O TEPT surge a partir de situações traumáticas, que ameaçam direta ou indiretamente a vida ou o bem estar subjetivo do indivíduo. Nos dias atuais, existem diversos problemas que podem provocar traumas, como é o caso da violência urbana.
O que é violência urbana?
Violência urbana é um termo usado para conceituar as situações de violência que existem dentro das cidades, especialmente em cidades grandes e bem desenvolvidas, como capitais e regiões metropolitanas.
Por “violência urbana”, entende-se comportamentos que infringem a lei e a ordem pública no contexto urbano, tanto em metrópoles quanto em cidades menores. Como exemplo de ações de violência urbana estão os assaltos, o tráfico de drogas, homicídios e até mesmo a violência doméstica.
Em geral, a criação de cidades veio para trazer segurança às pessoas, afastando a comunidade de perigos como animais ferozes, construindo infraestruturas para abrigar pessoas durante tempestades e vendavais, garantir o acesso a alimentos e demais recursos, entre outros. No entanto, isso não significa que conseguimos nos livrar de todos os perigos que podemos sofrer.
Questões como desigualdade social, tráfico de drogas, formação de gangues, entre outros, são fenômenos que ocorrem dentro das grandes cidades e que acabam expondo a população a conflitos e situações nas quais suas vidas são ameaçadas, levando a uma maior possibilidade de desenvolver um transtorno de estresse pós-traumático.
Estas violências podem ser tão recorrentes que submetem a população a uma situação de impacto psicológico semelhante ao impacto causado pelas guerras. Nos Estados Unidos, há estudos que mostram que a prevalência de TEPT é muito parecida tanto entre moradores de áreas urbanas quanto entre veteranos de guerra.
Dentro dos centros urbanos, é mais comum que homens se envolvam em situações de ataque físico, com ou sem armas, acidentes, combates ou até mesmo testemunhem mortes ou ferimentos graves. Já no caso das mulheres, é mais comum a exposição a situações de violência interpessoal, como abusos físicos e sexuais.
VIolência urbana no Brasil
O Brasil é considerado um dos países com maiores índices de violência urbana, evidenciando que se trata de um problema grave, que torna a segurança pública um dos assuntos mais discutidos no dia-a-dia.
Todos os anos, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) realizam pesquisas em relação ao índice de violência no país, o que dá origem a um documento chamado Atlas da Violência.
No ano de 2019, foram registrados 45.503 homicídios no Brasil. Não se trata de uma situação generalizada, já que grande parte desses números vêm de estados específicos, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Bahia. Ainda assim, sabe-se que a violência é um problema recorrente na maioria das metrópoles brasileiras.
A desigualdade social é um fator marcante da violência urbana no Brasil, tendo em vista que grande parte dos homicídios são de homens e meninos negros de baixa renda. A violência nas favelas é uma realidade da qual todo brasileiro, mesmo quem mora em cidades pequenas, ouve falar.
Outro fator marcante tanto nas cidades grandes quanto pequenas é a violência de gênero. O feminicídio é um termo usado para designar homicídios femininos que ocorrem motivados por questões de gênero.
TEPT versus neurose de guerra
Antes da descrição oficial do transtorno de estresse pós-traumático, muitos soldados em guerra eram acometidos por sintomas similares.
Na Primeira Guerra Mundial, soldados que apresentavam confusão mental, tremores, pesadelos, dificuldades de concentração, fadiga, paralisia, taquicardia, entre outros, eram considerados covardes que estariam fugindo da batalha. Alguns foram condenados à morte por conta disso.
Contudo, os próprios soldados sabiam que não se tratava de covardia e deram um nome para essa série de sintomas que os colegas apresentavam: “shell shock”, ou “choque de casca” em tradução livre. O nome viria por conta de ser um choque causado pelas cápsulas de projéteis durante o combate armado.
Posteriormente, as autoridades perceberam que a condição era uma resposta aos traumas gerados pelo combate, recebendo então o nome “neurose de guerra”.
A neurose de guerra não necessariamente é a mesma coisa que o TEPT, pois não é um diagnóstico real. Em outras palavras, o termo “neurose de guerra” pode ser popular, mas não tem o status de nomenclatura oficial da condição.
Atualmente, os soldados que apresentam estes sintomas de neurose de guerra são diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático.
Como é feito o diagnóstico de TEPT?
O diagnóstico do transtorno de estresse pós traumático é feito com base na presença das seguintes características:
- Intrusão: Pensamentos intrusivos, memórias involuntárias e repetidas, pesadelos e flashbacks dos eventos traumáticos;
- Evitação: Comportamento evitativo em relação a situações que podem lembrar ao evento traumático, como deixar de ir em certos lugares, evitar certas situações, entre outros;
- Alterações cognitivas ou no humor: Percepção de eventos normais como ameaçadores, humor deprimido ou irritável;
- Alterações na vigília: Desenvolvimento de hipervigilância, provocando reatividade exagerada às situações.
Para ter o diagnóstico de TEPT, estes sintomas devem surgir cerca de 1 mês após o evento traumático. Porém, mesmo com todos estes critérios, apenas após uma avaliação cuidadosa de um psiquiatra é que pode-se confirmar o diagnóstico.
Outros transtornos relacionados a conflitos armados
Apesar do TEPT ser o mais conhecido, pessoas que vivem em zonas nas quais existem conflitos armados têm a saúde mental prejudicada por outros transtornos também.
Mesmo que não desenvolvam estresse pós-traumático, não é raro que pessoas que vivem em tais áreas acabam desenvolvendo sintomas de depressão e ansiedade.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 9% das pessoas em populações afetadas por conflitos apresentam um transtorno mental moderado ou grave.
Dentre os transtornos pesquisados, estão depressão, ansiedade, TEPT, transtorno bipolar e esquizofrenia.
O transtorno de estresse pós-traumático é mais comum do que se imagina, especialmente em áreas nas quais existe bastante violência urbana.
Se você passou por algum evento traumático como os descritos no texto e suspeita que pode estar apresentando sintomas de TEPT, não hesite em procurar ajuda profissional!
Referências
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/
https://www.propublica.org/article/the-ptsd-crisis-thats-being-ignored-americans-wounded-in-their-own-neighbor
https://www.facesofptsd.com/inner-city-violence-ptsd
https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-race-good-health/201811/ptsd-in-the-city-coping-in-silence
http://www.facesofptsd.com/civilian-ptsd-resources-blog/2015/10/15/inner-city-violence-ptsd-a-hidden-epidemic
https://www.motherjones.com/politics/2014/02/ptsd-among-wounded-americans-in-violent-neighborhoods/
https://edition.cnn.com/2014/03/27/health/urban-ptsd-problems/index.html
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5107154/
https://www.apa.org/monitor/2012/06/shell-shocked
https://news.un.org/pt/story/2019/06/1675871