Vício em jogos eletrônicos e de azar: Quais os sintomas? Há tratamento?

O vício em jogos pode ser tão prejudicial quanto outros tipos de vício. Entenda melhor aqui!
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Os jogos são atividades recreativas, geralmente competitivas e estruturadas, que tem como objetivo o entretenimento. Em geral, são atividades que podem trazer desafios, interações com outras pessoas e o desenvolvimento de habilidades para atingir objetivos, sendo uma atividade lúdica importante no desenvolvimento infantil.

No entanto, os jogos não são atividades apenas para crianças. Uma série de jogos são desenvolvidos para pessoas maduras, promovendo momentos de diversão e socialização.

Quando há equilíbrio entre o lazer e as obrigações, a presença de jogos na vida de pessoas adultas pode ajudar muito a manter uma boa qualidade de vida e saúde mental. Contudo, há casos em que jogar pode se tornar um problema: é quando a pessoa passa a desenvolver um vício nos jogos.

Esse vício em jogos pode surgir em diversos tipos de jogos, sendo mais comum no caso dos jogos de azar e nos jogos eletrônicos. Neste texto, iremos discutir os fatores associados ao vício em jogos, bem como os sintomas deste transtorno e possibilidades de tratamento.

O que é o vício em jogos?

O vício em jogos é um transtorno caracterizado pela dificuldade em estabelecer limites na atividade de jogar. Neste transtorno, a pessoa se torna dependente de estar jogando, investindo muitas horas e até mesmo dinheiro nos jogos, demonstrando irritabilidade e sentimentos de angústia em situações em que não pode jogar.

O transtorno é reconhecido na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) como jogo patológico, com o código F63.0. Nessa classificação, não há distinção entre jogos eletrônicos e de azar, bem como não distingue jogos de apostas e cassinos online dos cassinos reais.

De acordo com o CID-10, o transtorno consiste na presença de episódios de jogo que dominam a vida da pessoa, prejudicando seus compromissos sociais, profissionais e familiares. Não raramente, o vício em jogos também causa problemas financeiros.

O vício em jogos não consta na 5ª edição Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), livro usado como principal guia para o diagnóstico de transtornos psiquiátricos. No entanto, na parte de vícios, o manual cita “apostas” como uma possibilidade vício.

Vale ressaltar que existem pessoas entusiastas de jogos, popularmente conhecidas como “gamers”, que não apresentam vício em jogos, sendo simplesmente um hobby ou até mesmo uma profissão. Estima-se que de todos os jogadores, entre 1 e 9% chegam a desenvolver sintomas de vício em jogos, sendo, portanto, uma condição não tão comum quanto se imagina.

O problema também é mais frequente em homens do que em mulheres, embora isso possa se dar por conta de papéis de gênero que incentivam a atividade em meninos logo na infância. No entanto, a população feminina entusiasta de jogos vem crescendo consideravelmente, o que pode modificar essa estatística futuramente.

Tipos de vício em jogos

Embora não exista uma distinção formal entre o vício em diferentes tipos de jogos, é possível entender que existem dois tipos de vício: o vício em jogos de azar e o vício em jogos eletrônicos.

Vício em jogos de azar

Os jogos de azar são aqueles conhecidos como jogos de aposta, geralmente representados na mídia dentro de cassinos, por exemplo. No entanto, esses jogos também podem existir de forma ilegal, como é o caso do famoso jogo do bicho. O fenômeno recente dos sites de apostas também podem levar a esse vício.

No imaginário popular, pessoas com esse tipo de vício geralmente são descritas como “viciadas em apostas”, e não no jogo em si. Isso porque o que faz a pessoa voltar a jogar com frequência é justamente a possibilidade de ganhar as apostas, e não necessariamente o jogo em si. Em outras palavras, a pessoa pode participar de vários jogos de azar diferentes ao invés de ter vício em um jogo só, por exemplo.

Nos jogos de azar, o dinheiro está envolvido na grande maioria das vezes. Se não dinheiro, a pessoa pode apostar outros objetos de valor, chegando até mesmo a ter problemas familiares por pegar posses de outras pessoas para apostar, ou por causar problemas financeiros ao lar.

Vício em jogos eletrônicos

Já o vício em jogos eletrônicos se difere por ser mais uma questão de tempo do que de perdas financeiras diretas. Em outras palavras, o vício em jogos eletrônicos é caracterizado por longos períodos de jogatina que podem ou não envolver trocas monetárias, mas de forma indireta.

Ao invés de apostar dinheiro, a pessoa passa muito tempo jogando, sacrificando outras atividades importantes do dia-a-dia, como estudos, trabalho, vida social, relacionamentos, entre outros. Não raramente, jogos eletrônicos possuem também um sistema de cash, em que a pessoa utiliza dinheiro real para comprar uma moeda especial no jogo e ter acesso a itens exclusivos. Desta forma, o dinheiro gasto com estes jogos não são uma aposta, mas esse gasto pode trazer prejuízos financeiros igualmente se for demasiado.

Como ocorre o vício em jogos?

Frequentemente, os jogos mexem com o sistema de recompensa do cérebro, que é um dos principais sistemas envolvidos nos vícios, independente do tipo (drogas, compras etc.).

Cada vitória no jogo libera mais dopamina, o principal neurotransmissor relacionado à motivação, fazendo com que a pessoa tenha mais motivação para jogar novamente, ainda que nem sempre alcance uma vitória. Quanto mais a pessoa perde, mais prazerosa é a eventual vitória e, portanto, mais ela reforça o comportamento de continuar jogando.

É por conta disso que, mesmo quando se trata de jogos de azar, em que o resultado é determinado pelo mero acaso, a pessoa continua confiante de que irá conseguir ganhar e segue investindo, ainda que isso traga prejuízos a longo prazo.

Além disso, quando se trata de jogos eletrônicos, o fenômeno das conquistas e rankings influenciam ainda mais nesse sistema de recompensa, aumentando as chances de desenvolver um vício.

Como grande parte dos jogos são competitivos, há também o fenômeno pay to win (“pague para ganhar”, em tradução livre), no qual a pessoa utiliza de dinheiro real para comprar itens dentro do jogo que lhe concedem vantagens em relação às pessoas que usam apenas os itens disponibilizados gratuitamente. Vitórias adquiridas com esses itens reforçam o comportamento de comprar mais itens com dinheiro real, mesmo que isso traga prejuízos financeiros ao jogador.

Outro ponto importante no vício em jogos eletrônicos é a disponibilidade dos jogos no dia-a-dia. Antigamente, quando não existiam consoles pessoais, as pessoas precisavam ir até um fliperama para jogar. Hoje em dia, com a popularização dos smartphones, há milhares de títulos disponíveis para serem jogados a qualquer momento e em qualquer lugar. Grande parte desses títulos possuem também itens que podem ser desbloqueados com dinheiro real e, considerando que grande parte das pessoas possuem os dados do cartão de crédito salvos no celular, torna-se muito mais fácil gastar quantias exageradas nesses jogos sem perceber.

Causas do vício em jogos

Até hoje, não foi identificada uma causa específica para o vício em jogos. No entanto, alguns fatores de risco associados são:

  • Isolamento social;
  • Presença de transtornos mentais adjacentes não tratados, como depressão e ansiedade;
  • Falta de apoio familiar;
  • Histórico familiar de vícios;
  • Sentimentos crônicos de tédio;
  • Necessidade de dinheiro (jogos de azar);
  • Desejo por aumentar o status social.

É importante ressaltar que a presença desses fatores nem sempre resulta no vício em jogos, bem como o desenvolvimento do vício em jogos não depende desses fatores. Além disso, grande parte desses fatores são comuns ao desenvolvimento de diversos tipos de vício, não apenas em jogos.

Sintomas: como saber se uma pessoa tem vício em jogos?

Os sintomas do vício em jogos costumam ser bastante evidentes, mas quem percebe melhor são os familiares e amigos. São eles:

  • Dedicar muitos recursos (energia, tempo ou dinheiro) ao jogo;
  • Priorizar o jogo acima de outras atividades, chegando a negligenciar completamente outras esferas da vida para continuar jogando;
  • Necessidade de passar mais e mais tempo jogando para se sentir bem;
  • Dificuldades de concentração;
  • Dificuldades de regulação emocional (descontrole emocional), especialmente durante a jogatina;
  • Diminuição das habilidades sociais;
  • Aumento da impulsividade;
  • Dores musculares por passar horas em postura inadequada enquanto joga;
  • Dores de cabeça e enjôo por passar tempo demais diante da tela;
  • Criação de dívidas;
  • Pensar sobre o jogo com muita frequência, podendo influenciar a capacidade de funcionar no momento presente em que não está jogando;
  • Sentimentos de ansiedade ao não estar jogando;
  • Jogar para aliviar sentimentos negativos e desagradáveis;
  • Mentir sobre a quantidade de tempo que passa jogando;
  • Isolamento social.

Como tratar o vício em jogos?

O vício em jogos é tratado da mesma forma que diversos outros vícios: por meio da psicoterapia e, se possível, grupos de apoio.

Na psicoterapia, a pessoa aprende a identificar os sentimentos e comportamentos que a levaram a desenvolver o vício, podendo então agir sobre eles para ir direto na raiz do problema. Além disso, o terapeuta pode ajudar o paciente a aumentar seu repertório comportamental, ou seja, desenvolver novos comportamentos saudáveis para não precisar recorrer aos jogos quando estiver lidando com alguma das situações que serve de gatilho para o comportamento de jogar.

Já nos grupos de apoio, a pessoa pode encontrar outras que lidam com os mesmos problemas, ajudando a criar uma identificação e melhorando a sociabilidade, fator que é conhecido por ajudar na luta contra vícios, sejam eles químicos ou psicológicos.

Em outros casos, quando a pessoa apresenta também algum transtorno mental adjacente, o tratamento psiquiátrico pode ser de grande importância para combater o vício. O uso de medicamentos pode ajudar a equilibrar o fluxo dos neurotransmissores no cérebro, tendo uma influência saudável no humor e nos comportamentos apresentados.

Por fim, existem também clínicas de reabilitação que estão se especializando no tratamento do vício em jogos, e também podem ser uma alternativa para pessoas que estão buscando tratamento.

Embora o problema do vício seja mais conhecido pelo vício em substância, existem também outros tipos de vício que podem prejudicar bastante a vida de uma pessoa, como o vício em jogos. Se você ou alguém que você conhece apresenta sinais deste problema, não hesite em procurar ajuda profissional!

Referências

https://www.hidoctor.com.br/cid10/p/capitulo/5/grupo/F70-F79/categoria/F63/subcategoria/F630
https://www.webmd.com/mental-health/addiction/video-game-addiction
https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/23124-video-game-addiction
https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/compulsive-gambling/symptoms-causes/syc-20355178
https://www.addictioncenter.com/drugs/gambling-addiction/

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