Terapia Cognitivo-Comportamental para Transtornos Aditivos: como tratar vícios?

O tratamento de vícios muitas vezes requer terapia, em especial a terapia cognitivo-comportamental. Entenda melhor aqui!
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Os transtornos aditivos, também chamados de transtornos do exagero, são caracterizados por padrões problemáticos de consumo de substâncias psicoativas. Em outras palavras, a pessoa continua usando a substância, mesmo que isso esteja causando problemas em sua vida.

Embora no passado esse conceito se referisse estritamente ao consumo de substâncias, hoje em dia entende-se que o transtorno aditivo pode se manifestar também em outras situações, como no caso de vício em jogos eletrônicos e em apostas, por exemplo.

Os transtornos aditivos podem surgir devido ao uso de álcool, tabaco, maconha, cocaína, opióides, anfetaminas, inalantes, sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, alucinógenos, entre outros. Algumas dessas categorias são encontradas na forma de medicamentos, que podem se tornar uma substância de abuso quando usados de forma recreativa ao invés de terapêutica. Embora nem todas essas substâncias causem dependência química (quando o organismo cria dependência da substância), elas podem causar uma dependência psicológica que faz com que a pessoa não consiga parar de usar.

Já no caso de jogos, o transtorno surge quando a pessoa passa tempo demais jogando, deixando que a jogatina prejudique as demais áreas em sua vida. Quando não se pode jogar por longos períodos de tempo, a pessoa pode ficar estressada e demonstrar sintomas comuns à abstinência de substâncias.

Quando se trata de apostas, a pessoa continua apostando mesmo quando já sofreu graves prejuízos financeiros, tendo a convicção de que poderá recuperar o que foi perdido se continuar apostando. Nestes casos, o indivíduo também sofre com sintomas de abstinência ao tentar parar de apostar.

Outros nomes para os transtornos aditivos são transtornos de dependência, transtornos relacionados ao uso de substâncias ou até mesmo o termo popularmente usado “dependência química”.

Características dos transtornos aditivos

Os transtornos aditivos costumam ser caracterizados pela presença de:

  • Uso da substância/do jogo por um período de tempo maior do que o pretendido;
  • Desejo intenso de usar a substância/jogar;
  • Esforços malsucedidos para reduzir o uso da substância/o tempo de jogo;
  • Fissuras, fenômeno caracterizado por uma angústia intensa ao não estar usando a substância/jogando.

Essas características comumente trazem problemas sociais, nas relações interpessoais, no desempenho profissional e acadêmico, prejudicando significativamente a qualidade de vida do indivíduo.

O tratamento dos transtornos aditivos

Dependendo da adicção, o tratamento pode ser feito pelo uso de medicamentos psiquiátricos. No entanto, o que mais faz diferença no tratamento para vícios é a psicoterapia, em especial a terapia cognitivo-comportamental (TCC).

A TCC é uma abordagem da psicologia baseada na ideia de que os pensamentos, emoções e comportamentos estão interligados, influenciando uns aos outros. Em geral, essa terapia ajuda a identificar e modificar padrões de comportamento disfuncionais, ou seja, que trazem prejuízos ao indivíduo.

Não raramente, pessoas que sofrem de algum vício possuem padrões de pensamento e comportamento disfuncionais que podem ser trabalhados para ajudar o indivíduo a diminuir ou cessar completamente o uso da substância.

Embora a psicoterapia não possa resolver a dependência química, ela pode ajudar com a dependência psicológica, auxiliando o indivíduo a manter sua sobriedade depois do período de desintoxicação.

Como a terapia cognitivo-comportamental pode ajudar nos vícios?

Levando em consideração que a TCC entende que os pensamentos e emoções influenciam os comportamentos, a ideia da terapia é trabalhar as crenças e padrões de pensamento disfuncionais que acabam levando a pessoa ao uso.

Alguns pensamentos comuns a pessoas que sofrem de algum tipo de adicção são “eu não consigo parar” ou “sem isso eu não consigo viver”. Desafiar esses pensamentos é o primeiro passo para uma recuperação bem sucedida dos vícios.

Além disso, sabendo que as emoções também têm grande influência no comportamento, o paciente pode aprender novas maneiras de se regular emocionalmente, tendo em vista que, não raramente, os vícios surgem como maneiras de “fugir” das próprias emoções. Ao aprender outras formas de expressar e processar essas emoções, a pessoa não necessariamente irá recorrer ao uso da substância para lidar com esses sentimentos.

Estágios do tratamento para vícios com a TCC

O tratamento para vícios passa por alguns estágios. São eles:

  • Pré-contemplação: Período em que terapeuta e paciente questionam o vício;
  • Contemplação: Momento em que o terapeuta ajuda o paciente a ver a falta de equilíbrio no uso, destacando os prejuízos e fornecendo razões para a mudança do comportamento;
  • Preparação: Neste período, o terapeuta ajuda o paciente a encontrar as melhores estratégias para promover a mudança;
  • Ação: Estágio em que o terapeuta estimula o paciente a se movimentar em direção à mudança, valorizando seus esforços e evitando o julgamento em caso de falhas e desafios no processo;
  • Manutenção: O terapeuta ajuda o paciente a identificar estratégias para prevenir recaídas.

No caso de eventuais recaídas, há uma reavaliação das técnicas usadas, buscando encontrar maneiras mais eficazes de auxiliar o paciente.

Técnicas usadas no tratamento de vícios

Dentre as técnicas da TCC que podem ajudar no tratamento dos transtornos aditivos estão:

Psicoeducação

A psicoeducação consiste em ampliar o conhecimento do paciente em relação à condição que está enfrentando. No caso dos transtornos aditivos, o psicólogo pode ajudar o paciente a entender sobre a substância e seus efeitos no organismo e na saúde mental.

Automonitoramento

A fim de identificar e modificar os pensamentos disfuncionais, o terapeuta pode passar uma série de técnicas de automonitoramento.

Essas técnicas consistem em registrar os pensamentos e situações que estão relacionados ao uso problemático de substâncias, como por exemplo “vou usar para desestressar”, “depois de um dia desses, eu mereço”, entre outros.

O automonitoramento pode ser feito por meio de diários, fichas de registro de uso da substância e dos pensamentos antes e depois de usar, entre outros.

Reestruturação cognitiva

Depois de identificar esses pensamentos disfuncionais, o terapeuta irá ajudar o paciente a desafiar e substituir tais pensamentos por outros mais adaptativos.

Essa técnica busca desafiar justamente esses pensamentos que levam ao uso, como “usar para desestressar” ou sentimentos de merecimento depois de passar por infortúnios.

Habilidades de enfrentamento e regulação emocional

Não raramente o uso de substâncias está relacionado a uma incapacidade de se regular emocionalmente, precisando recorrer à substância para lidar com o que está sentindo. É o famoso “afogar as mágoas”.

O terapeuta pode ajudar o paciente a desenvolver outras formas de enfrentamento às situações, encorajando o indivíduo a se expressar de formas mais saudáveis, permitindo-se processar essas emoções e por fim regulá-las.

Além disso, é comum que a pessoa sinta um impulso para usar a substância quando sente a famosa “fissura”. Neste momento, uma das habilidades de enfrentamento é se distrair desse impulso, buscando focar em outras atividades.

Na terapia, paciente e terapeuta trabalham em conjunto para identificar quais atividades seriam efetivas nesses momentos, produzindo materiais que ajudem o paciente a lembrar dessas atividades quando sentirem esse impulso.

Prevenção de recaídas

Quando a pessoa já se encontra limpa da substância após o período de desintoxicação, é importante trabalhar na prevenção de recaídas.

Uma recaída é quando a pessoa acaba voltando ao uso da substância, o que pode ser perigoso pois pode levá-la ao uso prejudicial novamente.

Para fazer essa prevenção, o terapeuta ajuda o paciente a identificar sinais de alerta de recaída, bem como desenvolver um plano de intervenção caso a pessoa perceba estar indo por esse caminho.

Esse plano de intervenção pode envolver atividades prazerosas que ajudam a pessoa a se firmar melhor na rotina que conquistou depois que parou com o vício, bem como registrar o contato de pessoas de confiança que a pessoa pode ir atrás quando sentir que está tendo uma recaída.

A TCC para transtornos aditivos é uma abordagem altamente estruturada e orientada por metas, visando promover mudanças positivas no pensamento e no comportamento do indivíduo, prevenindo recaídas e ajudando a recuperar sua qualidade de vida.

Se você se identificou com os sintomas aqui relatados, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!

Referências

Rangé, B. P. & Marlatt, G. A. (2008). Terapia cognitivo-comportamental de transtornos de abuso de álcool e drogas. Rev Bras Psiquiatr., 30(Supl II):S88-95.
Knapp, P. (2004). Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica. São Paulo: Artmed Editora.
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtornos-por-uso-de-subst%C3%A2ncias/transtornos-por-uso-de-subst%C3%A2ncias

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