Os impactos da aposentadoria na saúde mental: como se preparar

A transição para a aposentadoria pode ser um momento bastante delicado para a saúde mental, mas é possível se preparar. Entenda mais aqui!
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Devido ao aumento da expectativa de vida, é comum que, na terceira idade, a pessoa idosa acabe desenvolvendo mudanças anatômicas e funcionais, tendo dificuldades para manter a atividade laboral.

Por conta disso, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) garante a possibilidade de aposentadoria, no qual a pessoa pode sair do mercado de trabalho e ainda assim assegurar uma renda para conseguir dar conta das despesas básicas.

Contudo, todo esse processo pode impactar bastante a saúde mental. Neste texto, iremos esclarecer de que forma a aposentadoria pode causar impactos negativos na saúde mental, buscando também dar dicas de como lidar com esse momento da vida que é aguardado por muitas pessoas e muitas vezes temido por outras.

Como se aposentar?

A aposentadoria por idade pode ser feita quando a pessoa alcança uma determinada idade e tempo de contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Atualmente, com a reforma da previdência (emenda constitucional 103/2019), houveram alterações na idade mínima para aposentadoria e no tempo de contribuição. São eles:

  • Homens: idade mínima de 65 e 35 anos de contribuição;
  • Mulheres: idade mínima de 62 e 30 anos de contribuição.

No entanto, anterior à isso, o tempo necessário de contribuição era de 15 anos, e homens poderiam ser aposentar a partir dos 65 anos, e mulheres a partir dos 60.

Vale ressaltar que essas regras valem para trabalhadores urbanos e algumas categorias podem ter regras diferentes, como trabalhadores rurais, professores e pessoas com deficiência.

Para se aposentar, é necessário dar entrada ao processo pela internet, no site Meu INSS. Para isso, é necessário ter uma conta validada no sistema Gov.br.

Caso não haja possibilidade de dar entrada pela internet, também é possível dar entrada de forma presencial em uma agência no INSS. Contudo, para isso, é necessário agendar uma atendimento pelo telefone 135. Na data marcada, basta comparecer à agência portando seus documentos pessoais e previdenciários, como:

  • RG atualizado (emitido até 10 anos atrás);
  • CPF;
  • Comprovante de residência;
  • Certidão de nascimento ou casamento;
  • Carteira de trabalho;
  • NIT, PIS/PASEP;
  • CNIS (obtido no site Meu INSS);
  • Certidão de Tempo de Contribuição.

Caso a pessoa tenha se tornado Pessoa com Deficiência (PcD) durante o tempo de contribuição, também é necessário apresentar os laudos médicos.

Como a aposentadoria impacta a saúde mental?

Perda de rotina estruturada

O trabalho costuma tomar uma grande parte do nosso tempo disponível no dia-a-dia, sendo que para muitos é uma atividade diária que ajuda a manter uma rotina bem estruturada, com horários específicos para a realização de suas atividades. Até mesmo atividades de lazer e descanso são afetadas pela rotina estruturada de uma pessoa que possui uma atividade laboral.

A perda dessa estrutura pode levar a momentos de confusão e falta de atividades para realizar durante o tempo livre, contribuindo para o surgimento de sentimentos negativos em relação ao tempo ocioso.

Perda da identidade profissional

Para muitas pessoas, o trabalho é de suma importância para seu senso de identidade e de realização pessoal, fazendo com que se apoiem bastante em sua identidade profissional. Não é a toa que, quando nos apresentamos a novas pessoas, costumamos também dizer nossa profissão.

No entanto, essa identidade profissional costuma ser transitória, sendo apenas um momento e uma fração da nossa identidade como um todo.

Os abalos no senso de identidade pessoal pode acabar influenciando no surgimento de problemas emocionais e sintomas preocupantes, como sintomas depressivos.

Perda de metas e aspirações

Há também muitas pessoas que têm sonhos e metas atrelados à sua carreira, fazendo com que o momento da aposentadoria acabe levando a um sentimento de vazio onde antes estavam esses sonhos e aspirações.

A falta de metas e perspectivas futuras também é um grande contribuinte para o aparecimento de problemas emocionais, sintomas depressivos e sentimentos ansiosos.

Isolamento social

O local de trabalho não é apenas um lugar em que a pessoa demonstra sua produtividade, mas também é fonte de diversas relações interpessoais que desenvolvemos ao longo da vida. Há pessoas que fazem amizades duradouras no local de trabalho.

No entanto, a aposentadoria pode fazer com que a pessoa conviva menos com essas pessoas, podendo passar muito tempo em casa, isolando-se socialmente.

Diminuição da renda

A renda de uma pessoa aposentada é apenas uma parcela do quanto ela ganhava enquanto trabalhava. Por conta disso, ao se aposentar, é comum que haja uma diminuição substancial do poder aquisitivo, o que contribui para sentimentos desagradáveis atrelados a falta de oportunidades, considerando que grande parte das atividades que podemos realizar no dia-a-dia costuma necessitar investimentos em deslocamento, alimentação, materiais etc.

Sentimentos de desvalorização perante a sociedade

É fato que possuir uma carreira e estar ativamente trabalhando é visto como algo positivo na nossa sociedade. Por conta disso, pessoas que se aposentam podem sentir que não estão contribuindo para a sociedade, bem como podem desenvolver um medo de serem vistas de forma negativa por amigos, familiares e demais pessoas de seu convívio.

Tudo isso pode ter um impacto bastante negativo na autoestima, aumentando as chances da pessoa desenvolver algum transtorno mental.

Aparecimento de transtornos mentais

Como já mencionado anteriormente, existem diversos fatores na aposentadoria que contribuem para o surgimento de sintomas de transtornos mentais, como sintomas ansiosos e depressivos.

No entanto, há também pessoas que apresentam uma maior irritabilidade nesses momentos, bem como sentimentos de insatisfação generalizada.

Sabe-se que pessoas que lidam com muitas emoções desagradáveis no dia-a-dia estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de quadros depressivos e ansiosos, portanto não é raro que pessoas aposentadas possam apresentar estes quadros devido às consequências emocionais da aposentadoria.

Queda no funcionamento cognitivo

Embora seja esperado que haja um declínio cognitivo com a idade, a aposentadoria faz com que a pessoa tenha menos atividades diárias que exercitam suas capacidades cognitivas, o que pode acelerar e intensificar esse processo de declínio.

Nem sempre a aposentadoria traz consequências negativas

Apesar de que, para muitas pessoas, as mudanças provenientes da aposentadoria possa trazer diversos sentimentos negativos, há também pessoas que podem apresentar bastante sentimentos positivos em relação a essa nova etapa da vida.

Para algumas pessoas, a aposentadoria é vivenciada apenas como o encerramento de um ciclo, fazendo com que ela possa se preparar para viver um novo ciclo em sua vida. Para essas pessoas, aposentar-se dá um senso de liberdade que não tinham antes, possibilitando escolher outras maneiras de passar o tempo e se dedicar a atividades prazerosas.

Não é raro, também, que a aposentadoria seja vista como um alívio quando a pessoa tende a associar o trabalho com estresse e exaustão, fazendo com que seus anos no mercado de trabalho sejam uma fonte de sentimentos negativos dos quais a pessoa sente ansiedade em se livrar.

Aposentadoria por problemas de saúde mental

Existem também casos em que a pessoa está elegível para aposentar-se por questões de saúde mental, como quando apresenta algum quadro psiquiátrico limitante que a impede de realizar suas atividades do dia-a-dia.

Nestes casos, não há necessariamente um requisito mínimo de idade, mas é preciso que a pessoa já tenha trabalhado e contribuído ao INSS para poder se aposentar. Do contrário, para poder receber auxílio sem ter trabalhado, o processo é outro (Benefício assistencial à pessoa com deficiência/LOAS).

Para que uma pessoa possa se aposentar por conta de um transtorno mental, é necessário:

  • Documento pessoal com foto, CPF, carteira de trabalho e demais documentos previdenciários;
  • Laudos médicos comprovando a incapacidade para realizar a atividade laboral;
  • Passar por uma perícia médica no INSS.

Na perícia, a pessoa precisa explicar de forma objetiva como o transtorno mental afeta diretamente sua capacidade de trabalhar. Caso a pessoa consiga se aposentar, receberá uma renda mensal que varia de acordo com a severidade do transtorno, bem como o tempo de contribuição anterior.

Dentre os transtornos limitantes aos quais são concedidos a aposentadoria mais frequentemente estão:

Vela ressaltar que nem sempre estes transtornos dão direito à aposentadoria por invalidez, sendo que em muitos casos a pessoa pode solicitar apenas auxílio-doença. Além disso, é necessário que a pessoa refaça o processo de requerimento a cada 2 anos para comprovar que continua incapacitada ao trabalho.

Dicas de saúde mental e transição para a aposentadoria

Vai se aposentar em breve ou já se aposentou? Algumas dicas para ajudar a manter a saúde mental em dia são:

Ter uma identidade desvinculada ao trabalho

Ter hobbies e outras atividades que geram uma sensação de identidade fora do trabalho é de extrema importância quando a pessoa ainda está trabalhando, mas se torna ainda mais importante durante o período de aposentadoria.

Como dito anteriormente, a perda do trabalho leva a uma perda da identidade profissional. Isso não necessariamente é um problema caso a pessoa tenha também uma sensação de identidade dissociada da atividade laboral.

Fazer planos para a aposentadoria

Muitas pessoas fazem planos de coisas que gostariam de fazer depois de passar pelo processo de aposentadoria. Dentre estes planos estão viagens, cursos, dedicação à hobbies, dedicação aos netos, entre outros. Uma dica importante aqui é tentar salvar algum dinheiro durante os anos de trabalho para conseguir realizar esses planos depois de se aposentar.

Participar de um Programa de Preparação para a Aposentadoria

Também conhecidos como PPAs, os Programas de Preparação para a Aposentadoria pode ajudar imensamente pessoas que estão próximas do momento de se aposentar.

A ideia destes programas é proporcionar momentos de reflexão que ajudem a pessoa a se planejar em relação ao futuro. Apesar de ser um programa de preparo, há também programas que permitem a participação de pessoas que se aposentaram há poucos anos.

Dentro destes programas, podem-se discutir questões como sonhos e expectativas, o significado do trabalho na vida da pessoa, planejamento financeiro, questões de autocuidado e saúde, entre outros.

Manutenção de hábitos saudáveis

Outra questão importante não apenas no momento de trabalho mas também na aposentadoria é a manutenção de hábitos saudáveis, como exercícios físicos e alimentação equilibrada.

Vale ressaltar que os exercícios físicos devem ser adequados para a idade e as capacidades físicas da pessoa, em especial quando se trata de alguém com idade avançada. Já a alimentação deve estar de acordo com as necessidades nutricionais, que costumam sofrer alterações na terceira idade.

Ser voluntário

Para algumas pessoas, o problema de parar de trabalhar é o sentimento de não estar mais sendo útil para a sociedade de alguma forma. Além da psicoterapia para lidar com essas questões, é possível se engajar em outras tarefas que podem ajudar a comunidade, como programas de voluntariado.

Além disso, ser voluntário pode ajudar a combater a solidão muito frequente neste período, considerando que promove um aumento das interações sociais no dia-a-dia.

Programas comunitários

Além do voluntariado, a pessoa aposentada pode participar de programas comunitários que disponibilizam atividades como aulas, oficinas e eventos sociais. Trata-se de uma ótima maneira de não apenas ocupar o tempo livre como também manter o convívio com outras pessoas, ajudando a combater a solidão.

Buscar suporte de familiares e amigos

Outra questão para combater a solidão é buscar ativamente o suporte de familiares e amigos.

Se aposentar não significa necessariamente perder o contato com os amigos feitos no trabalho, mas pode ser necessário que a pessoa aposentada seja mais proativa em manter esse contato. É claro que essas pessoas têm menos tempo disponível para interagir, mas pode ser interessante buscar atividades para realizarem juntos nos momentos livres.

A família também pode ter um papel muito grande em combater a solidão, mas é comum que pessoas aposentadas tenham receio em contatar suas famílias por medo de atrapalhar ou ser um fardo de alguma forma. No entanto, não hesite em estar presente para sua família, pois pode fazer a diferença não só para você como também para eles!

Continuar trabalhando

Caso não haja contraindicações, como problemas de saúde, a pessoa aposentada pode continuar trabalhando se assim desejar. No Brasil, é possível trabalhar mantendo a renda proveniente da aposentadoria e também sendo remunerado pelo trabalho.

Esta é uma opção para pessoas que ainda estão aptas a trabalhar e que desejam manter uma renda maior. Outras vantagens de continuar trabalhando após se aposentar são a convivência diária com outras pessoas, o que combate sentimentos de solidão, além da manutenção de atividades que exercitam as capacidades cognitivas, a sensação de realização profissional e contribuição para a sociedade, entre outros.

Psicoterapia

Por último mas não menos importante, a psicoterapia pode ajudar com este momento da vida, assim como pode fazer bastante diferença em qualquer momento de grandes mudanças.

Na terapia, é possível trabalhar os sentimentos relacionados à aposentadoria, os sentimentos que surgem a partir do tempo livre, bem como identificar e tratar quaisquer sinais de transtornos mentais que podem estar surgindo como consequência desse momento.

A aposentadoria pode ser um momento que causa receio em muitas pessoas justamente por trazer impactos à saúde mental. No entanto, é possível planejar esse momento e buscar ferramentas de suporte para melhorar a qualidade de vida.

Se você sente que está desenvolvendo sinais de algum transtorno mental ou problemas emocionais por conta da aposentadoria, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!

Referências

Alvarenga, L. N., Kiyan, L., Bitencourt, B., & Wanderley, K. da S.. (2009). Repercussões da aposentadoria na qualidade de vida do idoso. Revista Da Escola De Enfermagem Da USP, 43(4), 796–802. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000400009

Cunha, N. A., Scorsolini-Comin, F. & Marin, R. C. (2021). Intervenções psicológicas no processo de aposentadoria: revisão integrativa da literatura Brasileira. Revista Psicologia e Saúde, 13(1). https://doi.org/10.20435/pssa.v13i1.1012

https://www.jusbrasil.com.br/artigos/posso-me-aposentar-por-transtornos-mentais/1239318148
https://previdenciarista.com/blog/aposentadoria-por-idade/?srsltid=AfmBOoqp0k14PiinsucCPUDltqQgJDGopLbvxAN93BAIOpixhuXjTErX

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