Suicídio: quais as características e fatores de risco?

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin

O suicídio pode acontecer com qualquer um, independente de gênero, etnia ou classe social. Todos estão sujeitos à ideação suicida e, justamente por isso, é importante saber procurar ajuda quando for necessário.

No entanto, isso não impede que haja uma população especial que esteja em maior risco de suicídio. Pesquisas mostram que existem alguns “fatores de risco” e características associadas ao suicídio. Esse tipo de informação é extremamente importante porque possibilita que profissionais da saúde mental tomem as medidas necessárias ao encontrar um caso de ideação suicida.

Dentre os fatores de risco, estão os transtornos psiquiátricos, histórico de tentativas, características psicológicas, características culturais, entre outros. Entenda:

Grupos de risco

Ainda que exista uma uma diferença significativa quando se trata de variáveis demográficas (gênero, idade, entre outros), muitos profissionais tentam não focar muito nessa questão porque são características que não podem ser modificadas. Isso não muda o fato de que existem grupos de risco que merecem um pouco mais de atenção. São eles:

Homens

O suicídio é mais comum entre homens de todas as idades do que entre mulheres. Embora haja evidências de que mulheres tentam suicídio mais vezes durante a vida, a maior parte das pessoas que se suicidam são homens. Essa estatística fica mais fácil de compreender quando os métodos utilizados são analisados: homens costumam usar métodos mais rápidos e efetivos em comparação com os métodos escolhidos por mulheres.

Idosos

O suicídio na terceira idade não é muito raro. Isso pode ter vários motivos, como o desenvolvimento de uma depressão durante a terceira idade, o isolamento social, a perda de pessoas próximas, entre outros. Apesar de todas essas pautas serem comuns na terceira idade, o suicídio nessa faixa etária ocorre principalmente com homens.

Usuários de substâncias

Pessoas que fazem uso de substâncias, tanto lícitas quanto ilícitas, têm um risco maior de cometer suicídio. Pessoas que sofrem de alcoolismo, por exemplo, têm 6 vezes mais chances de morrer por suicídio do que outras pessoas do mesmo perfil demográfico (mesmo gênero, mesma idade etc.).

Quando se trata de drogas ilícitas, esse número varia de 4 a 20 vezes, dependendo da droga. O risco aumenta consideravelmente quando o indivíduo consome diversas drogas.

Indivíduos que sofrem com abuso de drogas podem ter algum outro transtorno psiquiátrico, muitas vezes não diagnosticado, que aumenta consideravelmente o risco de suicídio.

Transtornos psiquiátricos

Embora nem todos que tentam suicídio sofrem de algum transtorno psiquiátrico, é fato que a presença dessas enfermidades aumenta a chance de ideação suicida. Todos os transtornos estão ligados a esse aumento, mas os principais são:

Depressão

A depressão é, de longe, o transtorno que mais aparece em tentativas de suicídio. Mais de 50% das pessoas que morrem por suicídio são diagnosticadas com o transtorno depressivo maior. Vale lembrar, também, que a ideação suicida muitas vezes é um critério para o diagnóstico da depressão.

Transtorno bipolar

Outro transtorno de humor que está fortemente relacionado à ideação suicida é o transtorno afetivo bipolar. O risco de suicídio em pacientes com transtorno bipolar é cerca de 15 vezes maior do que pessoas sem transtorno bipolar e em perfil demográfico semelhante. As tentativas de suicídio são mais comuns durante a fase depressiva ou de humor misto.

Esquizofrenia

Em pacientes com algum transtorno do espectro da esquizofrenia, as chances de suicídio são 8,5 vezes maior do que pessoas sem esquizofrenia. No caso desses pacientes, é normal que haja depressão associada. Os sintomas positivos, como alucinações, também podem estar envolvidos. Alucinações de comando para machucar a si mesmo costumam levar à autoagressão, que pode resultar em suicídio.

Transtorno de personalidade borderline

O transtorno de personalidade borderline é caracterizado por padrões de instabilidade emocional, de autoimagem e nas relações interpessoais. Pesquisas mostram que pacientes diagnosticados com esse transtorno tentam suicídio em média 3 vezes durante a vida.

Histórico psiquiátrico

O histórico psiquiátrico de tentativa de suicídio é, provavelmente, um dos maiores fatores de risco para uma nova tentativa, especialmente se o paciente não seguiu o tratamento corretamente.

Outro fator que influencia é a presença de um histórico familiar de suicídio. Pessoas que perderam algum parente para o suicídio costumam ter mais tentativas em comparação com pessoas que não têm casos de suicídio na família.

Características psicológicas do paciente suicida

Outra coisa que deve ser levada em consideração são as características psicológicas do indivíduo. Pessoas que sofrem de ideação suicida e tentam suicídio muitas vezes sofrem com os problemas:

Desesperança

Nem toda pessoa que tem depressão pensa em suicídio. Pensando nisso, especialistas resolveram pesquisar o quê na depressão poderia estar relacionado a um maior risco de tentativa de suicídio. Eles perceberam que pacientes que sentem desesperança, ou seja, a ausência de esperança, têm 3 vezes mais chances de tentar suicídio.

Impulsividade aumentada

Não existe um estudo que comprove que a impulsividade aumentada causa o suicídio. No entanto, estudos mostram que existe uma correlação entre essa característica psicológica e o risco de suicídio.

Déficits na resolução de problemas

Muitos pacientes que tentam suicídio relatam não conseguir encontrar soluções para as circunstâncias nas quais estão vivendo. Os pensamentos costumam estar tão distorcidos que o indivíduo não consegue pensar em uma solução para os seus problemas, vendo, na morte, a única alternativa.

Alternativamente, o indivíduo pode saber solucionar o problema, mas não acredita ser capaz de fazer o que é necessário. Esse tipo de situação acontece com frequência quando se trata de problemas financeiros, por exemplo. Um indivíduo que perdeu o emprego e tem muitas contas para pagar pode não conseguir pensar em outras saídas, como fazer pequenos trabalhos informais ou empreender, ou não acredita ser capaz de conseguir levar adiante estes planos.

Perfeccionismo

O perfeccionismo está relacionado a um risco maior de suicídio principalmente no que tange a esfera social. Pessoas que são perfeccionistas em suas relações sociais geralmente têm a necessidade de atender às expectativas dos outros, o que nem sempre é possível.

Em casos de perfeccionismo voltado para si mesmo, o indivíduo têm uma necessidade de ser perfeito, mantendo expectativas irrealistas acerca de si mesmo e focando nos próprios defeitos.

Tudo isso pode gerar estresse e fazer o indivíduo focar nas suas falhas, o que pode acabar levando à ideação suicida.

Características culturais

De início, pode parecer estranho pensar que podem haver características culturais por trás do suicídio. No entanto, isso é uma verdade: a cultura de uma sociedade pode contribuir para que um indivíduo decida tirar a própria vida.

Um exemplo é a sociedade japonesa, na qual as taxas de suicídio são altas e histórias sobre suicídios coletivos não são raras. Por trás de tudo isso, existem muitos valores da cultura japonesa que prejudicam a busca por ajuda, incluindo a crença de que o suicídio é uma forma de cura¹.

Assim é em qualquer país que enxerga o ato de cuidar da saúde mental como um sinal de fraqueza ou inadequação. Quando as pessoas não aceitam a possibilidade de serem ajudadas, seja por orgulho ou por medo do que vão pensar, elas estão perdendo a chance de uma verdadeira melhora na sua qualidade de vida.

Infelizmente, mudar uma cultura não é nada fácil, mas os profissionais da saúde mental fazem o que podem para conscientizar a população da necessidade de tratamento das perturbações psiquiátricas.

Apesar de existirem algumas características mais comuns em pacientes suicidas, a verdade é que a ideação suicida pode acontecer para qualquer um. Se você está tendo ou conhece alguém que está convivendo com esse problema, não esqueça de procurar ajuda especializada!

Referências

¹ https://link.springer.com/article/10.1007/s11013-008-9108-0

Wenzel, A.; Beck, A. T. & Brown, G. K. (2010). Terapia cognitivo-comportamental para pacientes suicidas. Porto Alegre: Artmed.

Confira posts relacionados