LSD: como um alucinógeno pode ajudar?

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Popularmente conhecido como LSD, o ácido lisérgico é uma droga alucinógena lembrada principalmente pelo seu uso recreativo, que teve seu auge nas décadas de 60 e 70 com a cultura hippie, mas que continua presente em muitas festas e nas grandes cidades.

Sintetizada em 1938, essa substância costuma produzir efeitos agradáveis ao usuário, como uma sensação de maior conexão com o mundo, alterações na percepção, aumento da empatia e confiança em outras pessoas, alucinações visuais e auditivas agradáveis, entre outras.

Apesar de todos esses efeitos “positivos”, o LSD também traz consequências negativas se usado irrestritamente. O indivíduo pode ter o que é comumente chamado de “bad trip”, ou “viagem ruim”, que é quando os efeitos/alucinações causadas pela droga são em sua maioria desagradáveis. Além disso, há o perigo de haver dependência psicológica.

Mesmo com tudo isso, cabe à ciência questionar: será que o LSD pode trazer benefícios para a saúde mental? Observando seus efeitos positivos, muitos pesquisadores resolveram estudar a substância a fim de entender seus efeitos na psique. Felizmente, grande parte dos resultados são bastante positivos. Será que, em breve, teremos um novo medicamento baseado em LSD? Continue lendo para saber mais!

Efeitos do LSD

Efeitos positivos

Em geral, os efeitos do LSD tendem a ser bastante agradáveis para o usuário. Alguns destes efeitos são:

  • Um estado de felicidade, relaxamento e bem-estar;
  • Sinestesia audiovisual (integração entre os sentidos audição e visão, no qual um som pode evocar uma imagem e vice-versa);
  • Alterações na percepção;
  • Desrealização (sensação de que o mundo externo não é real) e despersonalização (sensação de que o indivíduo não é real) agradável;
  • Experiências místicas;
  • Sensação de proximidade com o mundo e com as outras pessoas;
  • Aumento na confiança em outras pessoas e no mundo;
  • Mente aberta para tentar e aprender coisas novas;
  • Maior resposta emocional à música;
  • Desorganização cognitiva;
  • Delírios.

Tais efeitos tendem a durar cerca de 8 horas, dependendo da via de administração da substância.

Efeitos adversos

Não são apenas efeitos positivos que o ácido lisérgico causa. Alguns efeitos negativos que podem aparecer são:

  • Dificuldade de concentração;
  • Dores de cabeça;
  • Tontura;
  • Perda de apetite;
  • Boca seca;
  • Náuseas;
  • Perda de equilíbrio;
  • Exaustão;
  • Aumento da pressão arterial, batimento cardíaco, temperatura corporal e tamanho da pupila.

Flashbacks

Não raramente, o LSD pode causar flashbacks, ou seja, mesmo que a pessoa esteja sem usar a substância, ela pode involuntariamente lembrar, por alguns instantes, dos momentos em que estava sob efeito da droga. Isso acontece principalmente com pessoas que usaram grandes quantidades de LSD no passado, ou que continuam utilizando a substância frequentemente.

Em alguns casos, indivíduos podem desenvolver uma síndrome chamada transtorno perceptivo persistente por alucinógenos, que é caracterizado por flashbacks de frequência e intensidade significativa, ou seja, que prejudicam a vida do paciente.

A boa notícia é que se trata de um transtorno raro que ocorre quase exclusivamente em contexto de abuso de LSD para fins recreativos. Além disso, ele costuma durar entre alguns meses a um ano, não sendo algo que dura o resto da vida.

Terapia com LSD: é possível?

Em 1947, pesquisadores perceberam uma similaridade entre os efeitos do LSD e sintomas de esquizofrenia, passando a utilizar a droga para estudos das psicoses em laboratório. Até 1966, ela também foi estudada em relação ao seu efeito em conjunto com a psicoterapia.

Devido a estes estudos, os pesquisadores perceberam que o ácido lisérgico poderia auxiliar na diminuição de sintomas de ansiedade relacionados a câncer terminal, alcoolismo, abuso de drogas e até mesmo depressão. Estes estudos levantaram a possibilidade da substância ter efeitos antidepressivos e ansiolíticos.

Contudo, devido a utilização recreativa da substância nas décadas de 60 e 70, o LSD rapidamente se tornou uma droga ilegal e pesquisadores tiveram complicações para conseguir acesso à substância e continuar estudando seus possíveis efeitos benéficos. Apenas nos anos 90 que as pesquisas com LSD voltaram a ser feitas.

De que maneira o LSD auxilia na terapia?

Um dos efeitos do LSD é o aumento da empatia e sensação de conexão com o outro, o que pode auxiliar na relação terapeuta-paciente, que é de extrema importância para o sucesso da terapia.

Ele também dificulta o reconhecido de emoções negativas no rosto de pessoas, o que pode ser bom e ruim. Para pacientes com ansiedade, por exemplo, ver outras pessoas expressando emoções negativas diante de determinada situação pode ser um gatilho para uma crise. Contudo, isso ainda é ruim pois, não sendo capaz de perceber emoções negativas nas outras pessoas, o indivíduo também pode não perceber situações de perigo, como quando alguém está bravo e pretende brigar com o indivíduo.

O LSD também dificulta a compreensão de emoções complexas e, portanto, pode atrapalhar um pouco a terapia, dependendo do foco do tratamento.

Ainda assim, a longo prazo e nas condições adequadas, o LSD traz alguns benefícios, como a diminuição de sentimentos de aflição e angústia, menores chances de desenvolver transtornos mentais e ideação suicida, aumento no otimismo e uma mente mais aberta para novidades.

Em quais transtornos o LSD pode ajudar?

Embora o LSD pareça ter muitos efeitos benéficos, ele não pode ser usada em todos os tipos de transtorno mental. Os transtornos que mais apresentaram resultados promissores foram:

  • Ansiedade em pacientes com doenças terminais;
  • Alcoolismo;
  • Dependência química;
  • Depressão unipolar.

LSD nas psicoses e esquizofrenia

Pessoas saudáveis que fazem o uso de LSD podem vivenciar sintomas psicóticos. E pessoas que já sofrem com algum transtorno psicótico?

Nesses casos, o uso da substância pode piorar os sintomas. Em pessoas que têm a predisposição para o desenvolvimento de esquizofrenia, por exemplo, o uso de LSD pode ser um gatilho para que o transtorno se manifeste.

Sendo assim, o uso de ácido lisérgico em pacientes com transtornos psicóticos pode ser muito prejudicial e, portanto, não deve ser usado como forma de terapia.

LSD e dependência

Tratando-se de uma droga de uso recreativo, é possível que haja abuso. A questão é: LSD causa dependência?

Muitas pessoas podem dizer que não, pois a substância não costuma causar dependência química de fato. No entanto, ela pode causar uma dependência psicológica, o que geralmente só acontece quando utilizada irrestritamente, ou seja, no contexto do abuso.

Caso seja usada como tratamento, por exemplo, os especialistas ajustam as doses de maneira que dificilmente seja capaz de causar uma dependência no paciente.

Embora não haja nenhuma previsão de um dia o LSD ser liberado como terapia, pesquisas nos mostram que os resultados são promissores. Contudo, mais pesquisas ainda devem ser feitas para que a substância seja considerada uma alternativa viável.

Se você acredita que está com sintomas de ansiedade, depressão ou sente que não está bem em geral, entre em contato com um psicólogo ou psiquiatra de sua confiança, pois somente estes profissionais podem indicar o tratamento mais adequado para o seu caso.

O LSD é substância proibida no Brasil e o Instituto de Psiquiatria do Paraná não encoraja o seu uso fora do ambiente controlado de pesquisa. As substâncias vendidas ilegalmente no país podem ser qualquer outra coisa devido à falta de controle.

Referências

Liecht, M. E. (2017). Modern Clinical Research on LSD. Neuropsychopharmacology, 42, p. 2114–2127. Disponível em https://www.nature.com/articles/npp201786, acesso em 22/02/2019.

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