomas psicológicos
O sintomas psicológicos do estresse incluem:
- Sentimentos ansiosos;
- Medo;
- Aumento da agressividade;
- Irritabilidade;
- Tristeza e sintomas depressivos;
- Sentimentos de frustração.
Sintomas físicos
Dentre os sintomas físicos do estresse estão:
- Dor de cabeça;
- Náuseas;
- Tensão muscular;
- Problemas digestivos (constipação, inchaço, diarreia);
- Respiração superficial e hiperventilação;
- Sudorese;
- Palpitações;
- Dores pelo corpo.
Sintomas comportamentais
Por fim, o estresse também acaba causando alterações no comportamento. Quando uma pessoa se encontra estressada por muito tempo, os seguintes comportamentos podem surgir:
- Isolamento de outras pessoas;
- Explosões de raiva direcionadas às pessoas próximas no momento;
- Dificuldades para tomar decisões;
- Inflexibilidade;
- Choro fácil;
- Dificuldade em pegar no sono e/ou permanecer dormindo;
- Dificuldades na esfera sexual;
- Uso abusivo de substâncias como álcool, tabaco ou substâncias ilícitas.
Em casos mais extremos, a pessoa também apresenta alterações significativas na alimentação, nos padrões de sono, bem como passa a ter problemas de memória e há uma tendência maior ao sedentarismo.
Relação entre estresse e transtornos mentais
Hoje em dia, entende-se que o estresse pode ser bastante prejudicial à saúde mental, tendo um impacto ainda maior no que tange os transtornos mentais em si.
Estudos mostram que pessoas que passam por estresse de forma crônica tem chances maiores de desenvolver transtornos ansiosos e transtornos de humor como a depressão e o transtorno bipolar.
Além disso, momentos traumáticos podem causar tanto estresse ao indivíduo que ele chega a desenvolver o chamado transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
No entanto, o problema é uma via de mão dupla: assim como o estresse pode contribuir para o surgimento de transtornos mentais, os transtornos em si também podem contribuir para um aumento do estresse vivenciado por uma pessoa.
Isso porque lidar com os sintomas de um transtorno por si só já pode ser estressante, mas, além disso, todas as mudanças às quais a pessoa precisa se adaptar ao resolver seguir o tratamento corretamente também pode causar um certo estresse.
No entanto, isso não significa que buscar ajuda não vale a pena; pelo contrário. Buscar ajuda pode ser estressante no começo, mas é o que, a longo prazo, ajuda a pessoa a garantir uma melhor qualidade de vida, incluindo diminuição do estresse provocado pelo transtorno não tratado.
Como lidar com o estresse e a pressão?
Embora o estresse seja inevitável em grande parte da vida, existem algumas formas de lidar com ele quando está sendo demasiado. Algumas dicas são:
Reconhecer quando o estresse está demais
Saber reconhecer os sintomas do estresse no corpo e na mente é o primeiro passo para conseguir lidar com ele. Neste sentido, é importante não ignorar sinais como músculos tensos, irritabilidade, problemas para dormir, dores de cabeça, entre outros.
Identificar as pressões que contribuem para o estresse
O estresse surge por um conjunto de pressões externas. Ao reconhecer os sintomas do estresse, o próximo passo é identificar quais são as pressões que estão causando o estresse no momento. Isso é importante para que possamos fazer algo em relação a essas pressões: seja resolvê-las ou mudá-las.
Pensar em mudanças possíveis
Nem todas as pressões que sofremos precisam nos afetar no dia-a-dia. É normal que algumas das pressões não possam ser deixadas de lado, como por exemplo a pressão por ter uma boa performance no trabalho.
No entanto, existem algumas pressões que podem ser deixadas de lado ou ao menos ressignificadas para que não mais nos afetem. Pressões relacionadas a opinião que os outros tem de nós, por exemplo, podem ser ressignificadas para que isso não mais afete nossa maneira de agir no mundo, como também melhore nossa autoestima e autoimagem.
Nem sempre pensar nessas mudanças é algo tão simples e é nesse momento que a psicoterapia pode ser de grande ajuda. Mesmo que a pessoa não tenha qualquer diagnóstico de transtorno mental, trabalhar essas questões na terapia pode auxiliar a diminuir o peso que uma pessoa carrega ao estar sempre tentando suprir as expectativas que geram pressão.
Construir uma rede de apoio
As relações interpessoais são fundamentais para manter uma boa saúde mental e elas podem ajudar muito em situações de estresse. A rede de apoio nada mais é do que um conjunto de relações interpessoais que podem dar assistência em momentos de necessidade.
Manter uma dieta saudável
A alimentação é importante não só para manter o corpo funcionando, mas também para ajudar a regular melhor o humor e o estresse.
Sabe-se que certos alimentos podem agir aumentando sintomas ansiosos, outros diminuindo, e isso é apenas um exemplo de como a alimentação pode ter impactos diretos na saúde mental e, consequentemente, no estresse.
Portanto, ter uma dieta equilibrada é fundamental para lidar com momentos de grande pressão.
Praticar exercícios físicos
Os exercícios físicos, assim como a alimentação, trazem benefícios diretos ao corpo. No entanto, eles também podem ajudar muito no psicológico, considerando que podem ajudar na regulação emocional e, consequentemente, na regulação do estresse.
Vale ressaltar que pessoas que passam por estresse de forma crônica apresentam uma tendência maior ao sedentarismo, que também deve ser combatido.
Faça pausas
Permitir-se descansar é um ponto chave em como lidar com pressões e com o estresse. Muitas pessoas que sofrem pressões em diversas esferas da vida não se permitem descansar e relaxar, ainda que estejam de férias ou ninguém esteja cobrando elas de alguma coisa.
Neste sentido, é a própria pessoa que internalizou uma série de pressões e não se permite ter uma pausa. Se este for o caso, trabalhar nessa questão, especialmente em psicoterapia, é uma possibilidade.
Mindfulness
O mindfulness é um exercício de atenção plena cujo objetivo é cultivar uma presença no aqui-e-agora, ao invés de se deixar levar pelos pensamentos que acabam alimentando os sentimentos de estresse.
Isso é importante para que seja possível se desligar dos problemas em momentos nos quais não há necessidade de pensar neles. Por exemplo, ao sair de férias, não tem como aproveitar e descansar se a pessoa continua pensando nas obrigações do trabalho.
Usar o mindfulness ajuda muito a lidar com o estresse pois, ao tirar a atenção das pressões, faz com que o organismo saia do estado de estresse, evitando as consequências de um estresse prolongado.
Cultivar um hobby
Hobbies são atividades exercidas exclusivamente como forma de lazer. Cultivar um hobby pode ajudar a reduzir o estresse por tirar a mente dos problemas momentaneamente, enquanto a pessoa mobiliza energia para realizar uma tarefa que requer atenção, porém com o único objetivo de relaxar e passar o tempo.
Diminuir o consumo de álcool, tabaco e outras substâncias
Embora muitas pessoas façam uso de substâncias para “esquecer os problemas”, a longo prazo esse uso pode acabar piorando esses problemas.
O efeito momentâneo da substância pode trazer alívio, mas a longo prazo existem várias substâncias que provocam alterações na neurofisiologia, podendo causar dependência química, tolerância, entre outros.
Portanto, se você percebe que está consumindo mais álcool, tabaco ou qualquer outra substância em momentos de maior estresse, diminuir esse consumo (ou, de preferência, cortá-lo completamente) ajuda significativamente a longo prazo.
Tenha autocompaixão
O estresse que enfrentamos no dia-a-dia nem sempre é nossa culpa, mesmo que haja coisas que possamos fazer para melhorá-lo.
Entender a própria responsabilidade diante de um problema não significa que estamos fazendo um mau trabalho ou que merecemos consequências negativas por conta disso. Pensar dessa forma só vai aumentar o estresse e contribuir para o surgimento de sofrimento psíquico significativo.
Portanto, ter autocompaixão e ser gentil consigo mesmo é um passo crucial para conseguir lidar com o estresse, diminuindo consideravelmente o peso a ser carregado nessa situação.
Psicoterapia
Como dito anteriormente, a psicoterapia pode ajudar muito pessoas que estão passando por dificuldades para lidar com o estresse. Isso porque ela pode ajudar a pessoa a ressignificar as pressões que sente, bem como pode ajudar a pessoa a navegar por situações complexas que geralmente causam bastante estresse, mudanças significativas como separações, maternidade, mudança de casa, entre outros.
Embora o estresse seja inevitável, saber lidar com ele é essencial para conseguir manter uma boa saúde mental e qualidade de vida. Se você percebe que está tendo problemas com estresse ou conhece alguém nessa situação, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!
Referências
https://www.mentalhealth.org.uk/explore-mental-health/a-z-topics/stress
https://www.redcross.ca/blog/2020/10/the-impact-of-stress-on-your-mental-health
https://www.mind.org.uk/information-support/types-of-mental-health-problems/stress/what-is-stress/
https://wellingtonlifecoaching.co.nz/pressure-vs-stress-the-difference/