Existem muitos tipos de transtornos psiquiátricos, como os transtornos de humor e os transtornos ansiosos. Porém, uma outra categoria de transtornos menos conhecida mas que traz prejuízos igualmente significativos são os transtornos de personalidade.
Neste artigo, você irá entender melhor sobre o que é a personalidade, o que são os transtornos de personalidade e quais são os tipos existentes na 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).
O que é personalidade?
A personalidade pode ser descrita como diferenças individuais em padrões característicos de pensar, sentir e agir, de acordo com a Associação Americana de Psicologia (APA).
Em outras palavras, a personalidade é o que torna cada pessoa única e está profundamente atrelada à identidade de um indivíduo, sendo relevante tanto no contexto pessoal quanto social.
Existem traços de personalidade que são universais, mas cada pessoa irá apresentar esses traços em intensidades e expressões diferentes. Portanto, mesmo pessoas com traços parecidos podem expressar suas personalidades de maneiras completamente diferentes.
Vale ressaltar que a personalidade é formada por uma série de fatores, como experiências pessoais, componentes fisiológicos determinados geneticamente (como o temperamento), bem como influências da sociedade na qual o indivíduo está inserido.
Embora grande parte dos traços de personalidade sejam adquiridos durante a infância, a personalidade não é imutável, ou seja, ela pode sofrer variações ao longo da vida de acordo com o que é vivenciado pelo indivíduo.
O que são os transtornos de personalidade?
Os transtornos de personalidade são transtornos mentais que surgem quando os traços de personalidade da pessoa se tornam excessivamente rígidos, resultando em formas de pensar e agir que podem ser vistas como problemáticas na nossa sociedade.
Por conta desses padrões rígidos, geralmente os transtornos de personalidade causam prejuízos na capacidade de perceber e interagir de forma ajustada às situações, resultando em comportamentos danosos às relações interpessoais, à vida profissional e demais atividades.
Os transtornos de personalidade afetam principalmente a identidade e o funcionamento interpessoal do indivíduo.
Em relação a identidade, a pessoa pode apresentar problemas como instabilidade na autoimagem e inconsistência em seus valores e objetivos. Isso pode aparecer por meio de alterações frequentes nos gostos, preferências, planos para o futuro e aparência, por exemplo.
Já no funcionamento interpessoal, pessoas com transtornos de personalidade frequentemente apresentam dificuldades em estabelecer ou manter relacionamentos íntimos. Dependendo do transtorno, é possível que haja falta de sensibilidade (empatia) com as outras pessoas.
Quanto às causas destes transtornos, acredita-se que a maioria esteja relacionado a uma combinação de fatores genéticos e ambientais, ou seja, a interação entre os genes e o ambiente é o que faz com que o transtorno apareça.
Em geral, os transtornos de personalidade surgem no final da adolescência ou início da vida adulta. Há casos em que sintomas podem surgir já na infância. No entanto, o diagnóstico costuma ser feito apenas na idade adulta, já que, durante a adolescência, a personalidade ainda é muito influenciável e pode sofrer alterações significativas.
Quais os tipos de transtornos de personalidade?
Ao total, conhecem-se 10 transtornos de personalidade que são divididos entre 3 grupos:
Grupo A: Transtornos excêntricos ou estranhos
Os transtornos de personalidade do grupo A são transtornos caracterizados por comportamentos e formas de pensar excêntricas. Tais transtornos são:
- Transtorno de personalidade Paranóide: Caracterizado por um padrão de pensamento no qual os outros são vistos como maldosos e/ou rancorosos. A pessoa com esse transtorno de personalidade assume frequentemente que os outros estão tentando prejudicá-la.
- Transtorno de personalidade Esquizóide: Desapego às relações sociais e à expressão de emoções. Pessoas com este transtorno não buscam relações íntimas com os outros, preferem o isolamento, mas não apresentam reações emocionais aos elogios ou críticas de outras pessoas.
- Transtorno de personalidade Esquizotípica: Pessoas que se mostram bastante desconfortáveis com relações mais íntimas, com padrões de pensamento e comportamento excêntrico e distorcido. Essas pessoas podem ter crenças e comportamentos considerados esquisitos e/ou peculiares.
Grupo B: transtornos dramáticos, imprevisíveis ou irregulares
O grupo B se refere aos transtornos nos quais o comportamento e os pensamentos são imprevisíveis e caracterizados por emoções desproporcionais e grande dramaticidade. São eles:
- Transtorno de personalidade Antissocial: Caracterizado por um padrão de comportamento que desrespeita ou viola os direitos das outras pessoas. Uma pessoa com este transtorno de personalidade pode não se conformar às normas sociais e não demonstra remorso ao mentir ou enganar os outros.
- Transtorno de personalidade Borderline (Limítrofe): Neste transtorno, há um padrão de relações interpessoais instáveis, emoções intensas, prejuízo na autoimagem e impulsividade. A pessoa com este transtorno pode se esforçar demasiadamente para evitar o abandono (real ou percebido), podendo expressar raiva intensa e desproporcional. Há também sentimentos crônicos de vazio e, não raramente, apresenta tentativas de suicídio repetidas.
- Transtorno de personalidade Histriônica: Caracterizado por emoções excessivas e necessidade de chamar a atenção. Pessoas com este transtorno se sentem desconfortáveis quando não são o centro das atenções, frequentemente usam a aparência para chamar a atenção e vivenciam emoções de forma intensa e volátil.
- Transtorno de personalidade Narcisista: Neste transtorno, há um padrão de necessidade de admiração e falta de empatia pelos outros. Pessoas com este transtorno apresentam um sentimento de importância grandioso, sentem-se no direito de tudo, incluindo de tirar vantagem das outras pessoas.
Grupo C: Transtornos ansiosos ou receosos
Por fim, o grupo C é composto por transtornos de personalidade caracterizados por comportamentos e pensamentos ansiosos e temerosos. Os transtornos são:
- Transtorno de personalidade Evitativa: Também chamado de “esquiva”, as pessoas com este transtorno evitam interações sociais e apresentam grande sensibilidade ao receber julgamentos negativos de outras pessoas;
- Transtorno de personalidade Dependente: Neste transtorno, a pessoa tem necessidade de ser cuidada com frequência, apresentando grande angústia ao ficar sozinha e ter que tomar decisões por si mesma. Há uma tendência à submissão e tolerância em relações abusivas;
- Transtorno de personalidade Obsessivo-compulsiva: Diferentemente do TOC, no transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva, a pessoa não apresenta rituais e pensamentos intrusivos, mas sim uma preocupação excessiva com regras e ordem, levando uma vida com estrutura rígida e perfeccionismo.
Os transtornos de personalidade têm cura? Qual o tratamento?
Embora os transtornos de personalidade não possuam uma cura definitiva, é comum que em vários casos os sintomas diminuam com o tempo, mesmo sem tratamento, a depender do tipo de transtorno.
No entanto, por conta das consequências dos comportamentos expressos pelo transtorno, muitas pessoas buscam tratamento a fim de diminuir os danos causados por tais comportamentos.
Geralmente, o tratamento para os transtornos de personalidade são feitos por meio de psicoterapia, uma vez que o objetivo é ajudar a flexibilizar os traços de personalidade e aumentar o repertório de comportamentos diante das situações.
A psicoterapia pode ser individual ou em grupo, e geralmente o envolvimento de familiares e amigos próximos pode ser bastante útil a fim de trabalhar questões que reforçam ou diminuem os comportamentos indesejados da pessoa com o transtorno.
Vale ressaltar que, no caso dos transtornos de personalidade, a psicoterapia tende a ser de longa duração, tendo em vista que os traços de personalidade problemáticos podem demorar mais de ano para sofrerem mudanças significativas.
Além disso, não é raro que pessoas com transtornos de personalidade acabem desenvolvendo comorbidades como depressão e ansiedade, por exemplo. Nestes casos, podem ser utilizados medicamentos psiquiátricos a fim de aliviar os sintomas dessas comorbidades.
O uso de medicação pode acabar ajudando também nos próprios sintomas dos transtornos de personalidade, por exemplo, se eles possuem algum componente de desregulação emocional, como é o caso do transtorno de personalidade borderline.
Os transtornos psiquiátricos mais conhecidos geralmente estão relacionados às emoções e sentimentos. No entanto, existem transtornos que não necessariamente possuem sintomas afetivos e que podem causar prejuízos significativos na vida das pessoas, como é o caso dos transtornos de personalidade.
Por conta dos problemas na identidade e mas relações interpessoais, é possível que a pessoa que sofre de um transtorno de personalidade acabe desenvolvendo outros transtornos, como a depressão ou os transtornos ansiosos.
Portanto, se você se identificou com algum dos transtornos aqui mencionados, não hesite em buscar a ajuda de um profissional da saúde mental a fim de melhorar sua qualidade de vida e evitar maiores complicações!
Referências
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/vis%C3%A3o-geral-dos-transtornos-de-personalidade
https://psychiatry.org/patients-families/personality-disorders/what-are-personality-disorders
https://www.pfizer.com.br/noticias/ultimas-noticias/o-que-sao-transtornos-de-personalidade
