Você com certeza já ouviu algum amigo falar que é aracnofóbico ou que não pode ir tirar sangue porque acaba desmaiando. Muita gente acredita que isso é frescura, mas a verdade é que se trata de um problema real: a fobia específica.
Acontece que, quando essas pessoas são confrontadas com esses medos, há uma resposta imediata de medo ou ansiedade, levando a sintomas bem desagradáveis — incluindo o desmaio. Por vezes, este medo pode parecer completamente razoável, como quando se trata de animais peçonhentos, por exemplo. No entanto, nem sempre este é o caso. Algumas pessoas podem desenvolver fobias relacionadas a atividades, objetos e diversas outras situações aparentemente inofensivas.
Ainda que o medo tenha algum sentido, ele é extremamente prejudicial para a pessoa porque costuma ser desproporcional ao perigo apresentado. Não faz muito sentido paralisar ao ver uma aranha comum na parede do outro lado de um cômodo gigante, não é mesmo? Pois bem, pessoas com fobia de aranha podem ter as mais variadas reações e expressões de medo, ainda que a aranha seja inofensiva (não venenosa) e nem saiba da existência da pessoa. O mesmo pode acontecer com certos objetos, situações específicas etc.
O problema pode ser tão grave a ponto de causar comportamentos de evitação. A pessoa pode ter tanto medo de voar, por exemplo, que pode perder um emprego que requer viagens constantes, pois evita a todo custo se locomover através do avião. Seu medo pode ser tão grande a ponto de prejudicar suas relações e até mesmo sua saúde física, quando é o caso do medo de sangue, injeção ou procedimentos médicos.
Geralmente, pessoas que têm alguma fobia específica costumam ter fobias de mais algumas situações ou objetos. Entretanto, sempre é preciso investigar se a fobia não está relacionada a algum transtorno mental com sintomas parecidos, como a síndrome do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático, entre outros.
As fobias específicas são mais comuns em mulheres do que em homens, além de aparecer com mais frequência em pessoas entre 13 e 17 anos. Os tipos de fobias específicas são diferentes também: a fobia de animais é mais comum em mulheres, enquanto a fobia de sangue-injeção-ferimentos afeta ambos os sexos igualmente.
Tipos de fobias específicas
As fobias específicas podem ser categorizadas em 5 tipos:
- Animal: Quando a fobia é causada por algum animal, como aranhas, cães, insetos etc.;
- Ambiente natural: Quando a origem da fobia é algum evento natural como alturas, tempestades, água etc.;
- Sangue-injeção-ferimentos: Quando procedimentos e objetos médicos são a fonte da fobia;
- Situacional: Quando a fobia se dá em determinadas situações, como voar de avião, entrar em elevadores, ficar em locais fechados etc.;
- Outros: A fobia é classificada como “Outros” quando não se encaixa nas situações anteriores, como por exemplo o medo de sons altos ou pessoas vestidas com fantasias.
Sintomas de fobias específicas
Muitas pessoas têm medo de muitas coisas. Os sintomas do medo são bem conhecidos por todos, mas infelizmente muitos confundem o medo saudável (proporcional ao perigo da situação) com fobia. A fim de estabelecer melhor as diferenças, segue uma lista de sintomas das fobias específicas:
- O medo vivenciado na fobia é intenso e está relacionado apenas ao estímulo fóbico (objeto ou situação temidos pela pessoa);
- A pessoa pode sofrer com ansiedade quando há a antecipação da presença do estímulo fóbico;
- O medo da pessoa pode assumir a forma de um ataque de pânico, que desencadeia sintomas como palpitações, suor excessivo, tremores, falta de ar, calafrios, entre outros;
- A fobia ocorre em quase todas as vezes que a pessoa entra em contato com o estímulo fóbico. Pessoas que vivenciam medo ou ansiedade ocasionalmente na presença do estímulo fóbico não são diagnosticadas com fobia específica;
- O grau do medo e ansiedade pode ser variável a cada novo encontro com o estímulo fóbico. Algumas vezes o paciente pode ter um ataque de pânico, outras pode ter apenas uma ansiedade antecipatória, mas o sentimento de medo e ansiedade sempre está lá;
- Em crianças, os sintomas incluem choro, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento de agarrar uma pessoa (geralmente o responsável);
- A pessoa tem a tendência de evitar o contato com os estímulos fóbicos, exibindo um comportamento chamado de evitação ativa. O indivíduo fará de tudo para evitar as situações que provocam a fobia e, caso não consiga, a consequência é uma ansiedade intensa. Alguns casos de evitação são simples, como pegar as escadas ao invés de usar o elevador, mas outros podem ser mais sutis, como evitar sapatos com cadarços quando tem medo de cobras.
Causas das fobias específicas
Em geral, as fobias específicas têm início após um evento traumático envolvendo o estímulo fóbico, como, por exemplo, ficar preso em um elevador. Elas também podem se desenvolver a partir de relatos de outras pessoas, o que indica que não é necessário ter passado por situações relacionadas ao estímulo fóbico em si para temê-lo.
Há também a possibilidade de uma fobia específica se iniciar após um ataque de pânico em uma situação inesperada, como dentro de um ônibus, gerando um medo irracional de pegar o ônibus novamente. Também pode dar origem a uma fobia a transmissão de informações em demasia, como noticiários com ampla cobertura de acidentes aéreos, por exemplo.
Muitas pessoas não sabem relatar porquê sua fobia começou. A fobia costuma ter início na infância, entre os 7 e 11 anos de idade. Contudo, fobias específicas situacionais costumam começar mais tarde. Fobias de animais, ambiente natural e sangue-injeção-ferimentos se iniciam na infância, e podem apresentar recidivas e remissões durante a adolescência.
Fatores de risco
Existem alguns fatores de risco para o desenvolvimento de fobias específicas. Entre eles estão:
- Temperamento: Pessoas com alta tendência de pensar e esperar pelo pior (neuroticismo) ou que costumam inibir comportamentos têm uma tendência maior para desenvolver fobias;
- Ambientais: Superproteção, perda e separação parentais, abuso físico ou sexual, além de encontros traumáticos com o estímulo fóbico são fatores ambientais que auxiliam no desenvolvimento de fobias específicas;
- Genéticos e fisiológicos: Pessoas com parentes de primeiro grau que sofrem de alguma fobia específica têm uma probabilidade maior de desenvolver uma fobia específica da mesma categoria que seu parente. Se o pai tem fobia de insetos, o filho tem mais chances de ter fobia de aranhas, por exemplo, do que outros tipos de fobias. Além disso, pessoas com fobia de sangue-injeção-ferimentos são propensas ao desmaio na presença dos estímulos fóbicos, o que pode indicar fatores fisiológicos envolvidos na fobia.
Diagnóstico
O diagnóstico de fobias específicas pode ser complicado pois existem muitos transtornos parecidos. Contudo, existem alguns critérios para facilitar. São eles:
- Presença de medo ou ansiedade acentuados diante do estímulo fóbico;
- Persistência do sentimento de medo ou ansiedade e comportamento de esquiva por pelo menos 6 meses;
- Sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional e em outras áreas importantes da vida do indivíduo por conta da fobia;
- Evitação ativa do estímulo fóbico;
- Presença do sentimento de medo ou ansiedade em quase todas as vezes que o indivíduo entra em contato com o estímulo fóbico;
- O medo ou ansiedade é desproporcional ao perigo apresentado pelo estímulo fóbico.
Em crianças, o diagnóstico pode ser dificultado porque a expressão das fobias costuma ser diferente. É importante prestar atenção em comportamentos de choro, crises de raiva, imobilidade e a tendência de se agarrar a algum cuidador diante de determinados objetos ou situações (estímulo fóbico). Além disso, a criança pode não compreender o conceito de esquiva, sendo necessária uma narração mais detalhada dos comportamentos da criança por parte de seus cuidadores.
Além disso, o medo em crianças pode ser transitório. Sendo assim, é importante verificar há quanto tempo a criança está apresentando tais comportamentos, uma vez que o diagnóstico não deve ser dado caso a fobia tenha durado menos de 6 meses.
Em populações mais velhas, as fobias específicas podem ser diferentes também. É mais provável que pessoas na terceira idade desenvolvam fobias de ambiente natural ou de quedas. Além disso, as fobias são comumente acompanhadas de outros transtornos e condições clínicas, como a doença coronariana ou doença pulmonar obstrutiva crônica. Sendo assim, há uma probabilidade maior desses indivíduos atribuírem os sintomas da fobia às condições médicas.
Tratamento de fobias específicas
O tratamento de fobias específicas é feito com profissionais da saúde mental, como o psiquiatra e o psicólogo. Eles podem auxiliar por meio da prescrição de medicamentos para lidar com os sintomas da ansiedade, assim como diagnosticar possíveis comorbidades (outros transtornos que podem aparecer junto das fobias).
O psicólogo, por sua vez, aplicará técnicas para ajudar o paciente a lidar com a fobia. Uma destas técnicas, muito usada na terapia cognitivo-comportamental, é a dessensibilização sistemática. Trata-se de uma técnica muito eficaz para tratar fobias que consiste em apresentar o estímulo fóbico de maneira gradativa, ajudando o paciente a vencer seu medo lentamente.
E aí, se identificou com algo que está aqui? Antes de qualquer coisa, procure um profissional da saúde mental para um diagnóstico preciso, e assim poderá receber o tratamento adequado!
Referências
Associação Americana de Psiquiatria (2013). Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). 5ª edição. Porto Alegre: Artmed.