Inteligência emocional em tempos de quarentena: como melhorar?

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Conviver com os familiares pode ser complicado durante uma pandemia, especialmente quando ela requer medidas restritivas como o isolamento social ou quarentena. As redes sociais estão cheias de piadas sobre como lidar com os familiares ou colegas de quarto neste período tão complicado e altamente propício para o surgimento de discussões e dificuldades nos relacionamentos. Por que isso acontece? Por que é tão fácil acabarmos brigando com as pessoas que amamos? A resposta está na inteligência emocional, ou na falta dela.

A inteligência emocional é um conceito da psicologia que diz respeito à capacidade de reconhecer, entender e expressar de maneira saudável as próprias emoções, bem como reconhecer, interpretar e responder às emoções dos outros. O que muitas pesquisas mostram é que pessoas emocionalmente inteligentes costumam se dar melhor em várias esferas da vida, como nas relações interpessoais, na carreira, entre outras.

De acordo com Daniel Goleman, psicólogo e jornalista que escreveu um livro sobre o assunto, a inteligência emocional possui 5 domínios:

  1. Autoconsciência: Se refere à capacidade de compreender o que está sentindo e porquê;
  2. Autogestão emocional: Capacidade de gerenciar emoções desagradáveis, evitando que elas prejudiquem o funcionamento do indivíduo;
  3. Motivação: Habilidade de encontrar e agir de acordo com uma motivação interna;
  4. Empatia: Compreensão do que outra pessoa está sentindo e vivenciando;
  5. Habilidades sociais: Combinação de todos os domínios acima a fim de formar laços interpessoais saudáveis.

Felizmente, a inteligência emocional é uma habilidade que aprendemos ao longo da vida — em especial nos primeiros anos da infância. Não se trata de um tipo de inteligência inata ou que herdamos dos pais geneticamente.

Em geral, o aprendizado da inteligência emocional ocorre nos primeiros anos de vida e, portanto, a inteligência emocional de uma pessoa tende a ser bem parecida com a dos pais ou de quem a criou. No entanto, não se trata de algo fixo, ou seja, você não precisa ter a mesma inteligência emocional que os seus pais, especialmente se ela não for muito alta.

É possível melhorar essa inteligência ao longo da vida e existem algumas dicas que você pode tentar para melhorar sua inteligência emocional e lidar melhor com os conflitos em casa (e em qualquer lugar). São elas:

Consciência dos pensamentos negativos

O cérebro humano costuma tentar prever as possibilidades, tendo uma propensão a imaginar os piores cenários possíveis. Isso acontece mesmo que, no fim das contas, não aconteça nada de ruim. O problema é que essa preocupação com a possibilidade de ocorrer o pior cenário acaba causando prejuízos na hora de pensar, o que pode trazer sentimentos como ansiedade e estresse.

Pessoas com uma boa inteligência emocional também pensam no pior cenário possível, mas elas não permitem que a análise de possibilidades pare por aí. É importante pensar também nas diversas outras possibilidades, levando em consideração as evidências da realidade.

Um exemplo simples seria durante uma prova: é comum se sentir ansioso ao se deparar com uma questão que não lembra como responder e já começar a pensar que poderá zerar a prova. Contudo, esse pensamento não é muito útil, pois deixa a pessoa emocionalmente carregada e isso pode prejudicar o seu desempenho no resto da prova. Pensar, por exemplo, que é apenas uma questão e existem muitas outras que podem ser respondidas para adquirir pontos na prova auxilia a melhorar o emocional e ter um rendimento satisfatório na prova.

Portanto, estar consciente dos seus pensamentos negativos e saber como combatê-los pensando em outras possibilidades é um dos meios de regular-se emocionalmente.

Evitar personalizações

Uma falha no pensamento de muitas pessoas é ter pensamentos extremamente centrados em si mesmas, ou seja, acreditar que tudo que ocorre, consigo e com os outros, tem algo a ver consigo mesma. Um exemplo é sentir-se um fracasso quando um colega é promovido. A realidade é que a promoção do colega nada tem a ver com o seu sucesso ou fracasso. Outro exemplo seria acreditar que o fato de que um colega comprou um carro zero do ano significa que o seu carro não vale mais, ou que o fato de que um amigo não te chamou para sair no final de semana significa que ele não gosta mais de você.

Todos estes são exemplos de situações que nada tem a ver com o indivíduo, mas que ele pode acabar tomando para si — este fenômeno se chama personalização e é um grande inimigo da autogestão emocional. Portanto, se você perceber que está ligando eventos e acontecimentos na vida de outras pessoas a si mesmo de alguma forma, seria uma boa ideia combater estes pensamentos. Afinal de contas, a realidade é que os acontecimentos dos outros nada tem a ver com você.

Consciência e gestão do estresse

O estresse é um sentimento normal e inevitável — ao longo do dia, o acúmulo de acontecimentos, grandes ou pequenos, geram estresse. O problema é que o estresse acaba por deixar a pessoa irritadiça, o que pode gerar reações emocionais inadequadas a certas ocasiões. Por isso, ter consciência do próprio estresse e saber gerir este sentimento é uma ótima maneira de melhorar a inteligência emocional.

Algumas técnicas para gerir o estresse são jogar água gelada no rosto, o que ajuda a diminuir sentimentos como ansiedade, evitar alimentos que aumentam a ansiedade, como o café, fazer exercícios físicos, que liberam endorfinas e aliviam muito o estresse e ansiedade, bem como práticas complementares, como a meditação.

Expressar emoções complicadas

Algumas emoções não são socialmente aceitas e, portanto, é comum que as pessoas tentem escondê-las. Contudo, esconder as emoções é uma das piores coisas, pois elas podem voltar com toda a força a qualquer momento. Mais interessante do que “não sentir” emoções socialmente indesejadas, como a raiva por exemplo, é aprender a expressá-las de uma maneira mais saudável e adequada para as situações.

Se, por exemplo, uma pessoa faz algo que magoa a outra, é importante que a parte magoada converse com a outra pessoa a fim de resolver o conflito. Dependendo do caso, a pessoa que magoou a outra pode até mesmo mudar seus comportamentos para evitar novos conflitos no futuro.

Caso a mudança não seja possível, é interessante estabelecer limites que mantenham as duas partes seguras, como por exemplo retirar-se de uma situação na qual não se sente confortável sem que seja necessário dar satisfações aos outros depois.

Para expressar essas emoções complicadas, é importante aprender a usar uma linguagem não violenta. Quando alguém te magoar, experimente dizer: “quando você faz isso, eu me sinto mal, e por isso ajo dessa forma”. Desta maneira, é possível expressar este sentimento desagradável sem acusar o outro, evitando conflitos desnecessários.

Ser proativo ao invés de reativo

É normal sentir vontade de reagir de maneira agressiva ao ouvir coisas desagradáveis, mas isso indica um mau regulamento das emoções. Se uma pessoa está te fazendo se sentir mal, ao invés de reagir, uma ideia é tomar atitudes para solucionar a situação, como por exemplo expressar suas emoções (de maneira não violenta, como explicado no item acima), estabelecer limites, deixar claro suas intenções caso a pessoa continue te fazendo se sentir mal ou, em casos mais graves, se distanciar completamente da pessoa caso seja necessário.

Ser assertivo e respeitoso

Outro ponto importante é ser assertivo ao expressar suas emoções e pensamentos. Isso porque, ao falar de forma não assertiva, é possível não ser levado a sério. Contudo, é necessário se mostrar respeitoso ao mesmo tempo, caso contrário a pessoa pode entrar numa posição defensiva e a comunicação será prejudicada. Ser assertivo e respeitoso permite que duas pessoas consigam se compreender e estabelecer limites dentro de uma relação.

Ouça ativamente

A escuta ativa se baseia em realmente tentar compreender o que o outro está dizendo. Muitas vezes, ouvimos os outros já pensando na resposta que vamos dar, apenas aguardando a nossa vez de falar. Contudo, isso impede que sejamos realmente capazes de compreender o que o outro está tentando expressar. Por isso, praticar uma escuta ativa é extremamente importante para melhorar a qualidade das relações interpessoais.

Na escuta ativa, não se presta atenção apenas nas palavras da pessoa, mas também à sua linguagem corporal e outras formas de comunicação não verbais.

Aprender a se recuperar de adversidades

Deparar-se com adversidades no dia a dia pode ser altamente desmotivador, mas é importante aprender a se recuperar após problemas a fim de ter uma boa regulação emocional. Uma maneira de fazer isso é sempre tentar aprender alguma coisa após uma falha, encarando a adversidade como uma oportunidade de aprendizado que permite melhorias nas tentativas futuras. Desta forma, é muito menos provável que você se frustre e se sinta desmotivado a seguir em frente diante de um problema.

Permitir-se ser vulnerável e desenvolver intimidade

Estar vulnerável não é fácil, mas pode ser necessário para o bom desenvolvimento das relações interpessoais. Relações saudáveis com outras pessoas envolvem ser honesto consigo mesmo e com os outros, mostrando não apenas seu lado bom como também o ruim.

Ao se permitir ser visto em totalidade, as outras pessoas tendem a fazer o mesmo, de modo que é possível conhecer os pontos fortes e fracos das outras pessoas, permitindo assim haver uma relação de respeito. Isso tudo é imprescindível para desenvolver intimidade em uma relação, que por sua vez traz sentimentos de segurança e apoio. Permitir-se ser vulnerável e íntimo com outra pessoa é uma das maiores expressões da inteligência emocional.

Em tempos de isolamento social, ficar o dia inteiro em casa com a família ou outros companheiros pode trazer a tona muitos problemas nos relacionamentos que, no dia a dia, podem passar despercebidos. Portanto, ter inteligência emocional para lidar com essas situações é de extrema importância para garantir a saúde mental de todos durante este período tão complicado.

Caso você esteja tendo muita dificuldade em relação a regulação emocional, não hesite em consultar um psicólogo ou psiquiatra de confiança!

Referência

https://www.psychologytoday.com/us/blog/love-and-sex-in-the-digital-age/202005/i-don-t-want-be-difficult-i-am-what-am-i-missing

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