O apego é um dos fatores mais importantes nas relações interpessoais íntimas. Isso porque se trata de um padrão de comportamento formado, geralmente, na infância, e que tende a influenciar até mesmo as relações na idade adulta.
Por isso, compreender o apego e os tipos de apego possíveis pode ajudar bastante a compreender os desafios que podem aparecer nas relações, sejam elas amizade, relações românticas ou até mesmo familiares.
O que é a teoria do apego?
Entre as décadas de 50 e 60, o psicólogo britânico John Bowlby tinha interesse em compreender a ansiedade de separação e o estresse sentido pelas crianças quando estas estavam distantes de seus pais ou cuidadores.
A partir destes estudos, Bowlby deu início à teoria do apego, que busca compreender como os seres humanos criam conexões psicológicas duradouras entre si.
Atualmente, há outros nomes que contribuíram para essa teoria, como Mary Ainsworth, psicóloga norte americana que contribuiu nos anos 70 postulando 3 tipos de apego (apego seguro, apego evitante e apego ambivalente). Mais tarde, na década de 80, os pesquisadores Main e Solomon postularam mais um tipo de apego (apego desorganizado), consolidando o que hoje é conhecido como os 4 tipos de apego.
O principal ponto da teoria do apego é a compreensão de que o apego formado na relação de um indivíduo com seus cuidadores durante a infância tende a influenciar a forma que essa pessoa se relaciona posteriormente, na vida adulta.
Contudo, é importante lembrar que, assim como muita coisa na psique humana, o tipo de apego não é uma característica física e imutável. As demais experiências durante a vida podem fazer com que a pessoa gradualmente modifique seu tipo de apego, e o tipo de apego em si pode variar de acordo com a relação em questão.
Em outras palavras, uma pessoa pode apresentar um tipo de apego em uma relação e outro tipo em uma outra relação. Da mesma forma, pode apresentar um tipo de apego nas amizades e outro tipo nas relações amorosas, por exemplo.
Como se forma o apego?
De acordo com Bowlby, o apego seria um fenômeno que surgiu em um contexto evolutivo, tendo em vista que o cuidador proporciona segurança à criança. Sendo assim, o apego seria uma característica que melhora significativamente a chance de sobrevivência da criança. Por isso, quando a criança está com medo ou sentindo alguma emoção negativa, ela tende a ir atrás do seu cuidador primário em busca da sensação de segurança.
O apego vai sendo desenvolvido ao longo dos primeiros meses de vida de acordo com a responsividade do cuidador. Em outras palavras, o bebê não necessariamente desenvolve apego a quem passa mais tempo com ele, mas a quem apresenta uma melhor capacidade de responder às suas necessidades.
Os pesquisadores Rudolph Schaffer e Peggy Emerson postularam 4 fases do desenvolvimento do apego. São elas:
Associal: 0 à 6 semanas
Durante essas primeiras semanas de vida, o bebê responde favoravelmente a qualquer tipo de estímulo, sociais ou não. Ainda não existem sinais evidentes de apego.
Apegos indiscriminados: 6 semanas à 7 meses
Nessa fase, os bebês parecem aproveitar a companhia de outras pessoas de forma indiscriminada. Ainda não há preferência por uma pessoa em específico.
É nessa fase que os bebês começam a apresentar emoções negativas quando uma pessoa para de interagir com eles, sendo este um dos primeiros sinais de apego.
Por volta dos três meses, é possível ver o início de uma discriminação no sentido de que o bebê passa a sorrir mais para rostos familiares e apresentam maiores níveis de segurança com cuidadores regulares.
Apego específico: 7 à 9 meses
Aos 7 meses, o bebê começa a apresentar preferência por uma figura específica. Ele começa a apresentar medo de estranhos e a chamada ansiedade de separação, que é uma emoção negativa ao estar separado dessa pessoa específica por quem começa a apresentar preferência.
Em outras palavras, pode-se falar que o bebê desenvolveu o apego a uma pessoa.
Apegos múltiplos: 10 meses em diante
A partir dos 10 meses, o bebê começa a demonstrar a capacidade de criar apego por mais pessoas além do cuidador primário. É neste momento que começa a formar apego por outros membros da família, como irmãos, outros cuidadores, vizinhos, entre outros.
Até os 18 meses, o bebê demonstra já ter formado diversos apegos às pessoas ao seu redor. Esses apegos seguem uma hierarquia, ou seja, existe uma pessoa a quem o bebê tem um apego maior, e o nível de apego pode variar entre as diversas pessoas a quem ele está apegado.
Isso depende do quão bem essas pessoas conseguiram responder às necessidades do bebê. De acordo com as pesquisas de Schaffer e Emerson, a qualidade do apego está relacionada à capacidade da pessoa de responder de forma precisa às necessidades que o bebê apresenta.
Quais os tipos de apego?
Todo esse processo de formação do apego pode acabar gerando registros afetivos que podem influenciar o apego de uma pessoa nas fases posteriores da vida. Dependendo da qualidade dos primeiros apegos formados, a pessoa pode apresentar dificuldades para se relacionar de forma saudável na vida adulta, por exemplo.
Os 4 tipos de apego postulados por Ainsworth, Main e Solomon são:
Apego Seguro
A pessoa com apego seguro pode se sentir desconfortável quando a pessoa a quem está apegada está ausente, mas sabe que pode contar com essa pessoa e há emoções positivas quando a pessoa está presente.
Na infância, este tipo de apego é formado quando o cuidador está presente nos momentos de necessidade, prestando os cuidados adequados às necessidades da criança, de forma que ela cria confiança na pessoa, mesmo quando ausente.
Apego Evitante
Nesse tipo de apego, a pessoa busca manter distância da pessoa alvo de seu apego. Em geral, esse tipo de apego tem origem em uma infância na qual os cuidadores foram negligentes ou abusivos, resultando em punições nas vezes em que a criança precisava da ajuda do cuidador, fazendo com que ela evitasse buscá-lo novamente no futuro.
Apego Ambivalente
Este tipo de apego é caracterizado por sentimentos ambivalentes, nos quais a pessoa deseja proximidade com a pessoa alvo de seu apego, mas ao mesmo tempo mantém sentimentos de resistência, como raiva e necessidade de punir o outro.
Há um grande medo do abandono e tendência a desenvolver relações nas quais há dependência emocional. Este tipo de apego está ligado a uma infância na qual o contato com os cuidadores trazia sentimentos mistos ao invés do conforto e segurança que deveria trazer.
Apego Desorganizado
O apego desorganizado está ligado a um padrão de comportamento confuso, que pode ter resistências e evitações, mas ao mesmo tempo ainda não há uma evitação constante como no caso do apego evitante. Esse tipo de apego está ligado a um padrão inconsistente de cuidados durante a infância.
O que fazer se eu tiver um tipo de apego não saudável?
Tirando o apego seguro, os outros tipos de apego podem trazer prejuízos para as relações, tornando-as não saudáveis. Contudo, se você se identificou com algum dos outros tipos, isso não quer dizer que tudo está perdido.
Como dito anteriormente, o estilo de apego não é imutável. Em outras palavras, é possível trabalhar para que a pessoa desenvolva um estilo de apego mais próximo do seguro. Além disso, dentro de um mesmo relacionamento, o estilo do apego pode mudar de acordo com o momento do relacionamento.
A psicoterapia é uma boa indicação para pessoas que desejam tratar seus problemas relacionados ao apego. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ser de grande auxílio, pois nesta terapia são trabalhados os pensamentos disfuncionais que uma pessoa pode ter a respeito de si mesma e dos outros, que contribuem para a manutenção do estilo de apego não saudável.
Existem diversos outros tipos de psicoterapia que também podem ajudar (terapia dos esquemas, terapia comportamental dialética, p.ex.) e cada pessoa se adapta melhor a um tipo, portanto, é importante buscar e não desistir na primeira caso não se adapte.
O tipo de apego que temos pode ser algo que influencia bastante as nossas relações, mas isso não quer dizer que está tudo perdido. Se você se identificou com algum tipo de apego que não é saudável e percebe o quanto isso prejudica suas relações, não hesite em buscar um profissional da saúde mental!
Referência
https://www.simplypsychology.org/attachment.html
https://thewaveclinic.com/blog/what-are-the-different-types-of-attachment/
https://www.verywellmind.com/what-is-attachment-theory-2795337