Você já conheceu uma pessoa extremamente rígida, que tem horários fixos e procedimentos inflexíveis para tudo? Pois bem, você pode ter conhecido uma pessoa que sofre do transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC), também chamada de personalidade anancástica.
Este transtorno é diferente do conhecido TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), pois tem sintomas bastante diferentes, mas tem algumas semelhanças como a necessidade de controle e a inflexibilidade em determinadas ocasiões.
O que é o transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva?
O transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (anancástica) é um transtorno caracterizado por preocupação demasiada com organização, perfeccionismo, sensação de dúvida constante, necessidade de verificações e de controle, resultando em uma rigidez excessiva.
Pessoas com TPOC tendem a ter bastante atenção aos detalhes, que junto com o perfeccionismo e a rigidez pode acabar prejudicando a realização de tarefas no dia-a-dia, seja por tomar mais tempo do que o necessário ou por não conseguir delegar e pedir ajuda para outras pessoas.
Não raramente, pessoas com esse transtorno se voltam para suas vidas profissionais, levando rotinas rígidas com listas, procedimentos e horários que devem ser seguidos à risca.
Grande parte das pessoas que sofrem com este transtorno não o percebem como algo prejudicial, considerando estes pensamentos e atitudes normais. Elas valorizam os traços que possuem e tentam fazer os outros ao seu redor se adaptarem aos seus padrões, pois acreditam que essa é a maneira correta de se fazer as coisas.
Tudo isso acaba causando prejuízos nas relações interpessoais, bem como frustrações, insegurança e ansiedade quando as coisas saem do controle da pessoa com TPOC.
O excesso de atenção aos detalhes e o perfeccionismo também podem causar prejuízos no dia-a-dia, pois essas pessoas tendem a demorar mais tempo para realizar tarefas, mesmo que simples, devido a necessidade de verificar com frequência se estão fazendo corretamente, reiniciar o procedimento em caso de suspeita de ter feito algo diferente do que deveria, entre outros.
Há também uma tendência maior à produtividade, buscando produtividade também em seus momentos de lazer ou até mesmo negligenciando o lazer como um todo. Não tirar férias ou arrumar mais trabalho para fazer durante o tempo livre são acontecimentos comuns na vida de pessoas com esse transtorno.
Até mesmo a expressão de sentimentos e emoções pode ser prejudicada pelo transtorno, tendo em vista que pessoas que sofrem de TPOC tendem a falar apenas depois de pensar cuidadosamente sobre o assunto, o que interfere na espontaneidade e na capacidade de expressão de pensamentos e emoções transitórios.
De acordo com a International OCD Foundation (OCDF), os homens tem mais chances de receberem um diagnóstico de transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva do que as mulheres. Além disso, estudos indicam que cerca de 2 a 7% da população tem TPOC, sendo este o transtorno de personalidade mais prevalente.
Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva versus TOC
Embora o nome seja parecido, o TOC e o TPOC são duas condições diferentes.
O TOC, transtorno obsessivo-compulsivo, é considerado um transtorno de ansiedade, tendo como principal característica a presença de pensamentos intrusivos (obsessões) e comportamentos compulsivos e repetitivos (também chamados de “rituais”), frequentemente emitidos para aliviar a angústia trazida pelas obsessões.
Já o TPOC é, como o próprio nome diz, um transtorno de personalidade. Em outras palavras, é um transtorno que influencia a personalidade do indivíduo como um todo, trazendo traços como perfeccionismo, preocupação exagerada com organização e necessidade de controle.
A pessoa com TPOC não necessariamente lida com pensamentos intrusivos igual às pessoas diagnosticadas com TOC. Contudo, vale ressaltar que é possível ter os dois transtornos ao mesmo tempo e pessoas com TOC mais severo podem ser erroneamente diagnosticadas com TPOC.
Os comportamentos do TOC geralmente são motivados pela sensação de perigo e são limitados a duas ou três áreas da vida, ao contrário do TPOC que tende a ser generalizado. Além disso, os sintomas de TOC podem ser considerados irracionais, enquanto os de TPOC podem ter uma justificativa racional.
Causas
Assim como em diversos transtornos mentais, não se sabe exatamente as causas do transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo. No entanto, suspeita-se que uma predisposição genética junto com a interação com o ambiente são alguns dos possíveis mecanismos que estão por trás do surgimento do problema.
O transtorno pode ter suas raízes na infância, especialmente se a pessoa cresceu em um ambiente controlador no qual sofria críticas frequentes ao realizar tarefas. O transtorno poderia ser visto, então, como uma tentativa de compensar por essas críticas — afinal, fazer tudo de forma regrada e perfeita certamente renderá mais elogios do que o contrário.
Os sintomas deste transtorno podem aparecer já durante a infância, o que corrobora com a ideia de que o ambiente em que a pessoa cresceu influencia no desenvolvimento do transtorno.
Sintomas e diagnóstico
Os sintomas do TPOC podem parecer traços da personalidade da pessoa, por isso seu diagnóstico pode não ser tão rápido.
A pessoa que sofre com este transtorno é geralmente bastante rígida consigo mesma e com os outros, espera que os outros sigam suas próprias regras e tenta forçá-las irracionalmente quando aqueles ao redor não as obedecem.
Essas pessoas podem ser vistas como teimosas por conta da inflexibilidade ao realizar suas atividades. Elas criam listas, regras, cronogramas e procedimentos para fazer suas tarefas, mesmo aquelas mais simples, de forma a transformar tudo em algo programado e meticuloso. Não raramente, isso faz com que essas pessoas se percam no seu objetivo principal durante a realização de uma tarefa ou projeto.
É comum também a negligência com os outros aspectos da vida, focando apenas na produtividade, seja por motivos profissionais ou até mesmo como hobby. São também muito fiéis a seus valores, ética e moral.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – 5ª edição (DSM-5), para que o diagnóstico de transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva seja feito, é necessário a presença de um padrão persistente de preocupação com a ordem, perfeccionismo e controle de si mesmo, dos outros e das situações.
Além disso, é necessário a presença de pelo menos 4 dos seguintes sintomas:
- Preocupação com detalhes, regras, horários, organização e listas;
- Esforço para fazer algo de modo perfeito, porém tal esforço interfere e prejudica a conclusão da tarefa;
- Devoção excessiva ao trabalho e à produtividade que não é motivada por questões financeiras, resultando em negligência das atividades de lazer e sociais;
- Retidão excessiva, meticulosidade e inflexibilidade em relação a questões e valores éticos e morais;
- Falta de disposição para descartar objetos desgastados ou sem valor, mesmo quando estes não tem nenhum valor sentimental;
- Relutância em delegar ou trabalhar com outras pessoas, a menos que essas pessoas concordem em seguir as regras e fazer as coisas exatamente como a pessoa deseja;
- Postura avarenta (“mão-de-vaca”) com os gastos consigo mesmo ou com outras pessoas, pois vê o dinheiro como algo a ser economizado para emergências futuras;
- Rigidez e teimosia.
Tratamento
O tratamento para TPOC é feito com medicação antidepressiva e psicoterapia. A medicação pode ajudar com pensamentos intrusivos e com a angústia que eventualmente ocorre quando as coisas fogem do controle da pessoa com este transtorno.
Além disso, a depressão é uma comorbidade bastante comum entre pacientes com TPOC, o que pode ajudar a manter os sintomas. Por isso, tratá-la com antidepressivos pode ajudar a aliviar os sintomas tanto da depressão quanto do transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo.
Na terapia, tem-se como foco a flexibilização dos traços deste transtorno, diminuindo assim a necessidade de controle demasiada, o perfeccionismo, a autocobrança e até mesmo a incapacidade de delegar tarefas.
Desta forma, pode-se aliviar o sofrimento causado por este transtorno tanto para o próprio paciente quanto para aqueles que convivem com ele.
O tipo de psicoterapia mais frequentemente indicado para TPOC é a terapia cognitivo-comportamental, mas terapias que estão dentro da análise do comportamento também podem ser eficazes.
Ter uma vida regrada pode ser bom até certo ponto, mas quando se torna algo que influencia demais o dia-a-dia e as relações interpessoais, talvez seja a hora de buscar ajuda. Se você se identificou com o que foi descrito, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!
Referências
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-obsessivo-compulsiva-tpoc
https://www.healthline.com/health/obsessive-compulsive-personality-disorder#treatment
https://www.verywellmind.com/ocd-vs-obsessive-compulsive-personality-disorder-2510584
https://www.psychologytoday.com/us/conditions/obsessive-compulsive-personality-disorder