Embora grande parte dos transtornos mentais possam ser tratados com medicamentos e técnicas de neuromodulação, frequentemente é recomendado que o paciente também faça psicoterapia simultaneamente.
Isso porque, ao longo dos anos, surgiram muitas evidências de que a psicoterapia pode ajudar a potencializar os efeitos de diversos tratamentos psiquiátricos. Existem até mesmo transtornos que são tratados somente com psicoterapia, embora estes sejam minoria, e depende muito do psiquiatra responsável analisar se o paciente realmente se beneficiaria apenas com a psicoterapia.
Neste artigo, iremos explorar um pouco melhor a forma em que a psicoterapia pode ajudar no tratamento de transtornos mentais em conjunto com a Estimulação Magnética Transcraniana de Repetição (EMTr).
O que é Estimulação Magnética Transcraniana de Repetição (EMTr)?
A Estimulação Magnética Transcraniana é uma técnica de neuromodulação frequentemente usada para o tratamento da depressão em casos nos quais o paciente não responde bem aos tratamentos convencionais (medicação e psicoterapia).
Trata-se de uma técnica não-invasiva e altamente eficaz, que é feita em sessões de 20 a 50 minutos com o paciente consciente, sem a necessidade de sedação ou relaxantes musculares. A técnica é indolor e não apresenta os efeitos colaterais comumente encontrados no tratamento medicamentoso.
A EMTr utiliza pulsos magnéticos que agem no córtex cerebral influenciando as sinapses para torná-las mais eficientes e combater os sintomas dos transtornos de humor.
É indicada para tratar a depressão unipolar, a depressão refratária (resistente ao tratamento), depressão bipolar, bem como alucinações auditivas em pacientes com esquizofrenia.
Você pode conferir mais sobre a EMTr e como ela funciona no seguinte artigo: Estimulação Magnética Transcraniana (EMT): O que é, funciona?
Como funciona a psicoterapia?
A psicoterapia é um processo terapêutico no qual a principal ferramenta é a fala. Na psicoterapia, paciente e terapeuta exploram questões mais profundas trazidas pelo paciente, podendo assim identificar fatores que acabam auxiliando na manutenção de sintomas dos transtornos mentais.
Com frequência, os transtornos mentais alteram a forma que uma pessoa vê o mundo, fazendo com que tenha pensamentos irrealistas acerca das situações, o que pode contribuir para manter o humor abalado ou gerar sintomas ansiosos, por exemplo.
Na terapia, busca-se questionar e elaborar essas percepções, provocando mudanças profundas e que a longo prazo podem permitir uma remissão dos sintomas, coisa que a medicação sozinha é incapaz de fazer.
Embora a medicação possa provocar a remissão dos sintomas, essa remissão não se sustenta quando a medicação é tirada; já os efeitos da psicoterapia duram mesmo anos após o término do processo psicoterapêutico.
É válido ressaltar que a psicoterapia pode ser feita de maneiras muito diferentes, conhecidas como “abordagens da psicologia”. Atualmente, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) possui uma série de abordagens regulamentadas que trazem resultados significativos para os pacientes, mas nem todas são indicadas para qualquer paciente.
A abordagem escolhida depende de uma série de fatores, como objetivo da psicoterapia, diagnóstico do paciente, evidências científicas da eficácia para o tratamento de determinadas questões, entre outros.
Atualmente, as terapias com o maior número de evidências científicas são as terapias baseadas na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e na Análise do Comportamento (AC).
Se você quiser ler mais sobre psicoterapia e como funciona, confira nosso artigo: Psicoterapia: como é? Funciona?
EMTr e psicoterapia possuem um efeito sinérgico
Sinergia é um termo da fisiologia usado para descrever quando há ação simultânea de um ou mais órgãos ou substâncias a fim de promover um resultado. Em outras palavras, é quando duas coisas trabalham juntas em prol de um objetivo em comum.
No caso dos tratamentos de transtornos mentais, não é raro que seja usado um conjunto de tratamentos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, como é o caso de medicações e psicoterapia. Com a EMTr, isso não é diferente.
Estudos mostram que as áreas do cérebro frequentemente estimuladas pela EMTr são áreas que também sofrem alterações como resultado da psicoterapia por meio da neuroplasticidade. Por conta disso, pode-se pensar que a EMTr e a psicoterapia possuem um efeito sinérgico, atuando nas mesmas áreas para promover a melhora do paciente, porém de formas completamente diferentes.
Esses efeitos já foram vistos em pesquisas combinando psicoterapia com medicação ou até a própria EMTr com medicação, demonstrando eficácia de longo prazo.
Contudo, a possibilidade de combinar apenas EMTr e psicoterapia é bastante desejável, tendo em vista que muitos pacientes gostariam de parar com os remédios a fim de evitar os efeitos colaterais e demais inconveniências relacionadas ao uso de medicações a longo prazo.
A combinação entre EMTr e psicoterapia resulta em respostas terapêuticas relativamente altas em 66% dos pacientes, bem como um grande índice de remissão (56% dos pacientes) em pessoas que sofrem de transtorno depressivo maior.
Esse efeito também foi observado previamente em outras pesquisas com outros transtornos mentais, como por exemplo o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
No entanto, algo que ainda não foi esclarecido para os pesquisadores é se a EMTr junto com a psicoterapia funcionam tão bem por questões de neuroplasticidade, como apontado anteriormente, ou se é simplesmente uma questão da relação entre dose e resposta. Em outras palavras, pode ser que a combinação funcione não por conta da neuroplasticidade, mas simplesmente porque são dois tratamentos feitos simultaneamente, o que traz mais resultados do que apenas um tratamento.
Vale ressaltar que a psicoterapia pesquisada é com base na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma das terapias com o maior nível de evidência científica de sua eficácia para uma série de transtornos.
Conclusão
A estimulação magnética transcraniana pode ser de bastante ajuda para pessoas que sofrem de algum tipo de transtorno que não responde adequadamente à medicação. No entanto, apenas a técnica de neuromodulação pode não ser o suficiente para alcançar bons resultados.
Por isso, não é raro que a EMTr seja feita em conjunto com algum outro tipo de tratamento, especialmente a psicoterapia e o uso de medicações, tendo em vista que a EMTr pode ajudar também a fazer com que as medicações sejam mais efetivas.
Se você sofre com algum transtorno mental que não responde aos tratamentos convencionais e acredita que a EMTr pode trazer mais resultados, é importante ter em mente que pode haver a necessidade de continuar o tratamento convencional junto com a técnica de neuromodulação a fim de conseguir alcançar o efeito máximo de todas os tratamentos juntos.
Em caso de dúvidas ou necessidade de mais informações, não hesite em procurar um profissional da saúde mental.
Referências
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1935861X17309609
https://bmcpsychiatry.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12888-022-03732-6