Depressão: existe mais de um tipo?

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A depressão é um transtorno de humor que tem ganhado cada vez mais visibilidade, sendo atualmente classificada até mesmo como epidemia. No entanto, o que muitas pessoas não sabem é que a depressão nem sempre se manifesta da mesma maneira, podendo ser diagnosticada de maneiras muito diferentes.

Na maioria dos casos, os principais sintomas são os mesmos: humor triste na maior parte do dia, diminuição da energia, alterações no apetite e no padrão do sono, dificuldades de concentração, irritabilidade, entre outros.

A maneira que esses sintomas se manifestam, assim como as circunstâncias nas quais eles surgem, é o que torna possível classificar a depressão em vários subtipos. Alguns deles são:

Depressão melancólica

A depressão melancólica é caracterizada pela perda do prazer por quase todas as atividades, além de ausência de resposta a estímulos agradáveis. A pessoa perde a capacidade de sentir prazer com as coisas boas e até mesmo aquelas que gostava de fazer antes do surgimento do transtorno.

Outras características nem sempre presentes são o humor deprimido mais intenso na parte da manhã, despertar durante a madrugada (insônia tardia), retardo ou agitação psicomotora, perda significativa do apetite e consequentemente do peso corporal, além de sentimento excessivo de culpa.

Depressão com características ansiosas

Também conhecida como transtorno misto ansioso e depressivo, a depressão com características ansiosas é um subtipo de depressão no qual o indivíduo sofre com sintomas depressivos e ansiosos. No entanto, se analisados separadamente, nenhum dos dois conjuntos de sintomas é o bastante para que seja feito o diagnóstico de um transtorno depressivo ou ansioso apenas.

Além dos sintomas de depressão, o indivíduo apresenta alguns sintomas somáticos como palpitações, tremores, dores no estômago, entre outros.

Depressão bipolar

A depressão bipolar se dá quando o indivíduo apresenta, também, fases de mania ou hipomania, características do transtorno bipolar. Essa depressão é diferente da depressão maior ou da distimia por haver essa dinâmica de alteração de humor.

Os sintomas não costumam ser muito diferentes da depressão unipolar, mas a depressão bipolar está associada a um maior número de episódios depressivos, maior frequência de sintomas psicóticos, maior risco de suicídio e até mesmo maior incidência no puerpério (após parto).

Outras características importantes da depressão bipolar é a lentificação psicomotora (o paciente fica mais lento e realiza menos movimentos que o normal) e hipersonia (dormir demasiadamente).

Distimia

Pouco conhecida por este nome, a distimia é um transtorno depressivo com sintomas mais amenos, porém de longa duração. Na depressão maior, os sintomas duram cerca de 6 meses e são muito intensos a ponto de prejudicar seriamente a vida do paciente.

Já no caso da distimia, os sintomas não são tão intensos e o paciente muitas vezes consegue levar uma vida funcional (ainda que com muitas dificuldades), porém eles duram muito mais tempo. O diagnóstico da distimia é feito quando o paciente apresenta sintomas depressivos de intensidade leve ou moderada por, pelo menos, 2 anos.

Depressão pós-parto

A depressão pós-parto surge, como o nome diz, após o nascimento de um bebê. Ela está frequentemente relacionada ao conflito em relação à nova identidade da mulher, assim como os novos papéis que ela deve desempenhar.

A chegada de um bebê traz mudanças significativas não apenas à rotina da nova mãe, mas também no seu relacionamento com o parceiro, nas suas relações sociais, entre outras esferas da vida da mulher. Por conta disso, ela acaba sofrendo pressões que podem servir de gatilho para o desenvolvimento do transtorno.

Vale lembrar, também, que a depressão pós-parto tem menor incidência quando a mulher sente que há suporte social do parceiro e dos outros ao seu redor.

Blues puerperal

Também chamada de baby blues ou melancolia da maternidade, o blues puerperal é uma tristeza transitória que ocorre entre o terceiro e o quinto dia após o parto, atingindo cerca de 50% das novas mães. O humor se torna instável durante esses dias, mas a remissão ocorre de forma espontânea, sem a necessidade de um tratamento específico, o que a diferencia da depressão pós-parto, que é mais intensa e necessita mais cuidados.

Transtorno disfórico pré-menstrual

Outro subtipo da depressão que pode surgir em mulheres em fase reprodutiva é o transtorno disfórico pré-menstrual, que é caracterizado pela presença de sintomas depressivos nas semana que antecede a menstruação. Acredita-se que estejam envolvidos fatores hormonais, psicológicos e ambientais no desenvolvimento deste transtorno.

Alterações de humor no período que antecede a menstruação é normal e faz parte da chamada “TPM”. O transtorno disfórico pré-menstrual se diferencia da TPM devido à intensidade dos sintomas, que podem ser tão incapacitantes quanto os sintomas de uma depressão maior.

No transtorno disfórico pré-menstrual, além dos sintomas comuns da TPM, estão presentes de maneira intensa a irritabilidade, ansiedade, humor deprimido, dificuldades de concentração, alterações no padrão de sono e no apetite, entre outros.

O tratamento deste transtorno costuma ser diferente do tratamento de outros subtipos de depressão, sendo mais focado no ciclo reprodutivo da mulher do que em alterações neurofisiológicas, uma vez que o transtorno está diretamente ligado ao ciclo reprodutivo.

Depressão sazonal

Também chamado de “transtorno afetivo sazonal”, a depressão sazonal é aquela que ocorre na mesma época do ano, sendo mais comum no inverno e em países nos quais o inverno costuma ser mais rigoroso, com poucas horas de luz do dia e temperaturas muito baixas. Devido a isso, ela também é chamada ocasionalmente de “depressão de inverno”.

A depressão sazonal não é um diagnóstico em si, podendo ser um fenômeno em pessoas que já sofrem de depressão uni ou bipolar, mas que apresenta uma piora significativa no outono e no inverno. É comum a manifestação de sintomas como hipersonia, hiperfagia (comer em excesso) e ganho de peso.

Além do tratamento farmacológico, o tratamento pode ser feito com fototerapia (terapia com luzes) para amenizar os efeitos da falta de luz que as duas estações mais frias do ano proporcionam.

Luto patológico

O luto é uma reação emocional natural diante da perda de um ente querido. Seus sintomas são muito parecidos com o da depressão maior, mas o indivíduo costuma conseguir levar uma vida funcional a medida em que o tempo passa. No entanto, nem sempre isso acontece. É aí que encontramos o luto patológico, que pode se manifestar de diversas formas.

Uma delas é a negação do luto, na qual o indivíduo age como se o ente querido ainda estivesse vivo. Uma outra manifestação é o luto prolongado, que não ameniza e causa prejuízos no funcionamento do indivíduo por muito tempo após a morte do ente querido.

Depressão atípica

A principal característica da depressão atípica é que o indivíduo responde a estímulos agradáveis com uma melhora no humor. No entanto, o humor deprimido prevalece na maior parte do tempo.

Para ser classificada como depressão atípica, é necessário também a presença de pelo menos 2 dos seguintes sintomas: aumento significativo do apetite acompanhado de ganho de peso, hipersonia (dormir demasiadamente) e sensação de peso do corpo.

Há também uma sensibilidade à rejeição interpessoal que está presente mesmo na ausência dos sintomas depressivos, sendo muitas vezes parte da personalidade do indivíduo, o que prejudica suas relações interpessoais.

Estes são apenas alguns dos subtipos de depressão conhecidos atualmente, estima-se que por relação genética  ou de outras etiologias este número seja ainda maior. O tratamento de cada um desses subtipos pode ser diferente, tanto no tratamento farmacológico como psicoterapêutico, sendo de extrema importância o diagnóstico correto do transtorno.

Se você anda sentindo que tem algo errado na sua vida e suspeita que pode estar em um quadro depressivo, mesmo que leve, procure um médico ou psicólogo de sua confiança para receber o diagnóstico e tratamento adequado!

Referências

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https://www.pfizer.com.br/sua-saude/sistema-nervoso-central/s%C3%ADndrome-pr%C3%A9-menstrual-spm-transtorno-disf%C3%B3rico-pr%C3%A9-menstrual-tdpm

https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/985

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