A relação entre paciente e terapeuta geralmente tem uma influência muito grande sobre o processo terapêutico como um todo, e isso vale tanto para as consultas psiquiátricas quanto para a psicoterapia.
É neste sentido que aparece o conceito de rapport, que caracteriza um tipo de relação que aumenta as chances de sucesso do processo terapêutico.
Neste texto, falaremos sobre o que é rapport, como ele pode ser construído e quais as opções quando o rapport não é bem feito com um determinado profissional.
O que é rapport?
De acordo com a American Psychological Association, o rapport é uma relação de compreensão mútua, aceitação e compatibilidade entre terapeuta e paciente. Dentro da psicologia e da comunicação, fala-se em “construir rapport” como o processo de desenvolver essa relação de forma mais calorosa e descontraída.
Apesar de focarmos, neste texto, no rapport entre profissionais da saúde mental e pacientes, é importante ressaltar que o rapport pode ser desenvolvido em diversos contextos diferentes, como relacionamentos interpessoais, vendas e negociações, reuniões, entrevistas de emprego, entre outros.
Quando existe um rapport bem estabelecido, a comunicação flui de forma natural e todas as pessoas envolvidas se sentem à vontade.
Entende-se que os profissionais da saúde mental são responsáveis por abrir caminho para o estabelecimento do rapport, mas é importante ressaltar que o rapport é construído pelas duas partes, ou seja, o paciente também precisa fazer sua parte para que ele seja estabelecido adequadamente.
No entanto, nem sempre é possível estabelecer rapport entre paciente e terapeuta. Isso não significa necessariamente que o profissional é ruim, porque questões como diferenças no estilo de comunicação, na visão de mundo, entre outros, podem influenciar na formação desse laço.
Da mesma forma, um bom rapport não significa necessariamente que é um bom profissional, pois além de cultivar uma boa relação terapeuta-paciente, o terapeuta deve continuar mantendo o olhar clínico e seguir utilizando boas práticas clínicas para que o tratamento seja efetivo.
O que compõe o rapport?
O rapport é composto por algumas atitudes específicas que costumam partir do profissional, mas que podem ser tomadas pelo paciente também.
Em termos práticos, essas atitudes são:
- Escuta ativa: Prestar atenção genuína ao que o outro diz;
- Abordagem humanista: Ênfase no que há de único em cada pessoa;
- Espelhamento (mirror): Reproduzir sutilmente a linguagem corporal, tom de voz ou ritmo da fala da outra pessoa, o que ajuda a criar sintonia de forma inconsciente;
- Empatia: Demonstrar compreensão dos sentimentos e perspectivas do outro;
- Respeito mútuo: Valorizar o que o outro tem a dizer, mesmo que haja discordância.
Qual a importância do rapport nos tratamentos em saúde mental?
Nos tratamentos em saúde mental, o estabelecimento do rapport é extremamente importante para que o tratamento seja efetivo. Isso porque o rapport:
- Cria um ambiente seguro, fazendo o paciente se sentir mais à vontade para se abrir;
- Favorece a confiança;
- Aumenta a adesão ao tratamento;
- Reduz a resistência, ou seja, o paciente tende a colaborar mais com o processo terapêutico.
O rapport é um dos fatores pelos quais às vezes a terapia dá muito certo ou simplesmente não vai pra frente. Sem um bom rapport, o processo terapêutico pode ser prejudicado, pois aumenta as chances de um paciente resistir ao tratamento ou hesitar em contar detalhes importantes mas que podem ser alvo de julgamentos, por exemplo.
Isso não significa que estabelecer um bom rapport é garantia de um bom processo, até porque existem outros fatores envolvidos que podem alterar significativamente a eficácia do tratamento. No entanto, sem um bom rapport, é muito difícil que o processo seja proveitoso de fato.
Complicações relacionadas ao rapport
Como dito anteriormente, ter um bom rapport com o profissional de saúde mental é importante, mas isso não significa que é o suficiente. Às vezes, o paciente gosta bastante do profissional, mas os tratamentos passados podem não ser efetivos para o paciente em questão.
É claro que nem sempre dá pra acertar o tratamento que será mais efetivo de primeira, mas se o profissional não está bem informado ou possui pouca experiência com casos parecidos, o tratamento pode ser defasado mesmo que haja um bom rapport.
O problema é que, nesses casos, muitas pessoas têm dificuldade em ir atrás de outro médico ou terapeuta por conta do apego que cria ao profissional.
Neste sentido, é importante construir um rapport não dependente. Os profissionais da saúde mental precisam estar atentos para sinais de dependência na relação entre paciente e terapeuta, trabalhando para estabelecer limites e elevar a autonomia do paciente em relação ao seu próprio tratamento.

Sugestões para estabelecer rapport
Algumas sugestões de ações que podem ajudar na construção de rapport, especialmente da parte do profissional, são:
- Deixar o ego de lado, no sentido de entender que aquela relação é mais importante do que o próprio orgulho;
- Evitar julgamentos;
- Manter um sentimento de calma ao invés de reagir de forma defensiva;
- Pedir a opinião da outra pessoa, mesmo que você sinta com certeza que está certo;
- Ter paciência;
- Evitar comportamentos que podem causar sensação de humilhação para a outra pessoa, como por exemplo apontar defeitos;
- Demonstrar interesse e preocupação genuína com os sentimentos da outra pessoa;
- Ajudar a pessoa a encontrar maneiras de se sentir confortável;
- Usar pistas não verbais que sinalizam abertura e compreensão, como olhar nos olhos, manter uma postura adequada porém relaxada, manter um tom de voz ameno, entre outros;
- Jogar conversa fora para quebrar o gelo, mesmo que pareça perda de tempo da sessão por não ser um tempo usado com técnicas terapêuticas de fato;
- Apresentar um bom senso de humor quando apropriado;
- Agir de forma empática e compassiva, especialmente em momentos de tensão emocional;
- Tratar o paciente como um parceiro ou colaborador ativo no processo de tratamento;
- Ajudar o paciente a desenvolver um senso de autoeficácia (ou seja, ajudar o paciente a sentir que é capaz);
- Prestar atenção nas pistas não verbais do paciente;
- Evitar ao máximo distrações e interrupções durante as sessões;
- Dar preferência para afirmações positivas;
- Esclarecer questões como o sigilo terapêutico;
- Evitar jargões técnicos em momentos nos quais eles não são necessários;
- Validar as emoções do paciente;
- Promover feedback por meio de paráfrases, questionamentos ou resumos do que foi dito;
- Dar ênfase às qualidades ao invés dos defeitos, sem necessariamente negligenciá-los;
- Estabelecer limites e expectativas apropriadas, lembrando o paciente que se trata de um processo, que é necessário a sua colaboração e que a relação terapêutica acabe sendo uma relação de intimidade em alguns aspectos, ela continua sendo uma relação terapêutica e não uma relação de amizade.
O que fazer se não é possível estabelecer rapport?
Se você se encontra em processo terapêutico, seja com psicoterapia ou com acompanhamento psiquiátrico, e sente que não existe um bom rapport entre você e o profissional, aqui vão algumas dicas:
Reflita sobre como você contribui para o rapport
Embora o rapport deva ser facilitado pelo profissional, às vezes ele pode não se estabelecer direito por questões do próprio paciente, como por exemplo dificuldades em confiar e se abrir para as pessoas. Neste caso, o rapport fica bastante comprometido, mesmo que o profissional esteja fazendo o seu melhor. É importante, ao menos inicialmente, dar o benefício da dúvida ao profissional.
Claro que, às vezes, procuramos terapia justamente para tratar as questões que prejudicam a construção do rapport com o terapeuta. Contudo, vale lembrar que apenas comparecer à terapia não vai resolver o problema por si só, sendo necessário esforço da parte do paciente, e por que não começar dentro da própria relação terapêutica?
Mesmo que seja difícil confiar e se abrir para alguém, esta é a única maneira que o profissional de saúde mental poderá exercer seu trabalho. Em outras palavras, é necessário que o paciente esteja disposto a passar por esse desconforto a fim de construir uma boa relação e alcançar os resultados pretendidos.
Buscar outro profissional
Por mais que possa ser desagradável ter que contar toda a sua história para uma nova pessoa e tentar fazê-la te entender, pode ser que valha mais a pena buscar um novo profissional do que continuar com um profissional com quem você não tem uma boa relação.
Neste sentido, é possível ver as relações terapêuticas como relacionamentos mesmo. Se não está bom, por que continuar? Mesmo que o terapeuta seja muito bem instruído, tenha diversos diplomas e saiba muito sobre sua condição, se você não sente que pode confiar nele, não consegue se abrir com ele etc., talvez esse processo não vá muito longe.
Por isso, buscar um novo profissional pode ser uma boa ideia, mesmo que seja um processo de tentativa e erro.

Agora que você sabe o que é rapport, talvez entenda porque, às vezes, as pessoas dizem que a terapia não serve para elas, sendo que tentaram apenas com um terapeuta. Existe uma grande chance da relação terapêutica não ter sido bem estabelecida e, por isso, a pessoa acabou desistindo.
Se você percebe que está lidando com questões psicológicas e tem medo de ter más experiências, não desista de buscar novos profissionais caso encontre algum que não seja tão compatível com você. Da mesma forma, se você já passou por algum processo do tipo e não sentiu que te ajudou, pode ser que o problema tenha sido a falta de um bom rapport, e seria interessante tentar novamente.
De qualquer forma, ao sentir que está enfrentando problemas emocionais ou psicológicos, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!
Referências
https://dictionary.apa.org/rapport
https://www.verywellmind.com/therapeutic-rapport-2671659
https://www.psychiatrictimes.com/view/strategies-for-building-patient-rapport
https://concept.paloaltou.edu/resources/business-of-practice-blog/building-strong-rapport
https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-heart-of-healing/202206/the-importance-of-rapport