Você já ouviu falar que a serotonina é o neurotransmissor da felicidade? A verdade é que a serotonina é apenas um dos diversos neurotransmissores responsáveis pelo nosso bem-estar, ou seja, ela sozinha não é capaz de nos tornar pessoas felizes, embora tenha um papel crucial na regulação do nosso humor.
Um outro neurotransmissor bastante importante para o nosso bem-estar é o ácido gama-aminobutírico, também conhecido como GABA. Neste texto, falaremos mais sobre esse neurotransmissor, seu papel no sistema nervoso central e como ele pode nos ajudar a manter o bem-estar no dia-a-dia.
O que é GABA?
O ácido gama-aminobutírico (GABA) é o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central. Isso quer dizer que ele é responsável por desacelerar a atividade cerebral, como se fosse um freio diminuindo a velocidade da propagação das informações no cérebro.
Em outras palavras, o GABA diminui a capacidade de um neurônio de receber, criar ou enviar mensagens para outros neurônios.
Isso é importante porque atividade cerebral em excesso pode levar a problemas significativos, como distúrbios de sono e ansiedade, além de contribuir para sintomas depressivos. Em casos mais severos, a atividade cerebral excessiva pode gerar convulsões e neurotoxicidade.
O GABA é produzido e liberado por neurônios chamados gabaérgicos, e se liga a receptores em outros neurônios, tornando-os menos propensos a propagar o sinal elétrico responsável pela comunicação entre neurônios. Com isso, o GABA promove sensações de relaxamento e sono.
Em suma, o GABA é um neurotransmissor imprescindível para a manutenção do bem-estar e do equilíbrio no sistema nervoso central.
Impacto do GABA na cognição
O GABA não é importante apenas para manter o equilíbrio da atividade cerebral, mas também tem um impacto importante na cognição em si.
Quando o GABA é liberado no cérebro, ele diminui a excitação dos neurônios, desacelerando a propagação de informações. Esse processo gera sensação de relaxamento e pode auxiliar na concentração.
Estudos mostram que, nas partes do cérebro relacionadas à tomada de decisão, concentrações maiores de GABA estão associadas a um melhor desempenho cognitivo em adultos. Além disso, o GABA está associado a:
- Melhora na qualidade do sono;
- Diminuição da insônia;
- Efeitos antidepressivos;
- Diminuição da ansiedade;
- Sensação de tranquilidade e relaxamento;
- Melhoras na memória de longo prazo.
GABA e glutamato: qual a relação?
O glutamato é outro neurotransmissor importante no sistema nervoso central, sendo o principal neurotransmissor excitatório em nosso organismo. Em outras palavras, ele tem ação oposta ao GABA, aumentando a atividade cerebral.
Os dois neurotransmissores são igualmente importantes para manter o equilíbrio da atividade cerebral, agindo como um botão de “liga/desliga”.
Além disso, o próprio glutamato é um precursor do GABA, ou seja, ele é um dos ingredientes necessários para que o organismo produza o GABA. Isso ocorre através da ação de uma enzima chamada “glutamato descarboxilase”.

Transtornos relacionados ao GABA
Os transtornos mentais são complexos e não se pode dizer que são causados apenas por um desequilíbrio químico no cérebro. No entanto, sabe-se que os neurotransmissores são cruciais na manutenção e no combate dos sintomas de diversos transtornos mentais.
Os principais transtornos mentais nos quais há indícios de desequilíbrio dos níveis de GABA são:
- Transtornos ansiosos;
- Transtornos de humor, como depressão e transtorno bipolar;
- Esquizofrenia;
- Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Além disso, desequilíbrios no GABA também estão relacionados a outras enfermidades que não são transtornos mentais, como a doença de Huntington.
Medicamentos que atuam no GABA
Em geral, os medicamentos que atuam no GABA atuam nos receptores deste neurotransmissor, ajudando o GABA a se ligar mais facilmente ao neurônio.
Estes medicamentos costumam ser usados para tratar quadros severos de ansiedade, quadros de epilepsia, distúrbios de sono, abstinência de álcool, entre outros. Também podem ser usados na anestesia cirúrgica.
Os medicamentos mais conhecidos que atuam no GABA são:
- Benzodiazepínicos, como diazepam, alprazolam, entre outros;
- Barbitúricos, que são medicamentos sedativos;
- Ácido valproico, usado como estabilizador de humor e antiepiléptico;
- Zolpidem, um medicamento usado para indução do sono;
- Propofol, substância usada na anestesia geral para procedimentos cirúrgicos;
- Baclofeno, um relaxante muscular.
Riscos associados ao tratamento com medicamentos
Os medicamentos que atuam no GABA podem trazer efeitos colaterais e riscos bastante significativos.
Benzodiazepínicos e barbitúricos são medicamentos “tarja preta”, ou seja, substâncias que podem levar a pessoa a desenvolver tolerância e causar dependência.
Além disso, o uso desses medicamentos com outras substâncias depressoras do sistema nervoso central, como o álcool e medicamentos antihistamínicos, pode levar a sedação e até mesmo ao óbito.
Medicamentos análogos
Além dos medicamentos que agem diretamente nos receptores do GABA, há também medicamentos que tentam mimetizar os efeitos do GABA no organismo. São os chamados medicamentos análogos. Estes medicamentos são usados para tratar problemas como fibromialgia, neuropatias, síndrome das pernas inquietas e epilepsia.
Os principais medicamentos análogos ao GABA são a gabapentina, a pregabalina e o acamprosato (usado no tratamento do alcoolismo).
Como melhorar a disponibilidade do GABA
Embora existam medicamentos que atuam para melhorar a disponibilidade de GABA no sistema nervoso central, grande parte das pessoas não apresenta quadros prejudiciais o suficiente para justificar o seu uso, uma vez que são medicamentos com um potencial de efeitos colaterais bastante complexo.
Felizmente, é possível melhorar a disponibilidade do GABA através da alimentação, diminuindo consideravelmente os riscos associados ao uso de medicamentos. Pessoas que apresentam uma tendência a sentimentos ansiosos sem que estes se tornem um transtorno de fato podem se beneficiar de uma dieta rica em alimentos que estimulam o GABA naturalmente.
Dentre estes alimentos estão o chá verde, o maracujá, o chá de camomila, bem como alimentos ricos em magnésio, como espinafre, amêndoas, banana, e alimentos fermentados, como kefir, chucrute, entre outros.
Além da alimentação, o GABA também pode ter sua disponibilidade melhorada por meio de práticas de relaxamento. Buscar atividades relaxantes, praticar mindfulness e exercícios de respiração são grandes aliados da disponibilidade deste neurotransmissor.
Suplementos de GABA
Atualmente, existem também suplementos alimentares que prometem aumentar a disponibilidade do GABA no sistema nervoso central.
No entanto, é importante ressaltar que não há muitas evidências de que esses suplementos realmente funcionam. Mais estudos são necessários para se chegar a uma conclusão.

Diversos neurotransmissores trabalham para manter o equilíbrio da atividade cerebral, garantindo bem-estar e saúde mental. No entanto, nem sempre tudo está funcionando como deveria e acabamos desenvolvendo sintomas que prejudicam nossa qualidade de vida.
Neste texto, você entendeu um pouco melhor sobre o papel do GABA no cérebro e na saúde mental. Se você acredita estar lidando com problemas emocionais ou psiquiátricos como sintomas ansiosos ou depressivos, não hesite em buscar ajuda com um profissional da saúde mental!
Referências
https://www.medicalnewstoday.com/articles/326847
https://my.clevelandclinic.org/health/articles/22857-gamma-aminobutyric-acid-gaba
https://www.physio-pedia.com/GABA
https://www.psychologytoday.com/us/blog/click-here-for-happiness/202312/why-gaba-is-important-for-well-being