Metilfolato para depressão: o que é, é eficaz?

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A depressão é um transtorno muito prevalente e não é a toa que há sempre muitas pesquisas a respeito de novos medicamentos para lidar com os sintomas. Atualmente, muito se fala sobre o metilfolato, também conhecido como ácido fólico. Apesar das inúmeras pesquisas, será mesmo que essa substância é eficaz no tratamento de quadros depressivos? Continue lendo para saber mais!

O que é metilfolato?

O metilfolato é o resultado da metabolização do ácido fólico, uma vitamina do complexo B extremamente necessária para a vida humana, tendo em vista que ela atua no DNA e no RNA, auxiliando na produção de novas proteínas, no crescimento e na divisão celular. O ácido fólico é frequentemente recomendado durante a gravidez, pois déficits neste nutriente estão relacionados a malformações congênitas, como defeitos no tubo neural, que é a estrutura que dá origem ao cérebro no embrião.

Contudo, mesmo pessoas não grávidas precisam do metilfolato para manter a saúde em dia. Isso porque muitas pesquisas mostram que a falta do metilfolato está relacionada a alguns distúrbios psiquiátricos, como a depressão.

O metilfolato é frequentemente vendido na forma de suplemento, mas ele pode ser adquirido também pela ingestão de alimentos ricos em folato ou na suplementação de sua forma sintética (ácido fólico). Um adulto saudável deve ingerir cerca de 400 microgramas de vitamina B9 por dia, que é a vitamina que se torna metilfolato após a metabolização.

Como o metilfolato atua na depressão?

Como dito anteriormente, o metilfolato atua no DNA e no RNA, sendo um dos fatores contribuintes para a produção de neurotransmissores relacionados à regulação do humor, como a serotonina, a dopamina e a noradrenalina.

Os medicamentos mais frequentemente usados atuam melhorando a disponibilidade desses neurotransmissores através da inibição do sistema de recaptação. Para entender melhor, imagine que entre dois neurônios existe um espaço no qual trafegam substâncias químicas (neurotransmissores) para passar informações de um neurônio para o outro. Quando um neurônio quer passar uma informação, ele libera os neurotransmissores nesse espaço, e esse processo é conhecido como “sinapse”.

Contudo, às vezes, há uma sobra dessas substâncias nesse espaço (chamado de fenda sináptica), e o cérebro não pode deixar elas soltas ali, então o próprio neurônio que as enviou passa a recolhê-las. Isso é o sistema de recaptação. Os medicamentos mais frequentemente usados inibem esse recolhimento dos neurotransmissores não usados para que eles fiquem disponíveis por mais tempo para serem repassados ao outro neurônio. Dessa forma, os neurônios recebem mais serotonina, dopamina e noradrenalina, de forma a combater os sintomas da depressão.

Já o metilfolato age de forma diferente. Ele também aumenta disponibilidade de neurotransmissores, mas não atua no sistema de recaptação. O metilfolato aumenta a disponibilidade por aumentar a sintetização dos neurotransmissores, então a pessoa passa a ter mais neurotransmissores a serem repassados entre um neurônio e outro.

O metilfolato também atua na metilação de DNA, um processo importante para a diferenciação das células no nosso organismo. Além disso, no organismo existe uma enzima, a catecol o-metiltransferase (COMT), que leva à destruição de certos neurotransmissores, especialmente a dopamina. A síntese de COMT é regulada por esse processo de metilação, portanto, desequilíbrios nesse processo podem levar a uma grande quantidade dessa enzima no organismo, levando a uma menor disponibilidade de dopamina, o que causa sintomas como fadiga, apatia, desânimo, entre outros.

Metilfolato para depressão é eficaz?

Existem muitas pesquisas que demonstram a eficácia do metilfolato para o tratamento de sintomas depressivos. Contudo, apenas a suplementação não é o suficiente para que os resultados sejam alcançados. Frequentemente, é necessário realizar o tratamento convencional para depressão junto com a suplementação.

Um estudo, feito por Papakostas e colegas e publicado em 2012 no periódico científico The American Journal of Psychiatry, acompanhou o tratamento de 148 pacientes que apresentavam melhora parcial ou nenhuma melhora com o tratamento farmacológico convencional. Destes pacientes, um grupo recebeu metilfolato durante 60 dias, outro recebeu um placebo por 30 dias e, em seguida, metilfolato por 30 dias, e o último e terceiro grupo recebeu apenas placebo por 60 dias. Os pacientes que receberam metilfolato juntamente com medicamentos convencionais tiveram uma melhora significativa em relação àqueles que só tinham tomado os medicamentos convencionais junto com o placebo.

Esses mesmos resultados foram obtidos em diversos estudos, mostrando que, junto com a administração do tratamento farmacológico convencional, o metilfolato é eficaz na diminuição dos sintomas depressivos.

Quem precisa tomar metilfolato?

Nem todas as pessoas necessitam da suplementação de metilfolato para tratar a depressão. Tudo isso depende muito do caso — às vezes, a pessoa até produz os neurotransmissores em quantidade adequada, mas o problema está na recaptação desses neurotransmissores. Nestes casos, suplementar o metilfolato nem sempre é necessário.

Em geral, os psiquiatras costumam iniciar o tratamento com antidepressivos do tipo ISRS (inibidores seletivos da recaptação de serotonina). Contudo, pode ser que seja necessário fazer ajustes na medicação caso ela não faça o efeito esperado. Em alguns casos, é possível a prescrição de metilfolato já no início do tratamento para melhorar a resposta do antidepressivo.

Existem casos específicos em que a suplementação com o metilfolato é realmente indicada: casos em que há uma alteração genética na enzima metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR), responsável pela metabolização do metilfolato. Nesses casos, a pessoa têm uma deficiência no metilfolato causada por fatores genéticos, sendo necessária a suplementação. Essa suplementação não pode ser na forma de vitamina B9 ou ácido fólico, por exemplo, tendo em vista que, por conta da alteração na enzima MTHFR, a pessoa não consegue sintetizar o metilfolato em quantidades adequadas por si mesma, sendo necessária a suplementação do metilfolato em sua forma já sintetizada (L-metilfolato).

Ainda assim, mesmo pessoas que não possuem essa deficiência podem ser beneficiar do tratamento com o metilfolato. Isso porque ele auxilia no processo de metilação de DNA que, como visto anteriormente, ajuda na regulação da quantidade de dopamina disponível no organismo.

O metilfolato também pode ser indicado em casos em que a pessoa não tem alteração na enzima MTHFR, mas apresenta níveis baixos de metilfolato no organismo. A substância também pode ser indicada para casos de pacientes com esquizofrenia que também apresentam hiper-homocisteinemia, pois o metilfolato também auxilia nestes casos.

Efeitos adversos do metilfolato

Como toda medicação, o metilfolato pode causar alguns efeitos adversos. Atualmente, alguns efeitos adversos relatados com o uso do metilfolato são:

  • Agitação;
  • Ansiedade;
  • Insônia;
  • Cansaço.

A fim de evitar esses efeitos adversos, o psiquiatra poderá prescrever doses que aumentam progressivamente.

É importante ressaltar também que o metilfolato pode interagir com outros medicamentos  e substâncias que o paciente pode fazer o consumo, como é o caso de alguns medicamentos anticonvulsivantes, o álcool e o tabaco.

Dentre as diversas substâncias sendo pesquisadas para o tratamento da depressão, o metilfolato é uma das mais promissoras. Muitos dos pacientes com depressão têm dificuldades na sintetização de metilfolato, o que altera a disponibilidade dos principais neurotransmissores reguladores do humor.

Caso você sinta que está sofrendo com sintomas depressivos, não hesite em entrar em contato com um profissional da saúde mental!

Referências

Papakostas, G. I., Shelton, R. C., Zajecka, J. M., Etemad, B., Rickels, K., Clain, A., … Fava, M. (2012). l-Methylfolate as Adjunctive Therapy for SSRI-Resistant Major Depression: Results of Two Randomized, Double-Blind, Parallel-Sequential Trials. American Journal of Psychiatry, 169(12), 1267–1274. doi:10.1176/appi.ajp.2012.11071114

https://www.youtube.com/watch?v=wfgqPkWn8SU&feature=youtu.be

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