O ócio faz bem para o cérebro

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“Mente vazia é oficina do diabo”? Não necessariamente. Apesar de não parecer, ficar entediado e não fazer nada é bom para o cérebro, segundo a ciência.

O cérebro é um órgão que está trabalhando 100% do tempo. Mesmo quando estamos dormindo, o cérebro não para — ele continua percebendo e processando as informações, tanto aquelas que já adquirimos quanto as que estão sendo adquiridas no exato momento.

Ao longo do dia, absolutamente tudo que fazemos é comandado pelo cérebro, que está constantemente gerando ideias e pensamentos que acabam por não ser aproveitados, o que gera rejeitos que ficam “poluindo” o cérebro.

Durante o sono, com a consciência rebaixada, o cérebro pode focar em realizar uma “limpeza”, livrando-se daquilo que não é necessário e consolidando as memórias e informações importantes de se manter. Isso é tão importante que pessoas que dormem menos têm níveis mais altos de raiva, como se o próprio cérebro estivesse bravo que não conseguiu dormir o suficiente.

Esse momento de descanso permite uma organização das ideias de forma a melhorar a resolução de problemas, pensar melhor nas possibilidades, entre outras. Por isso, se você não está conseguindo resolver um problema, dormir pode ajudar a encontrar a solução.

Contudo, não apenas o sono pode trazer essa folga para este órgão. Na realidade, quando fazemos “nada”, o cérebro também pode se beneficiar. Isso porque, ao fazermos nada, o cérebro pode voltar sua energia para esses processos importantes que não recebem atenção quando estamos tentando fazer algo ativamente.

A criatividade, por exemplo, depende muito desses processos passivos e inconscientes que ocorrem na mente — não é a toa que as melhores ideias sempre vem em momentos de descanso, como durante o banho ou quando estamos quase dormindo.

Mesmo que não estejamos cientes, o cérebro está sempre tentando encontrar soluções para problemas e pensando em possibilidades. Porém, tudo isso ocorre de maneira inconsciente e, se tentarmos pensar ativamente, só iremos nos frustrar, uma vez que a energia que deveria estar sendo gasta nestes processos inconscientes está focada na consciência.

O sociólogo italiano Domenico de Masi já sabia disso ao propor o “ócio criativo”, um conceito que mostra a capacidade do ócio de ser produtivo. Na sociedade em que vivemos, entretanto, o ócio é confundido com preguiça e, portanto, é extremamente desvalorizado e desencorajado.

Aqueles que realizam trabalho intelectual, como pessoas que trabalham em escritórios por exemplo, precisam estar sempre fazendo alguma coisa — digitando, lendo, atendendo um telefonema, entre outros. Se a pessoa é vista apenas encarando a tela do computador, pensando, ela é tida como preguiçosa e pode até mesmo perder o emprego.

Contudo, isso não faz o menor sentido, uma vez que a maior parte do trabalho intelectual se resume a pensar. Portanto, às vezes é preciso deixar de fazer algo ativamente e deixar as ideias “cozinhando” na cabeça, nesses processos inconscientes, e permitir que os resultados dessas ideias possam emergir quando estiverem prontos.

Se você já teve que escrever um texto e se sentiu travado mesmo tendo todas as informações necessárias para escrevê-lo, resolveu se distrair um pouco da tarefa e de repente se sentiu inspirado e conseguiu escrever o texto, então você vivenciou na prática a capacidade criativa do ócio.

É como se o ócio fosse o freio da produtividade. Se o cérebro fosse como um motor de um carro, a produtividade ininterrupta faria com que esse motor fundisse, tornando-se inútil. Da mesma forma que precisamos frear o carro para evitar uma sobrecarga no motor, também precisamos frear a produtividade para evitar uma sobrecarga no cérebro.

Na Itália, existe uma expressão para isso: “il dolce far niente”, ou “a doçura de não fazer nada”. Essa expressão se refere a momentos em que estamos simplesmente “matando tempo”, sem fazer algo realmente produtivo, apenas existindo entre uma tarefa e outra. Embora pareça ruim, na realidade se trata de algo extremamente saudável.

Da mesma forma que a música precisa de pausas para que haja melodia, nossa rotina e produtividade precisam de pausas para que seja feito um bom trabalho.

Por isso, permita-se fazer nada, ficar entediado e descansar. Podem ser realizadas também atividades cujo propósito é “não fazer nada”, como meditação e yoga. Permita-se estar presente no momento, com exercícios de atenção plena (mindfulness), sem estar sendo produtivo. Seu cérebro e produtividade agradecem!

Não se culpe por não ser produtivo o tempo todo. Na realidade, isso é necessário para continuar sendo produtivo a longo prazo. Então, não se esqueça de se entediar com frequência!

Se você acredita estar com a saúde mental prejudicada, não hesite em contatar um profissional da saúde mental de confiança!

Referências

https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-right-mindset/202009/why-scientists-say-boredom-is-good-medicine-your-brain

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