Muito se fala sobre a possibilidade de algumas vacinas tomadas na infância causarem autismo, um transtorno mental que traz graves prejuízos para a pessoa em todas as esferas da vida.
No entanto, existem diversas evidências de que tais vacinas não tem nenhuma relação com o autismo e, mais recentemente, um novo estudo foi publicado para mostrar de uma vez por todas que a vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) não causa autismo.
Salvo em casos de contraindicações, a vacina tríplice viral é perfeitamente segura e seus efeitos colaterais, ainda que raros, são leves e não apresentam perigos.
O que é autismo?
O Transtorno de Espectro Autista (TEA) é um transtorno mental caracterizado por prejuízos na comunicação e na socialização, além de comportamentos restritivos e repetitivos. É considerado um transtorno de neurodesenvolvimento, embora suas causas não sejam muito bem estabelecidas.
O diagnóstico é geralmente feito ainda na infância quando em um grau mais severo, embora existam graus mais leves em que a pessoa consegue levar uma vida de qualidade, porém com diversas adversidades causadas pelo transtorno.
Pessoas com o grau mais leve podem acabar não sendo diagnosticadas antes da vida adulta, sendo vistas como tímidas, rudes e “esquizitas” por suas dificuldades na esfera social.
Em geral, as crianças com TEA demonstram os sinais bem cedo. A criança não estabelece contato visual com as outras pessoas, não utiliza a linguagem verbal e realiza gestos repetitivos e que podem parecer sem significado para o observador. No entanto, esse não é o caso de todas as crianças.
Existem algumas que possuem autismo de alto desempenho, o que indica que, mesmo com as dificuldades do transtorno, são pessoas que conseguem ter um desempenho satisfatório em várias esferas da vida. São pessoas que conseguem falar com mais facilidade, costumam ser inteligentes e ter interesses bem específicos, mas ainda apresentam dificuldades nas interações sociais.
Não raramente, os sintomas são mais graves durante a infância. Com tratamento precoce, pessoas com TEA podem desenvolver técnicas e habilidades para conviver mais facilmente com o transtorno.
A pesquisa
O estudo, publicado recentemente no Annals of Internal Medicine, é um dos maiores a respeito da vacina tríplice viral (MMR), que combate sarampo, rubéola e caxumba.
Foram analisados dados de todas as crianças de mães dinamarquesas nascidas na Dinamarca entre 1999 e 2010. De todas as 657.461 crianças, apenas 6.517 foram diagnosticadas com transtorno de espectro autista na década subsequente.
Entretanto, o achado importante foi de que não houve diferença no risco de autismo entre crianças que tomaram e crianças que não tomaram a vacina. Além disso, mesmo em crianças mais suscetíveis a desenvolver o transtorno, como crianças com irmãos diagnosticados com TEA, não houve aumento no risco de desenvolver o transtorno.
Como funciona a vacina?
O princípio de funcionamento da vacina é bem simples. O nosso sistema imunológico é “programado” para lutar contra qualquer corpo estranho que entre no nosso organismo. Este é o caso de vírus e bactérias.
Só que o corpo é tão inteligente que o sistema imunológico consegue lembrar dos vírus e bactérias, estando sempre preparado para futuras infecções. Desta forma, mesmo que você pegue o vírus novamente, ele não vai se manifestar (ou seja, você não vai ficar doente), pois o sistema imunológico já conseguiu acabar com a ameaça.
A vacina funciona justamente nesse sistema de defesa do corpo. Ela contém uma quantidade pequena do vírus enfraquecido, ou seja, não é o suficiente para causar a doença, mas o bastante para que o sistema imunológico aprenda sobre aquele vírus e crie suas defesas, evitando assim que o indivíduo fique doente caso entre em contato com o vírus no dia a dia.
Existem alguns vírus para os quais vacinas não fariam efeito, e isso se dá porque são vírus em que ocorrem mutações muito rapidamente. É o caso dos vírus que causam o resfriado comum. Não existe vacina para eles pois, como estão em constante mutação, o sistema imunológico não os reconhecem quando entram novamente no corpo.
A vacina tríplice viral (MMR)
Também conhecida como SRC, a vacina tríplice viral é aquela usada para combater infecções como sarampo, rubéola e caxumba, três doenças que costumam afetar mais gravemente as crianças.
Como qualquer medicamento e vacina, a tríplice viral possui alguns efeitos colaterais de sua aplicação. Estes efeitos são raros, não apresentam qualquer perigo em pacientes saudáveis e costumam aparecer entre o 5º e o 12º dia após a administração da vacina. Dentre os efeitos colaterais estão febre, rash cutâneo (aparição de manchas na pele), dores nas articulações e um leve inchaço na região do pescoço e mandíbula.
Vale lembrar que tudo isso vale apenas para indivíduos saudáveis. Algumas pessoas podem estar dentro de grupos para os quais a vacina é contraindicada. São eles: gestantes, pessoas com imunodeficiência, pessoas que fazem uso de medicamentos imunossupressores, pessoas com alergia a algum componente da vacina (ovo, neomicina e gelatina).
Perigos de não vacinar os filhos
Não vacinar os filhos pelo medo dos efeitos colaterais (ainda que estes não sejam verdadeiros, como no caso do autismo) pode ser muito perigoso. Isso porque, para começo de conversa, essas doenças põem em risco a vida das crianças.
Existe um motivo pelo qual as vacinas existem: protegê-las dessas doenças. Se isso não for feito e a criança estiver com o sistema imunológico fraco, por exemplo, ela pode não resistir.
Alguns pais tentam trocar a vacinação por óleos essenciais, mas não existe nenhuma comprovação de que estes óleos ajudam a prevenir doenças, especialmente doenças contagiosas nas quais basta entrar em contato com o vírus para pegar.
Além de prejudicar as próprias crianças, os pais que deixam de vacinar seus filhos põem em risco outras crianças que, por algum problema, não podem tomar a vacina, como é o caso de crianças imunodeprimidas. Para essas crianças, a dose de vírus contida na vacina seria o bastante para causar a doença, visto que seu sistema imunológico não consegue lutar contra ela.
A transmissão dessas doenças ocorre de pessoas para pessoas, ou seja, quanto mais pessoas portando o vírus, mais a doença será propagada. É justamente por isso que não vacinar seus filhos pode prejudicar, também, outras crianças.
Não é toa, portanto, que a falta de vacinação em crianças saudáveis pode acabar causando uma nova epidemia dessas doenças, trazendo sofrimento para diversas famílias.
Referências
Hviid, A.; Hansen, J. V. & Melbye, M. (2019). Measles, Mumps, Rubella Vaccination and Autism: A Nationwide Cohort Study. Ann Intern Med. doi: 10.7326/M18-2101