O que é Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS)? Como funciona?

Técnicas de neuromodulação podem ser uma revolução no tratamento de transtornos mentais, mas algumas precisam de mais evidências. Entenda!
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Hoje em dia, existem diversas alternativas para o tratamento de vários transtornos mentais. Dentre estas alternativas, estão as técnicas de neuromodulação, que também são diversas. Neste artigo, iremos abordar a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua, também conhecida como tDCS ou ETCC. Entenda!

O que é tDCS?

A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua, frequentemente abreviada para tDCS ou ETCC, é uma técnica de neuromodulação não-invasiva e indolor que consiste na aplicação de uma corrente elétrica contínua de baixa intensidade (de 1 a 3 mA) ao córtex cerebral.

Assim como as demais técnicas de neuromodulação, a tDCS funciona alterando o funcionamento de determinadas regiões do cérebro, na busca do alívio de sintomas dos transtornos mentais.

Há estudos que mostram que, em pessoas saudáveis, a tDCS também traz alterações significativas que podem melhorar o aprendizado e a produtividade. Contudo, não se trata de uma utilização muito difundida da técnica.

Como a tDCS funciona?

A tDCS funciona ao aplicar uma corrente anodal (positiva) ou catódica (negativa) em áreas específicas do cérebro por meio de eletrodos.

Durante a estimulação, a corrente elétrica flui pelos eletrodos, completando o circuito ao passar pelo cérebro. A corrente anodal positiva tende a facilitar a emissão dos comportamentos associados à região cerebral tratada, enquanto a corrente catódica negativa tende a inibir estes comportamentos.

Um conceito importante para compreender a tDCS é o potencial de ação, que é o quanto um neurônio precisa ser estimulado para conseguir disparar informações para outros neurônios.

A corrente usada na tDCS não é suficiente para alcançar esse potencial de ação, mas ela pode tornar mais fácil (ou mais difícil) de alcançar esse potencial.

Em outras palavras, é como se os neurônios estivessem prontos para mandar a informação adiante, e a corrente da tDCS dá um “empurrão” para que essas informações sejam passadas com mais facilidade, no caso de uma estimulação positiva. Já no caso de estimulação negativa, a corrente da tDCS dificulta alcançar esse potencial de ação, inibindo a passagem de informações.

Por fim, pode-se pensar na tDCS como uma reguladora da transmissão sináptica (transmissão de informação entre os neurônios), o que por sua vez também aumenta a plasticidade sináptica (capacidade de fortalecer ou enfraquecer sinapses específicas), que é a base da aprendizagem.

Para que a tDCS é indicada?

A tDCS é muito indicada para o tratamento de lesões neurológicas aliada à fisioterapia. Dentre as diversas condições que podem ser tratadas pela tDCS estão afasia (problemas de fala de ordem neurológica), epilepsia, dores crônicas (enxaqueca e fibromialgia) e reabilitação motora.

No entanto, no que tange o campo da psiquiatria, estão sendo realizados estudos para investigar a eficácia do tratamento por tDCS para as seguintes condições:

  • Depressão;
  • Esquizofrenia (alucinações auditivas e sintomas negativos);
  • Dependência química;
  • Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);
  • Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH);
  • Desenvolvimento da fala no transtorno do espectro autista (TEA).

Como é uma sessão de tDCS?

No início, são posicionados os eletrodos no couro cabeludo do paciente, conectados ao aparelho estimulador. O aparelho é configurado e então ligado. Cada sessão dura cerca de 30 minutos, sendo que podem ser feitas até 4 sessões ao dia, respeitando um intervalo de pelo menos 30 minutos entre cada sessão.

A aplicação é indolor, mas é comum que, durante a sessão, as pessoas sintam uma pequena coceira no couro cabeludo, bem como um pouco de calor. Não são sensações dolorosas e elas param assim que a estimulação para.

Quanto tempo dura o tratamento com tDCS?

Ainda não existe um protocolo exato de quantas sessões de tDCS são necessárias, mas a indicação inicial é de 15 a 30 sessões.

Vale ressaltar que, no caso de tratamentos de neuromodulação, a duração do tratamento vai depender da resposta do paciente, que deverá ser avaliada frequentemente pelos profissionais responsáveis pelo tratamento.

Quais os efeitos colaterais da tDCS?

No momento, as pesquisas a respeito dos efeitos colaterais da tDCS ainda estão sendo feitas. Contudo, até agora, foram reconhecidos alguns efeitos colaterais leves, geralmente restritos ao local dos eletrodos e de duração limitada.

Dentre estes efeitos colaterais estão:

  • Vermelhidão na pele;
  • Coceira;
  • Formigamento;
  • Dores de cabeça transitórias;
  • Náusea;
  • Tontura.

Se um eletrodo for colocado muito próximo de um olho, por exemplo, também é possível que o paciente se depare com um flash de luz forte, mas que não apresenta riscos.

Existem contraindicações à tDCS?

Por conta de ser uma técnica que utiliza correntes elétricas, as principais contraindicações estão relacionadas a condições que podem interferir nas correntes, tais como implantes cerebrais e/ou clipes metálicos próximos à região na qual a técnica será aplicada.

O IPPr oferece tDCS?

No momento, o Instituto de Psiquiatria do Paraná não oferece o tratamento por Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS).

Trata-se de uma modalidade de neuromodulação que ainda está sendo estudada e, até então, não há um nível bom de evidências da sua eficácia para o tratamento de transtornos psiquiátricos.

Vale ressaltar que a técnica também não é regulamentada para a psiquiatria no território brasileiro, fazendo com que o seu uso seja feito em caráter experimental.

Embora as técnicas de neuromodulação possam revolucionar os tratamentos neurológicos e psiquiátricos, nem todas as técnicas sendo estudadas atualmente possuem um nível de evidências satisfatório. Este é o caso da tDCS, que continua sendo realizada em caráter experimental nos Estados Unidos e Brasil, embora seja bem aceito na Europa.

Se você suspeita estar sofrendo de algum problema de ordem psicológica, não hesite em procurar ajuda com um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.hopkinsmedicine.org/psychiatry/specialty_areas/brain_stimulation/tdcs.html
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnins.2017.00641/full
https://neuromodec.org/what-is-transcranial-direct-current-stimulation-tdcs/
https://prosense.com.br/tratamentos-por-disfuncoes/estimulacao-eletrica-transcraniana/
https://www.sospsiquiatria.com/estimulacao-transcraniana.html
https://pebmed.com.br/a-evolucao-da-estimulacao-transcraniana-por-corrente-continua-chegamos-no-limite/
https://www.nemo.med.br/post/introducao-a-estimulacao-eletrica-transcraniana
https://vtmneurodiagnostico.com.br/tratamentos/estimulacao-transcraniana-por-corrente-continua-tscs-ou-etcc/

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