Por que é importante falar sobre suicídio?

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Em 2015, o Centro de Valorização à Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria instituíram a campanha Setembro Amarelo, cujo o objetivo é conscientizar a população e prevenir o suicídio.

A campanha se tornou necessária devido ao número crescente de tentativas e suicídios bem sucedidos, além de haver um certo tabu em relação ao assunto. Muitas pessoas acreditam que conversar sobre o suicídio pode ser encorajador para uma pessoa que esteja cogitando tirar a própria vida, mas a realidade é completamente oposta. Conversar sobre suicídio pode salvar vidas!

Como a conversa pode ajudar?

Os motivos que levam uma pessoa a pensar em suicídio são vários. Transtornos mentais como depressão e esquizofrenia, lutos, separações, desemprego, isolamento e solidão são apenas alguns deles.

Todas essas situações podem levar uma pessoa a ter pensamentos bastante extremistas, chegando ao ponto de acreditar que a morte seria a única solução. Isso acontece porque o nosso pensamento pode sofrer distorções, fazendo com que vejamos apenas os infortúnios e medidas extremas como soluções. Neste momento, não se passa pela cabeça do indivíduo que há outras maneiras de resolver o problema.

A conversa, neste contexto, pode funcionar como uma intervenção entre o pensamento e o ato em si. Funciona mais ou menos da mesma forma que quando você precisa resolver um problema mas não consegue encontrar uma solução, então você pede ajuda a alguém e, assim, com as ideias da outra pessoa, consegue solucionar o problema. A diferença é que, neste caso, o indivíduo que cogita suicídio acha que já encontrou a solução: tirar a própria vida.

Quando você conversa sobre suicídio com alguém que pensa em cometê-lo, é como se você jogasse uma corda para alguém que está preso no fundo de um poço. Você sabe que a pessoa vai precisar de ajuda médica assim que sair de lá, então, caso você não seja médico, você oferece ajuda para procurar profissionais especializados.

Claro que nem sempre é tão fácil assim: a situação pode estar tão grave que o indivíduo nem sequer tem vontade de pegar a corda. Ele acredita piamente que não há saída. Isso acontece quando a situação se agravou por muito tempo, e a pessoa sente que não tem forças para conseguir agarrar a corda e, portanto, não vale a pena nem mesmo tentar. Esse tipo de situação requer uma intervenção mais drástica, como um internamento.

O problema é: como vamos saber em que estágio a pessoa está se não conversarmos? Como saber se ela tem forças para pegar a corda e ser atendida se não perguntarmos se ela pensa em tirar a própria vida? Existem alguns sinais, é claro, mas a intervenção direta é que faz a diferença. Desta forma, podemos ajudar a pessoa a organizar melhor seus pensamentos e a buscar ajuda especializada.

Oferecer ajuda a estranhos pode não ser eficaz

Embora seja de extrema importância falarmos sobre o suicídio, a resolução do problema não está em oferecer ajuda a qualquer pessoa que esteja passando por problemas, principalmente se você não tem conhecimentos aprofundados de psicologia e psiquiatria.

Durante o mês de setembro, muita gente resolve publicar nas redes sociais que estão abertas para conversar caso alguém esteja precisando, mas essa atitude pode ser muito mais prejudicial do que benéfica. E isso tem vários motivos:

  1. A pessoa parece se importar apenas em setembro. Em todos os outros meses, parece não ligar ou simpatizar com pessoas que estão em uma situação vulnerável e precisam de ajuda;
  2. Muitas dessas pessoas não entendem do funcionamento da mente humana e acabam falando besteiras que podem fazer o indivíduo se sentir ainda pior. Essas pessoas tendem a dar exemplos de como resolveram problemas parecidos, fazendo parecer algo fácil, quando na verdade desconsideram todas as limitações do indivíduo com o qual estão falando;
  3. A própria pessoa pode estar em uma situação vulnerável e não ter uma noção muito clara disso. Ao ouvir o depoimento de um colega ou conhecido que pensa em suicídio, pode acabar se identificando e passa a ter ideação suicida também;
  4. Pessoas distantes podem não ter o mesmo efeito do que uma pessoa próxima. Uma frase muito dita nesses momentos é “você é amado”, “tem muita gente que se importa com você”, mas se a pessoa que está falando tudo isso não é uma dessas pessoas, o efeito não é o mesmo. Além disso, em casos de transtornos depressivos, por exemplo, nos quais o indivíduo pode ser tomado por uma extrema apatia, o fato de ter alguém que se importa pode simplesmente não significar nada, já que, para ele, há a falsa sensação de que ninguém mais é importante.

Se você tem algum colega ou amigo que pensa em suicídio, é ótimo conversar e tirá-lo do isolamento. Entretanto, não pense que você irá solucionar o problema: isso é papel dos profissionais da saúde mental.

Ideação suicida é um problema sério e pesado, e ninguém é obrigado a resolver isso por uma pessoa que gosta. No entanto, mostrar que está lá para apoiar essa pessoa é essencial. Além disso, é preciso saber sobre as intenções do indivíduo e ficar atento para acionar uma equipe de emergência caso seja necessário.

Por que é importante falar sobre suicídio, afinal?

É importante falar sobre o suicídio porque ele é uma coisa que acontece. Muitos podem fingir que não, mas ele é uma realidade, e fingir que ele não existe só agrava o problema.

É necessário falar sobre suicídio para que haja espaço para pessoas que pensam em suicídio. É preciso deixar claro que essas pessoas têm espaço e o direito de falar e de pedir ajuda quando necessário. Precisamos mostrar que esses pensamentos existem, eles estão entre nós, e eles precisam ser abordados antes que eles acabem tirando vidas desnecessariamente.

Portanto, no mês de setembro, vamos falar sobre o suicídio. Vamos acolher nossos colegas, amigos e familiares e ajudá-los a procurar ajuda, sempre com a consciência de que não vamos solucionar os problemas nós mesmos, mas que somos uma peça importante deste quebra-cabeça que é a saúde mental.

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