Terapia assistida por animais: o que é? Como funciona?

Você sabia que a interação com animais pode ajudar na saúde mental? Entenda melhor sobre a terapia assistida por animais aqui!
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Os transtornos mentais são tratados por profissionais da saúde mental, e às vezes algumas terapias complementares podem trazer efeitos bastante desejados. É o caso da terapia assistida por animais, que usa animais domesticados para diminuir o estresse e a ansiedade tanto no tratamento de transtornos mentais quanto no tratamento de enfermidades crônicas.

Neste texto, falaremos sobre a terapia assistida por animais, como ela funciona, seus efeitos e sua eficácia, bem como contra indicações desse tipo de terapia.

O que é terapia assistida por animais?

A terapia assistida por animais (TAA) é um tipo de terapia complementar na qual utiliza-se animais domesticados e adestrados para ajudar no tratamento de pessoas com determinados transtornos mentais ou enfermidades físicas.

O efeito da TAA não é necessariamente direto, ou seja, a terapia não necessariamente atua nos sintomas apresentados pela pessoa, mas ela pode ajudar reduzindo o estresse, melhorando a motivação, diminuindo a ansiedade, entre outros. Tudo isso são fatores importantes para a recuperação não apenas de um transtorno mental, mas também da saúde física.

Os animais podem trazer sentimentos de conforto e relaxamento, além de poderem ajudar a identificar e alertar pessoas quando alguém está em perigo. Os sentidos de alguns animais permitem que eles captem sinais do nosso organismo antes mesmo que a gente os sinta, fazendo com que eles possam nos ajudar a prever crises, como desmaios, por exemplo.

Geralmente, a terapia assistida por animais é feita com animais frequentemente usados como pets, como cães e gatos. Cavalos também são um animal bastante usado nesse tipo de terapia, sendo que existem centros especializados em terapia assistida por cavalos, também chamada de equoterapia.

No Brasil, uma precursora da terapia assistida por animais foi Nise da Silveira, psiquiatra alagoana que ajudou a humanizar o tratamento de pessoas com transtornos mentais no século XX. Diferentemente de hoje em dia, no entanto, Nise encorajava seus clientes a cuidarem integralmente de um pet, ao invés do animal apenas fazer parte da sessão de terapia. Além da terapia com animais, Nise da Silveira também inaugurou a arteterapia no Brasil.

Vale ressaltar que a terapia assistida por animais é uma terapia complementar, ou seja, ela pode ajudar, mas não deve substituir outros tratamentos, como a psicoterapia ou o tratamento medicamentoso.

Como funciona a terapia assistida por animais?

A terapia assistida por animais é feita por sessões terapêuticas, que são conduzidas por profissionais da saúde como psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas. Também pode ser usada no contexto escolar com o auxílio de educadores.

O tutor do animal também está presente durante as sessões, para assegurar que o animal esteja na presença de uma pessoa conhecida e obedeça às ordens dadas. 

Em geral, o contato com o animal dura cerca de 15 minutos, e o paciente pode fazer carinho no animal e tirar dúvidas sobre ele com o tutor.

A maneira que a terapia funciona é que, nesse momento de contato com o animal, a presença do pet ajuda a criar sentimentos de conforto e relaxamento, além de reduzir a ansiedade. A pessoa então se sente melhor e mais aberta para continuar o tratamento psicoterapêutico ou fisioterapêutico.

Em alguns casos, os animais são levados a hospitais para fazer visitas a pacientes internados. Nessas visitas, os efeitos são os mesmos: redução do estresse e da ansiedade, sensação de relaxamento e conforto, aumento da motivação etc. Isso tudo pode ajudar na recuperação dos pacientes, uma vez que o estresse acumulado da doença é um fator que prejudica a recuperação como um todo.

Para a maior parte das pessoas, a presença de um animal faz com que o organismo libere neurotransmissores e hormônios que contribuem para o bem-estar, como a serotonina, a prolactina e a oxitocina.

É importante ressaltar que os animais usados em terapia não são a mesma coisa que um cão de serviço, frequentemente usado por pessoas com deficiência visual, e portanto não têm os mesmos direitos que esse tipo de cão. A título de exemplo, um cachorro usado em TAA não pode acompanhar a pessoa em estabelecimentos comerciais, como é o caso de cães de serviço.

Efeitos da terapia assistida por animais

  • Relaxamento e conforto;
  • Redução de sentimentos de tédio;
  • Diminuição da ansiedade;
  • Diminuição de sentimentos de solidão;
  • Redução da percepção de dor;
  • Aumento da estimulação mental;
  • Aumento da motivação;
  • Ajuda a “quebrar o gelo” entre paciente e terapeuta;
  • Pode ajudar a diminuir a resistência de alguns pacientes no início da terapia.

Estudos mostram que crianças no espectro autista podem ter um desempenho melhor na terapia quando têm contato com animais.

Há também estudos que mostram que, em pacientes com lesões cerebrais ou enfermidades crônicas como o mal de Alzheimer, a terapia assistida por animais também ajuda o paciente a relembrar memórias e sequenciar eventos temporais com mais facilidade.

Em pacientes com demência que apresentam agitação (cerca de 90% dos pacientes com demência internados), a terapia assistida por animais pode ajudar a diminuir essa agitação. Da mesma forma, pacientes com problemas cardiovasculares também podem se beneficiar da TAA, pois a exposição aos animais ajuda a diminuir a pressão arterial.

Quais animais são usados na TAA?

Geralmente, os animais usados na terapia assistida por animais são cães, gatos e cavalos. Apesar disso, a TAA pode ser praticada com diversos tipos de animais, desde que possam ser adestrados. Isso inclui também alguns pets mais exóticos, como aves, coelhos e furões.

Em hospitais, é mais comum a visita de cães para interagir com pacientes, em especial as crianças e os idosos. Os cães também são a escolha mais comum para escolas, ajudando a melhorar a motivação das crianças. No entanto, cavalos também podem ser usados em escolas.

Em centros de reabilitação que trabalham com pessoas que precisam melhorar a coordenação motora e fortalecer os minúsculas, costumam ser usados cavalos. Os cavalos também são usados frequentemente para tratar pessoas que precisam de ajuda no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais.

Vale ressaltar que os animais usados devem ser muito bem treinados e devem estar sempre fazendo acompanhamento com médico veterinário, para garantir a segurança tanto do animal quanto dos pacientes em terapia. Os animais devem estar com todas as vacinas e vermifugação em dia, bem descansados e alimentados para estarem aptos ao trabalho.

Nos dias das sessões de terapia, os animais devem tomar banho e estar com as garras aparadas para evitar acidentes e contaminação por germes.

Quais transtornos são tratados com a terapia assistida por animais?

No momento, a terapia assistida por animais pode ser usada para auxiliar no tratamento de:

  • Quadros de demência;
  • Depressão;
  • Ansiedade;
  • Esquizofrenia;
  • Transtorno do espectro autista (TEA);
  • Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT);
  • Transtorno por uso de substância;
  • Epilepsia;
  • Trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down).

No que tange a saúde física, a terapia assistida por animais é comumente usada nos hospitais para ajudar pacientes em recuperação pós-cirurgia, pacientes com dores devido ao tratamento de câncer, pacientes se recuperando de acidente vascular cerebral (AVC) e pacientes com insuficiência cardíaca.

Riscos da terapia assistida por animais

Sempre que há interação entre humanos e animais, existem riscos envolvidos. Por conta disso, a terapia assistida por animais pode apresentar alguns riscos, como:

  • Exposição a germes que são normais nos animais, mas que podem causar problemas em contato com um humano com o sistema imunológico debilitado;
  • Reações alérgicas aos animais;
  • Imprevisibilidade do comportamento do animal, pois mesmo animais bem treinados ainda podem ter alguns comportamentos imprevisíveis, especialmente em ambientes desconhecidos;
  • Mordidas e arranhões, o que é um risco muito baixo em animais bem treinados, mas ainda existe.

Quando não usar a terapia assistida por animais

Infelizmente, a terapia assistida por animais não é para todo mundo.

Existem pessoas que não gostam de animais, não se dão bem com eles ou simplesmente têm medo de interagir. Nesses casos, a exposição a animais pode causar mais estresse do que benefícios.

Além disso, há pessoas que podem se apegar muito facilmente aos animais, o que pode gerar sentimentos de possessividade, por exemplo. Estes sentimentos de apego podem prejudicar mais do que ajudar na terapia.

Por fim, uma contraindicação relativa é a alergia. Pessoas alérgicas podem ter os mesmos benefícios que pessoas não alérgicas, mas a alergia pode trazer mais estresse ao organismo. Por conta disso, é necessário avaliar a intensidade da alergia e possibilidades de tratamento com antialérgicos antes de expor a pessoa aos animais.

A terapia assistida por animais é eficaz?

Por ser uma terapia integrativa, ou seja, um tipo de terapia que não é o principal, há dúvidas sobre a eficácia da terapia assistida por animais. Há diversos estudos, mas meta-análises mostram que nem sempre os resultados desses estudos são tão conclusivos.

Uma meta-análise publicada no periódico científico Complementary Therapies in Medicine, em 2014, argumenta que os estudos disponíveis são muito heterogêneos, dificultando a análise dos resultados e a possibilidade de generalização. Segundo o estudo, pessoas que já gostam de animais podem sim se beneficiar da terapia assistida por animais, mas não há como afirmar que essa terapia faria efeito em pessoas que não ligam tanto ou que realmente não gostam de animais.

Já um estudo publicado no periódico científico Complementary Therapies in Medicine em 2024 mostra que, comparado com terapia feita com pets robôs, a terapia assistida por cães têm um efeito moderado na redução de sintomas depressivos em adultos.

A terapia assistida por animais pode ajudar bastante pessoas que lidam com estresse crônico ou apresentam bastante ansiedade. No entanto, trata-se de uma terapia complementar e são necessários outros tratamentos para uma melhora efetiva do quadro.

Se você suspeita que está apresentando sintomas psicológicos, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!

Referências

Kamioka H, Okada S, Tsutani K, Park H, Okuizumi H, Handa S, Oshio T, Park SJ, Kitayuguchi J, Abe T, Honda T, Mutoh Y. Effectiveness of animal-assisted therapy: A systematic review of randomized controlled trials. Complement Ther Med. 2014 Apr;22(2):371-90. doi: 10.1016/j.ctim.2013.12.016. Epub 2014 Jan 6. PMID: 24731910.David Villarreal-Zegarra, Teodoro Yllescas-Panta, Sofía Malaquias-Obregon, Andrea Dámaso-Román, Nikol Mayo-Puchoc. Effectiveness of animal-assisted therapy and pet-robot interventions in reducing depressive symptoms among older adults: A systematic review and meta-analysis. Complementary Therapies in Medicine, Volume 80, 2024, 103023, ISSN 0965-2299, https://doi.org/10.1016/j.ctim.2024.103023.

https://www.husson.edu/online/blog/2022/07/benefits-of-animal-assisted-therapy
https://www.uclahealth.org/programs/pac/about-us/animal-assisted-therapy-research
https://www.medicalnewstoday.com/articles/animal-therapy
https://www.planetreebrasil.com.br/blog/terapia-assistida-por-animais/
https://univs.edu.br/blog/terapia-assistida-por-animais/

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