A ciência não pára de buscar técnicas e métodos para o tratamento de diversos problemas, inclusive os transtornos mentais.
Embora o uso de tratamentos clássicos como o uso de medicamentos psiquiátricos e a psicoterapia sejam protocolos bem estabelecidos, nem sempre essas opções são viáveis para todas as pessoas.
Uma outra maneira atualmente sendo investigada para o tratamento de uma série de transtornos é a neuromodulação. Atualmente, existem algumas técnicas aprovadas pela Anvisa para determinados transtornos e outras continuam sendo investigadas todos os dias.
Neste artigo, você irá entender o que é neuromodulação, como ela funciona e quais as técnicas de neuromodulação mais comuns.
O que é neuromodulação?
A neuromodulação pode ser definida como a alteração da atividade dos nervos por meio de estímulos direcionados a áreas neurológicas específicas do organismo. Em outras palavras, é como se estivéssemos dando um “empurrãozinho” para a atividade dos nervos funcionar adequadamente por meio de estímulos em áreas específicas do corpo. Por meio da neuromodulação, é possível restaurar funções ou diminuir sintomas que possuem uma base ou influência neurológica.
Atualmente, existem diversas técnicas de neuromodulação que auxiliam pacientes com problemas que não podem ser tratados por meio de medicamentos ou cirurgias. Por agir no sistema nervoso, a neuromodulação pode ser usada para tratar uma infinidade de problemas neurológicos e psiquiátricos, sendo que sua indicação depende muito da técnica utilizada e das necessidades do paciente.
Como a neuromodulação funciona?
O desempenho adequado do cérebro se dá pela ação dos nervos e do funcionamento correto das vias neurais. As vias neurais são como caminhos que levam informações de um conjunto de neurônios a outro conjunto de neurônios.
Muitas doenças e transtornos alteram o comportamento dos nervos e/ou prejudicam o funcionamento dessas vias neurais. Não se sabe exatamente se estes problemas são causados por essas alterações ou se essas alterações surgem em decorrência do desenvolvimento da enfermidade, mas as pesquisas mostram que, por meio da modulação destes nervos ou vias neurais, é possível diminuir os sintomas ou até mesmo recuperar funções perdidas por conta das alterações.
O que a neuromodulação faz, em suma, é alterar o funcionamento dos neurônios e melhorar o tráfego nas vias neuronais por meio de estímulos localizados. Estes estímulos podem ser pulsos magnéticos, correntes elétricas ou até mesmo estímulos químicos.
Quais são as técnicas mais comuns?
Algumas das técnicas mais estudadas de neuromodulação são:
Estimulação Magnética Transcraniana (EMTr)
Também conhecida como TMS pelo seu nome em inglês, Transcranial Magnetic Stimulation, a EMTr é uma técnica que utiliza pulsos magnéticos para gerar a neuromodulação. Trata-se de uma técnica não invasiva na qual o indivíduo se senta em uma cadeira especial, veste uma touca de borracha e uma bobina é colocada sobre sua cabeça.
Esta bobina é configurada pelo médico ou fisioterapeuta a aplicar a técnica. Quando o aparelho é ligado, são emitidos pulsos magnéticos que ultrapassam a barreira do crânio e conseguem agir no córtex cerebral, auxiliando na modulação das sinapses.
Para saber mais sobre a EMTr, como funciona, quais efeitos colaterais e tempo de tratamento, clique aqui.
Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC/tDCS)
A estimulação transcraniana por corrente contínua, ou transcranial direct current stimulation (tDCS) em inglês, se assemelha à EMTr em alguns aspectos, mas sua capacidade de neuromodulação está no uso de uma corrente elétrica de baixa amperagem (entre 1 e 3 mA). Ou seja, ao invés de usar pulsos magnéticos, esta técnica utiliza eletricidade.
O tratamento é feito por meio da aplicação de eletrodos diretamente no couro cabeludo, que emitem correntes elétricas contínuas. A técnica frequentemente é usada no tratamento da depressão, dores crônicas, zumbido no ouvido (tinitus), esquizofrenia e na reabilitação neurológica em casos de prejuízos na fala, na função motora e nas funções cognitivas após um acidente vascular cerebral (AVC).
Eletroconvulsoterapia (ECT)
Frequentemente vítima de más interpretações, a eletroconvulsoterapia é um dos tratamentos de neuromodulação mais antigos que existem atualmente. Por conta do seu uso de forma desenfreada e abusiva durante a década de 60, este procedimento ficou conhecido como um procedimento cruel, de tortura, e não uma alternativa terapêutica.
No entanto, trata-se de uma técnica que provoca convulsões controladas para ajudar o cérebro a reequilibrar o fluxo de neurotransmissores. Isso é feito por meio de uma corrente elétrica aplicada por meio de eletrodos, frequentemente posicionados nas têmporas do paciente. A técnica é aplicada com o paciente sedado e com monitoramento constante das suas funções vitais.
Infusão de quetamina
A quetamina é uma substância anestésica que pode ser usada no tratamento da depressão. Esta substância é frequentemente usada como droga de abuso, mas a sua infusão em um ambiente controlado com propósitos terapêuticos tem se mostrado eficaz para combater os sintomas da depressão, especialmente quando esta não responde aos tratamentos farmacológicos convencionais.
Não se sabe exatamente qual o mecanismo de ação que promove essa melhora dos sintomas depressivos, mas estima-se que a substância atue influenciando diversos neurotransmissores relacionados à depressão, como o glutamato, a noradrenalina e a dopamina. A infusão de quetamina é uma opção de neuromodulação química.
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Estimulação cerebral profunda (DBS)
A estimulação cerebral profunda, chamada em inglês de deep brain stimulation, é uma técnica de neuromodulação invasiva, ou seja, é necessário uma cirurgia para a aplicação desta técnica. Trata-se de uma téncica na qual são inseridos eletrodos em áreas específicas do cérebro. Estes eletrodos são conectados a um aparelho semelhante a um marca-passo que é capaz de controlar os estímulos enviados ao cérebro. A configuração do aparelho é feita por um médico especialista.
Este tipo de neuromodulação é usada no tratamento do mal de Parkinson, tremor essencial, distonia, epilepsia e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), quando estas condições não respondem adequadamente ao tratamento medicamentoso. É um último recurso de tratamento e os riscos e vantagens devem ser avaliados com cautela antes da decisão de optar por este tipo de tratamento.
Estimulação do nervo vago
A estimulação do nervo vago também é uma técnica invasiva, parecida com a DBS, mas desta vez os eletrodos são ligados ao nervo vago, e não ao cérebro. Portanto, não é necessária uma cirurgia cerebral.
O nervo vago é um dos principais nervos no corpo humano. Ele é a principal via que conecta os demais nervos ao cérebro. É também parte do sistema nervoso autônomo, que auxilia na regulação de funções do corpo que não podem ser controladas voluntariamente, como os batimentos cardíacos ou a respiração, por exemplo.
A estimulação do nervo vago consiste na aplicação de pulsos de energia elétrica de forma regular no nervo vago. Desta forma, ocorre uma neuromodulação capaz de prevenir convulsões, bem como auxiliar no alívio de sintomas da depressão e de dores crônicas.
Embora poucas pessoas saibam sobre as técnicas de neuromodulação, estes são tratamentos que estão se tornando cada vez mais disponíveis para aqueles que não respondem ou não podem realizar os tratamentos clássicos.
Se você tem dúvidas ou acredita estar precisando de ajuda especializada, não hesite em consultar um profissional da saúde mental!
Referências
https://www.mayoclinic.org/tests-procedures/deep-brain-stimulation/about/pac-20384562
https://www.epilepsy.com/learn/treating-seizures-and-epilepsy/devices/vagus-nerve-stimulation-vns
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/01/14/eletrochoque-tecnica-mudou-e-pode-tratar-depressao-ou-parou-no-tempo.htm