Transtorno explosivo intermitente: quando acessos de raiva se tornam transtorno mental

Às vezes os acessos de raiva não são um mero desequilíbrio situacional. Entenda melhor sobre o Transtorno Explosivo Intermitente aqui!
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O transtorno explosivo intermitente (TEI) é caracterizado por episódios de perda de controle dos impulsos agressivos, o que pode levar a agressões verbais e/ou físicas contra pessoas, animais, objetos próprios e até mesmo propriedade alheia.

São as chamadas “explosões de raiva”, na qual aparentemente o indivíduo não tem controle algum sobre seus impulsos agressivos, e parecem pouco ligar se está machucando alguém importante para ele. A condição também é popularmente conhecida como “síndrome de Hulk”, devido às semelhanças com o comportamento do super herói fictício.

A reação agressiva é sempre desproporcional à situação, ou seja, a pessoa fica com muito mais raiva do que seria considerado adequado naquela situação. Não se trata daquela raiva explosiva que sentimos ao ver alguma injustiça ocorrendo, mas sim de uma pessoa apresentar essa mesma raiva explosiva por simplesmente perder as chaves do carro, por exemplo. Mesmo que a pessoa esteja atrasada ou esteja em um dia ruim, ainda não é o suficiente para explicar a intensidade dessa reação diante de um fato tão corriqueiro.

O TEI faz parte da categoria dos transtornos de controle de impulsos, e as explosões de raiva tem essa característica de serem impulsivas e não terem nenhum objetivo definido. Ou seja, nenhuma das ações do indivíduo é premeditada, ele apenas tem dificuldade em controlar seus impulsos.

Em geral, as crises ocorrem seguidas de um sentimento de tensão crescente, que chega em seu ápice e a pessoa “explode”. Depois disso, ela sente alívio instantaneamente, e logo depois frequentemente surgem sentimentos de culpa, remorso e vergonha.

Geralmente, os primeiros sintomas de TEI se apresentam no final da infância ou na adolescência, e continua até a vida adulta. Vale lembrar que é comum que adolescentes apresentem comportamentos mais opositivos, porém no caso do TEI se trata de comportamentos extremamente agressivos que podem levar a graves prejuízos.

Se não tratado durante a adolescência, é possível que, na vida adulta, a pessoa passe a apresentar episódios depressivos, algum transtorno de ansiedade ou até mesmo uso abusivo de substâncias.

O TEI é mais frequente em homens, e alguns sinais de que um homem pode apresentar este transtorno são um histórico de acidentes de carro, impulsividade sexual que pode levar a abusos sexuais, entre outros.

O consumo de álcool pode piorar os sintomas, tendo em vista que o álcool “desliga” a parte do cérebro responsável pelo controle de impulsos.

Sintomas e diagnóstico

Os principais sintomas do TEI são:

  • Sentimentos de raiva;
  • Sensação de tensão se acumulando;
  • Irritabilidade;
  • Pensamentos rápidos;
  • Tremores;
  • Palpitações;
  • Aperto no peito;
  • Sensação de mais ter mais energia;
  • Gritos;
  • Entrar em brigas com frequências;
  • Tentar argumentar em situações nas quais não há necessidade;
  • Ameaçar os outros;
  • Agressão a pessoas ou animais;
  • Danificar propriedade (própria ou alheia).

Em geral, estes sintomas se apresentam de forma episódica, ou seja, são episódios nos quais o indivíduo falha em controlar seus impulsos agressivos. Tais episódios têm duração de menos de 30 minutos e, como resultado, pode haver agressão física, destruição de propriedade.

Os episódios agressivos podem envolver jogar objetos (mesmo objetos de valor), brigar com as pessoas por nenhuma razão específica, agressividade no trânsito, abuso doméstico, entre outros.

Contudo, esses prejuízos mais graves não são um critério necessário em todos os episódios para que haja o diagnóstico: é possível realizá-lo caso a pessoa apresente episódios mais amenos, porém ainda de intensidade desproporcional à situação, ao menos 2 vezes por semana ao longo de 3 meses.

Também é possível fazer o diagnóstico quando a pessoa tem 3 episódios de agressão que resultam em destruição de propriedade ou agressões físicas a pessoa e animais ao longo de 12 meses (1 ano).

Vale ressaltar que, para o diagnóstico de TEI, é preciso que essas explosões não sejam explicadas por algum outro transtorno mental subjacente, como os transtornos de personalidade antissocial e borderline, transtornos de humor, transtornos psicóticos, transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou o uso de medicação ou drogas de abuso.

Existe uma causa específica para o TEI?

Assim como em grande parte dos transtornos mentais, o transtorno explosivo intermitente é um transtorno multifatorial, ou seja, não possui uma causa definitiva, mas é influenciado por diversos fatores que ocorrem na vida do indivíduo.

A maior parte das pessoas que desenvolvem o TEI viveram em famílias nas quais o comportamento impulsivo e explosivo era comum, bem como o abuso verbal e/ou físico eram uma realidade frequente. Quando uma criança é exposta a tanta violência durante a infância, são grandes as chances de ela desenvolver um traço mais violento e explosivo durante seu desenvolvimento.

É possível, também, que haja alguns componentes genéticos envolvidos. Por isso, mesmo que muitas pessoas vivam em ambientes mais violentos, nem todas acabam desenvolvendo o transtorno explosivo intermitente, o que indica que o transtorno é o resultado da interação entre genes e ambiente.

Em geral, o TEI é diagnosticado antes dos 35 anos de idade, e é possível que haja uma ligação entre alguns neurotransmissores e o transtorno, como é o caso da serotonina.

Tratamento

Não existe um tratamento específico para o transtorno explosivo intermitente, mas pesquisas mostram que uma combinação de medicamentos (antidepressivos, ansiolíticos e/ou estabilizadores de humor) e psicoterapia pode ajudar a controlar os acessos de raiva.

A psicoterapia, em especial a terapia cognitivo-comportamental, pode ajudar o paciente a modificar seus comportamentos e sua cognição a fim de evitar os acessos de raiva ou, se isso não for possível, ao menos conseguir controlar um pouco melhor a intensidade destes acessos.

A terapia cognitivo-comportamental trabalha com a reestruturação cognitiva, que ajuda o paciente a compreender como, quando e porquê ocorrem os episódios agressivos, ou seja, identificar os gatilhos que podem causar os acessos de raiva.

Desta forma, é possível aprender formas diferentes de lidar com estes gatilhos ou, se possível, eliminá-los como um todo da vida do paciente, ajudando a diminuir os episódios.

Complicações

Caso não tratado, o transtorno explosivo intermitente pode trazer uma série de complicações, como:

Problemas com a justiça

Devido a extensão dos prejuízos causados pelos acessos de raiva, não é raro que o paciente com TEI se envolve em problemas com a lei.

Agressividade no trânsito, agressão física, violência doméstica e depredação de propriedade são fenômenos frequentemente ligados ao transtorno explosivo intermitente e, portanto, um TEI não tratado aumenta as chances de uma pessoa se envolver na justiça desta forma.

Vale lembrar que o TEI não é o único motivo pelo qual esses fenômenos ocorrem, sendo que existem diversos outros transtornos que podem levar uma pessoa a essas ações, e também existem pessoas sem nenhum diagnóstico que podem cometer estes crimes.

Portanto, não se trata de uma correlação causal absoluta, mas sim de um fator que aumenta as chances de se envolver nesse tipo de situação.

Suicídio

Embora a ideação suicida não seja frequentemente associada à sintomatologia do TEI, ainda existe um risco de suicídio entre os indivíduos que apresentam este transtorno.

Isso por conta da alta impulsividade, que pode levar a situações nas quais a pessoa se arrisca sua própria vida. Além disso, frequentemente o TEI é acompanhado de episódios depressivos ou transtornos de uso de substância, que também tem uma grande correlação com o suicídio.

Você sente que tem explosões de raiva com frequência e tem medo de acabar machucando as pessoas ou os animais ao seu redor? Ou já percebeu ter um padrão de comportamento que envolve a destruição de propriedade e violência contra objetos? Não hesite em entrar em contato com um psicólogo ou psiquiatra, pois só assim poderá ter acesso ao tratamento adequado para o seu caso!

Referências

https://hospitalsantamonica.com.br/transtorno-explosivo-intermitente/

https://www.psychologytoday.com/us/conditions/intermittent-explosive-disorder

https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/17786-intermittent-explosive-disorder

https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/intermittent-explosive-disorder/symptoms-causes/syc-20373921

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