O papel da microbiota nos transtornos mentais

Você sabia que a saúde intestinal pode influenciar nos sintomas de transtornos mentais? Compreenda melhor aqui!
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Muito se fala sobre a relação da saúde mental com a saúde do corpo. A sabedoria popular insiste na máxima do corpo são, mente sã, e em certos aspectos, isso pode ser verdade.

Embora a ideia de que uma alimentação saudável seja benéfica para a saúde mental possa parecer sabedoria popular, pesquisas mostram que existe uma validade científica neste pensamento. Ao longo de várias pesquisas, a comunidade científica percebeu que a microbiota intestinal pode ajudar significativamente no combate aos sintomas de transtornos mentais, em especial a depressão.

O que é a microbiota intestinal?

A microbiota intestinal pode ser definida como o conjunto de microrganismos que habitam de forma harmoniosa o trato gastrointestinal, como as famosas bactérias benéficas à saúde.

Uma microbiota bem equilibrada resulta em uma melhor saúde, pois tais microrganismos auxiliam no metabolismo, no sistema imunológico e até mesmo na produção de hormônios, enzimas e outros tipos de substâncias importantes para o bom funcionamento do organismo.

Dentre os fatores que causam alterações na microbiota intestinal estão fatores genéticos, o estado de saúde do organismo, uso de medicamentos antibióticos e hábitos alimentares. Quando a microbiota intestinal está em desequilíbrio, fala-se que ela está em disbiose.

Como o intestino influencia nos transtornos mentais?

Como dito anteriormente, a microbiota intestinal auxilia em uma série de funções importantes para o bom funcionamento do organismo. E, dentre essas funções, está a sintetização de neurotransmissores importantes para a manutenção da saúde mental.

Hoje em dia, sabe-se que grande parte da serotonina presente no corpo humano é sintetizada no intestino. A serotonina é um dos principais neurotransmissores reguladores do humor e do sono e, portanto, possui uma correlação significativa com diversos transtornos mentais, como a depressão e a ansiedade.

A interação entre o trato digestório e o cérebro dá origem ao que chamamos de eixo intestino-cérebro, um canal de comunicação bidirecional que transporta diversos tipos de células. Dentre elas, os neurotransmissores.

Além da serotonina, outros neurotransmissores que são sintetizados no intestino em grandes quantidades são a noradrenalina e a dopamina, que também são importantes na manutenção da saúde mental.

Como se não fosse o suficiente, a microbiota intestinal também influencia no eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), um outro canal de comunicação que regula a resposta ao estresse.

O estresse é uma resposta fisiológica a grandes cargas que o organismo sofre, sendo um dos fatores que possui maior relação com o desenvolvimento de diversos transtornos mentais.

Pesquisas mostram que, no caso de pessoas com transtornos mentais como a depressão, há alterações na microbiota intestinal nas quais os microrganismos predominantes são aqueles que não são benéficos, ou seja, não são as bactérias saudáveis de se ter no intestino.

Além disso, há uma menor diversidade microbiana, pois essas bactérias não tão benéficas acabam tomando o espaço de uma série de outras bactérias que seriam benéficas à saúde.

A quantidade de bactérias prejudiciais à saúde presentes no intestino de pessoas com depressão pode influenciar no surgimento de uma resposta imune que, por sua vez, causa mais estresse ao organismo, o que auxilia na manutenção de sintomas depressivos. Em outras palavras, trata-se de uma via de mão dupla.

Como esse conhecimento pode ajudar?

Embora não seja possível afirmar que alterações na microbiota intestinal causa transtornos como depressão e ansiedade, é evidente que existe uma correlação de grande importância entre esses dois fatores.

Por isso, cuidar da microbiota intestinal pode resultar em prevenção ou melhora de sintomas depressivos e/ou ansiosos. Isso pode ser feito por meio de uma alimentação saudável ou do consumo de probióticos e prebióticos. É importante ressaltar, no entanto, que tal consumo deve ser orientado por profissionais da área da nutrição e gastroenterologia.

Transplante de fezes

O transplante de microbiota fecal, também chamado de transplante de fezes, é um método que consiste na alteração da microbiota intestinal por meio da transferência de uma solução fecal de um doador saudável para um receptor em disbiose. 

Embora a técnica possa parecer desagradável, trata-se de uma alternativa que tem sido estudada nos casos em que outras soluções não dão bons resultados.

A ideia é que a microbiota saudável do doador possua microorganismos fortes o suficiente para combater os microorganismos prejudiciais presentes na microbiota do receptor, restabelecendo, então, o equilíbrio.

O transplante pode ser feito por meio da ingestão de cápsulas que contêm a solução fecal, por meio de endoscopia ou até mesmo através de um tubo que vai do nariz até o estômago ou intestino. Além disso, também é possível fazer o trajeto “de baixo para cima” por meio de enemas ou colonoscopia.

Além dos quadros de transtornos mentais, o transplante de fezes já é usado para o tratamento de infecção intestinal causado pela bactéria Clostridium difficile. Outras enfermidades que já foram tratadas por meio do transplante de fezes são a síndrome do intestino irritável, colite ulcerativa, HIV e até hepatite.

Contudo, no que tange a saúde mental, a técnica ainda está em estudos e, no Brasil, seu uso ainda não é regulamentado.

A saúde mental pode ser influenciada por diversos fatores, dentre eles a saúde física, em especial a microbiota intestinal. Uma boa alimentação pode ajudar a lidar com diversos sintomas, mas é importante ter em mente que um estilo de vida saudável não substitui uma avaliação profissional o acompanhamento de um profissional da saúde mental!

Referências

Kawashita, R. (2018). A influência da microbiota intestinal na saúde humana e a possível relação com transtornos mentais e comportamentais (Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São Paulo. Recuperado de https://repositorio.usp.br/directbitstream/fa37f6fa-4cb7-44b8-b9ac-ffb2956d75d8/2954958.pdfhttps://www.injq.com.br/single-post/saude-mental-microbiota-intestinal-cerebro-eixo-intestino
https://abran.org.br/2022/08/31/associacao-entre-a-composicao-da-microbiota-intestinal-e-os-transtornos-mentais/
https://istoe.com.br/transplante-de-fezes-pode-amenizar-sintomas-de-bipolaridade-afirmam-cientistas/

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