Obesidade, hormônios e transtornos mentais: qual a relação?

Obesidade aumenta os riscos de desenvolver uma série de enfermidades, incluindo transtornos mentais. Saiba mais aqui!
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A obesidade é uma condição na qual existe um acúmulo de gordura no organismo. Ela é dividida em três graus, e cada grau apresenta mais riscos para a saúde como um todo. Essa condição é conhecida por aumentar os riscos do desenvolvimento de problemas cardíacos, bem como problemas metabólicos.

Duas em cada 5 pessoas que sofrem de obesidade são também diagnosticadas com algum transtorno mental. Os transtornos mais comuns nessa população são transtornos de humor (depressão, transtorno bipolar), transtornos ansiosos, transtornos no espectro da psicose e transtornos alimentares. Estima-se que, por questões culturais, as mulheres sejam diagnosticadas com depressão com mais frequência do que os homens.

Pessoas que sofrem de obesidade podem acabar desenvolvendo quadros psiquiátricos por inúmeros fatores, a considerar fatores psicológicos como problemas de autoestima e autoimagem, fatores sociais, entre outros. A obesidade também tem como comorbidade frequente a insônia, que costuma aumentar significativamente as chances de desenvolver um transtorno de humor.

No entanto, há pesquisas que mostram também que existe uma certa relação entre a obesidade, os hormônios em circulação no organismo e o desenvolvimento de transtornos mentais!

O que são hormônios?

Hormônios são os mensageiros químicos do corpo, ou seja, são substâncias que têm como objetivo sinalizar certas condições às células. Os hormônios são produzidos por glândulas endócrinas e trabalham de forma sistêmica para ajudar a manter o organismo em equilíbrio.

Alguns exemplos de hormônios bastante conhecidos são a insulina, a adrenalina e a ocitocina. Também é comum ouvirmos falar dos hormônios sexuais, como a testosterona e o estrogênio.

Frequentemente pessoas com obesidade possuem algum tipo de alteração em alguns hormônios, em especial a insulina, o cortisol, a leptina, a adiponectina e a resistina. Dentre estes, os mais popularmente conhecidos são a insulina e o cortisol.

Insulina

A insulina é um hormônio que ajuda no transporte do açúcar, fazendo com que este deixe a corrente sanguínea e adentre as células do corpo. Isso ocorre para que as células tenham energia.

Sabe-se que pessoas com obesidade têm mais chances de desenvolver diabetes, uma enfermidade na qual o corpo não produz insulina o suficiente ou, alternativamente, a insulina produzida não funciona de forma adequada, fazendo com que haja grandes concentrações de açúcar na corrente sanguínea, o que pode acarretar sérios problemas a longo prazo.

Cortisol

O cortisol é conhecido como o “hormônio do estresse”, pois possui forte ligação à resposta de estresse do organismo. No entanto, este hormônio não é liberado apenas quando passamos por situações estressantes.

Na realidade, ele é liberado diariamente na corrente sanguínea, pois possui uma série de funções, como: ajuda a manter o estado de vigília, ação anti-inflamatória, auxilia na formação de memórias, ajuda na resposta de luta ou fuga e até mesmo pode substituir a insulina fazendo a manutenção dos níveis de açúcar no sangue em alguns casos.

Sendo assim, o cortisol não é necessariamente um hormônio vilão que deve ser eliminado. No entanto, altos níveis de cortisol em momentos inadequados estão relacionados a estresse crônico e sintomas depressivos e ansiosos.

Qual a relação entre os hormônios e a saúde mental?

É fato que muitos fatores podem influenciar na saúde mental, e os hormônios também são um destes fatores. Pesquisas mostram que alterações nos níveis de insulina, cortisol, leptina, adiponectina e resistina possuem ligação com o aparecimento de sintomas depressivos e ansiosos.

Pessoas com obesidade frequentemente apresentam um quadro chamado síndrome metabólica, no qual ocorrem alterações significativas na insulina e nos níveis de cortisol. Quando essa síndrome ocorre, a pessoa tende a ter uma resistência à insulina, mesmo que seu organismo a produza de forma adequada. A síndrome aumenta os riscos de uma pessoa desenvolver doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes.

Níveis mais altos de cortisol estão ligados à presença de sintomas depressivos e ansiosos mesmo em pessoas com peso saudável ou que não possuem síndrome metabólica. Portanto, entende-se que, em alguns casos, o aumento nos níveis de cortisol, em especial por conta da síndrome, também pode contribuir para o surgimento destes sintomas.

Vale ressaltar que a síndrome metabólica é um fator de risco para a depressão, mas o contrário também é verdadeiro. Em outras palavras, a depressão também aumenta as chances de uma pessoa desenvolver síndrome metabólica, evidenciando uma relação mútua entre as condições.

Como usar essa informação para manter a saúde em dia?

Agora que você sabe que o metabolismo pode influenciar a saúde mental, é interessante pensar de que formas essa informação pode ser usada para tratar tanto problemas de sobrepeso quanto transtornos mentais.

Geralmente, o tratamento do sobrepeso é feito por meio de dieta e exercícios físicos. No entanto, uma depressão não tratada pode ser debilitante a ponto de impedir que a pessoa leve uma vida funcional, o que diminui as chances da pessoa conseguir seguir o tratamento de forma adequada.

Considerando que a obesidade pode aumentar significativamente as chances de uma pessoa desenvolver transtornos mentais, fica evidente a necessidade de acompanhamento por profissional da saúde mental nesses casos.

A alimentação também é um fator bastante importante no tratamento, tanto da obesidade quanto de transtornos mentais. Embora nem todas as pessoas que desenvolvem obesidade tenham uma dieta não saudável, é comum que pessoas que sofrem de depressão e outros transtornos mentais acabem desenvolvendo hábitos alimentares prejudiciais, consumindo muitos alimentos ricos em gorduras saturadas e açúcares que, além de aumentar o peso, possuem propriedades inflamatórias que podem atingir o sistema nervoso central, contribuindo para o surgimento e manutenção de sintomas psiquiátricos.

O tratamento da obesidade, então, deve ser feito de forma interdisciplinar, com o acompanhamento de médicos, nutricionistas, endocrinologistas e profissionais da saúde mental como psiquiatras e psicólogos.

Por fim, vale ressaltar que alguns medicamentos psiquiátricos usados para tratar a depressão frequentemente tem como efeito colateral mudanças no apetite e alterações de peso. Caso isso aconteça com uma pessoa que está tratando obesidade, é importante conversar com o médico psiquiatra para rever as medicações e as dosagens a fim de evitar esses efeitos colaterais.

Vale ressaltar que nem todas as pessoas com obesidade possuem alterações metabólicas e, nesses casos, não é possível traçar uma relação entre sintomas psiquiátricos e metabolismo. No entanto, mesmo pessoas com obesidade que possuem um metabolismo saudável ainda têm maiores chances de desenvolver um transtorno mental quando comparadas a pessoas com peso saudável e sem alterações metabólicas.

Se você está lidando com sobrepeso e sente que pode estar tendo sintomas psiquiátricos, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1043276021002411
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3791387/
https://hqlo.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12955-022-01974-2
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fendo.2021.769309/full
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1871402118302820

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