Riscos dos Benzodiazepínicos no Transtorno de Estresse Pós-Traumático

O estresse pós-traumático pode ser tratado de diversas formas, mas alguns calmantes podem piorar o quadro. Entenda melhor aqui!
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O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) surge após um evento traumático e é caracterizado por sintomas ansiosos bastante intensos, hipervigilância, flashbacks, pesadelos, entre outros.

O tratamento costuma ser feito com psicoterapia e medicamentos psiquiátricos, em especial aqueles que atuam nos sintomas ansiosos. No entanto, há uma classe de medicamentos ansiolíticos que é contraindicada para o tratamento de TEPT: os benzodiazepínicos. Entenda melhor sobre esses medicamentos e os riscos associados quando são usados no estresse pós-traumático.

O que são benzodiazepínicos?

Os benzodiazepínicos são uma classe de medicamentos psiquiátricos com efeito sedativo, popularmente conhecidos como “calmantes”. Em geral, seu uso é feito para combater quadros de ansiedade grave, como no caso do transtorno do pânico. Também são bastante usados no tratamento de insônia, crises convulsivas e de abstinência de bebidas alcoólicas.

Estes medicamentos também são popularmente conhecidos pela presença da tarja preta, que indica que a substância tem grande potencial de adicção. Em outras palavras, pessoas que usam benzodiazepínicos podem desenvolver tolerância (necessidade de dosagens cada vez maiores) e vício.

A ação dos benzodiazepínicos se resume a diminuição da atividade cerebral, provocando efeitos de relaxamento e sedação. Estes medicamentos foram desenvolvidos na década de 60 e continuam sendo usados em larga escala até os dias de hoje, mesmo existindo alternativas mais seguras.

Em geral, o tratamento com benzodiazepínicos é feito por tempo limitado, não sendo um tratamento contínuo por muitos meses ou anos, justamente para evitar quadros de adicção e tolerância. Quando a pessoa termina o tratamento, é feito o desmame, ou seja, a retirada gradativa do medicamento, a fim de evitar síndrome de abstinência.

Por ser um medicamento de efeito sedativo, é recomendado que não se opere máquinas durante o tratamento, considerando que a sedação aumenta a tendência a acidentes. Além disso, os medicamentos benzodiazepínicos não devem ser misturados com outros medicamentos e substâncias sedativas, como o álcool, pois essa combinação pode levar a uma overdose potencialmente fatal.

Para obter esses medicamentos, é necessário prescrição médica, que é feita por meio de uma receita controlada. O medicamento não pode ser vendido em hipótese alguma sem a receita e sem que os dados do paciente estejam registrados no sistema da farmácia.

Contudo, ainda assim, existem pessoas que conseguem a medicação por meios ilegais ou até mesmo pegam de parentes e amigos que fazem o uso desses medicamentos, podendo fazer uso indiscriminado e sofrendo diversos efeitos adversos, incluindo prejuízos cognitivos.

Dentre os principais benzodiazepínicos disponíveis no mercado atualmente estão alprazolam, clonazepam, diazepam e lorazepam.

Os benzodiazepínicos no TEPT: quais os riscos?

O transtorno de estresse pós-traumático é caracterizado por um aumento considerável da vigília e dos níveis de ansiedade depois de um evento traumático, podendo ocorrer também flashbacks.

Por ser um transtorno que traz consigo altos níveis de ansiedade, é de se imaginar que o tratamento possa ser feito com benzodiazepínicos. No entanto, pesquisas e meta-análises mostram que esses medicamentos têm um efeito potencialmente prejudicial nos casos de TEPT.

A prescrição de benzodiazepínicos para TEPT costuma ser feita por conta de sintomas como ansiedade, insônia e irritabilidade. Contudo, há pesquisadores e profissionais que acreditam que o uso dessa medicação pode até mesmo piorar esses sintomas e prolongar o tempo de tratamento do transtorno.

De acordo com um estudo publicado no periódico científico Journal of Psychiatric Practice em 2015, o uso de benzodiazepínicos para tratamento de TEPT se mostra ineficaz, não trazendo melhoras aos pacientes ou até mesmo estando relacionado à piora do quadro.

Uso de benzodiazepínicos aumenta o risco de desenvolver TEPT

Neste mesmo estudo, percebeu-se que, em pessoas que sofreram trauma recente, o uso de benzodiazepínicos na realidade aumenta em 2 a 5 vezes as chances dessas pessoas desenvolverem um quadro de estresse pós-traumático.

Essa informação é de extrema importância pois é comum que as pessoas associem traumas recentes ao uso de calmantes. A título de exemplo, quando um familiar de uma pessoa que toma um benzodiazepínico sofre um acidente, é relativamente comum que a pessoa dê a medicação ao acidentado indevidamente para acalmá-lo. No entanto, segundo as pesquisas, esse gesto de “cuidado” chega a aumentar as chances da pessoa desenvolver TEPT.

Por que isso acontece?

Embora não hajam explicações concretas do porquê desse efeito dos benzodiazepínicos, estima-se que o problema esteja relacionado à memória.

Em geral, os benzodiazepínicos provocam alterações na memória como efeito colateral. No entanto, uma das coisas mais importantes para trabalhar os sintomas do TEPT e lidar com eventos traumáticos é justamente a memória.

Há hipóteses de que o trauma surge como um erro no registro da memória, o que explicaria também os flashbacks, fazendo com que a pessoa “reviva” o ocorrido numa tentativa do cérebro registrar corretamente dessa vez.

Por conta disso, usar uma medicação que prejudica a formação de memórias como os benzodiazepínicos pode acabar trazendo prejuízos a todo esse processo, piorando os sintomas do TEPT e mantendo-os por mais tempo.

O medicamento também pode atrapalhar os avanços feitos em psicoterapia, considerando esse mesmo problema de formação e retenção de memórias.

Além disso, o medicamento também pode acabar sendo usado como uma tentativa de escape das emoções causadas pelo trauma, fazendo com que a pessoa nunca consiga processá-las adequadamente. Assim, a pessoa nunca aprende a lidar direito com suas emoções e com o estresse proveniente do trauma, dificultando significativamente sua melhora.

O que pode ser usado para tratar o TEPT?

Não faltam alternativas ao uso de benzodiazepínicos para o tratamento de TEPT.

Em caráter mais emergencial, o psiquiatra pode receitar medicamentos antidepressivos e inibidores adrenérgicos, que podem ajudar a combater os sintomas do transtorno. Apesar do nome dar a ideia de combater a depressão, os antidepressivos costumam ser bastante eficazes no combate a sintomas ansiosos também, sendo usados em diversos quadros de ansiedade.

Além disso, trabalhar as memórias e os sentimentos trazidos pelo evento traumático em psicoterapia pode ajudar imensamente um paciente a combater os sintomas do TEPT, bem como saber lidar melhor com eles quando eles eventualmente se fazem presentes.

Uma terapia bastante usada para o tratamento de TEPT é a terapia de exposição, que consiste em expor a pessoa gradativamente a estímulos que desencadeiam a resposta traumática, ajudando o paciente a lidar com os sintomas à medida em que eles vão surgindo durante a exposição.

Pessoas que sofrem de TEPT depois de um acidente de carro, por exemplo, podem acabar tendo dificuldades em andar de carro novamente após o acidente. Essa terapia de exposição ajuda o paciente a, aos poucos, conseguir entrar num carro novamente, permitir-se viajar de carro por curtas distâncias, eventualmente aumentando as distâncias até que a pessoa não mais apresente sintomas do estresse pós-traumático ao andar de carro.

É importante ressaltar que nenhuma terapia será capaz de apagar o que aconteceu e é provável que a pessoa precise conviver com as memórias do trauma durante sua vida inteira. No entanto, as terapias podem ajudar a pessoa na maneira de lidar com essas memórias, bem como auxiliar a manter a qualidade de vida no dia-a-dia a depender do trauma que foi sofrido.

Existem diversas formas de tratar o transtorno de estresse pós-traumático. No entanto, um dos medicamentos mais usados por pessoas que passaram por traumas pode até mesmo piorar o quadro. Por isso, é importante fazer uma decisão bem informada antes de iniciar o tratamento com qualquer medicamento psiquiátrico.

Se você lidou com um evento traumático recentemente e recebeu uma prescrição de um benzodiazepínico, saiba que está no seu direito buscar uma segunda opinião e recusar o tratamento, considerando os riscos aqui discutidos.

Se você já iniciou o tratamento com benzodiazepínicos e deseja parar, entre em contato com seu psiquiatra, pois a retirada da medicação deve ser feita conforme orientação médica para evitar efeitos severos como sintomas de abstinência.

Ao apresentar sintomas psiquiátricos, não hesite em procurar um profissional da saúde mental.

Referências

https://www.benzoinfo.com/ptsd/
https://www.ptsd.va.gov/understand_tx/benzos_ptsd.asp
https://www.wolterskluwer.com/en/news/benzodiazepines-not-recommended-for-patients-with-ptsd-or-recent-trauma
https://www.ufrgs.br/farmacologica/2020/11/11/benzodiazepinicos-poderosos-populares-e-perigosos/
https://jornal.usp.br/atualidades/entenda-a-acao-dos-benzodiazepinicos-para-tratar-a-ansiedade/

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