Alfred Kinsey e a Escala Kinsey de homossexualidade

A sexualidade humana é complexa e pode se manifestar de diversas formas, como aponta os estudos de Kinsey na década de 40. Saiba mais!
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A visibilidade LGBT nunca esteve tão em alta quanto nos últimos anos, mas isso não significa que pessoas homossexuais, bissexuais e transgênero não existiam no passado.

De fato, a sexualidade humana sempre foi diversa e, mesmo que, no passado, não se falasse sobre isso, ela já foi objeto de pesquisa inúmeras vezes ao longo do desenvolvimento da ciência.

Na década de 1940, um pesquisador estadunidense foi pioneiro nos estudos da sexualidade humana. Seu nome era Alfred Kinsey e ele formulou a Escala Kinsey de homossexualidade.

O que é a Escala Kinsey de homossexualidade?

A Escala Kinsey de homossexualidade é um instrumento usado para medir comportamentos hetero e homossexuais, resultando em um índice que revela o comportamento sexual de uma pessoa para além da visão tradicional binária de heterossexualidade e homossexuailidade. Trata-se de um índice que reconhece a complexidade e a fluidez da atração sexual humana.

Este índice conta com valores que variam de 0 a 6, no qual 0 representa comportamento exclusivamente heterossexual, 6 representa comportamento exclusivamente homossexual, e valores intermediários indicam graus diversos de atração tanto a indivíduos do sexo oposto quanto do mesmo sexo.

É importante ter em mente que essa escala mede o comportamento sexual, que por sua vez pode ser diferente da identidade sexual. Uma pessoa que se identifica como bissexual pode ter uma quantidade maior de comportamentos homossexuais ou heterssosexuais, mas continua sendo bissexual. Contudo, para a escala Kinsey, uma pessoa é considerada bissexual quando possui uma quantidade igual de comportamentos homossexuais e heterossexuais.

Em outras palavras, na sociedade atual, pessoas que se identificam como bissexuais podem ter preferência por um gênero específico e se relacionar mais com um gênero do que com outro, mas ainda assim continua sendo bissexual.

No entanto, na época de Kinsey, a sexualidade era vista como exclusivamente heterossexual ou homossexual, sendo que, neste último caso, havia também repercussões pelo desvio da norma, como a criminalização da homossexualidade. Foi sua pesquisa que permitiu a identificação de pessoas que sentem atração por ambos os sexos, bem como a possibilidade de variação do grau de atração por gêneros diferentes.

A escala foi publicada pela primeira vez em 1948 no livro Sexual Behavior in the Human Male, desenvolvido por Alfred Kinsey, Wardell Pomeroy e Clyde Martin.

Como funciona a Escala Kinsey de homossexualidade?

Variando de 0 a 6, a escala classifica as pessoas de acordo com a quantidade de comportamentos heterossexuais e bissexuais.

No 0, há o comportamento estritamente heterossexual, enquanto no 6 o comportamento é estritamente homossexual. Do 1 ao 5 indicam níveis de homossexualidade gradual, ou seja, o nível 2 é levemente mais homossexual do que o nível 1, por exemplo, e no nível 3 encontramos o perfeito equilíbrio entre comportamentos homo e heterossexuais.

Na tabela a seguir há uma descrição de cada nível:

NívelDescrição
0Exclusivamente heterossexual
1Predominantemente heterossexual, apenas eventualmente homossexual
2Predominantemente heterossexual, embora homossexual com frequência
3Bissexual
4Predominantemente homossexual, embora heterossexual com frequência
5Predominantemente homossexual, apenas eventualmente heterossexual
6Exclusivamente homossexual
XSem contatos ou reações socio-sexuais (assexualidade)

De início, essa escala não considera a possibilidade de pessoas assexuais, ou seja, pessoas que não sentem atração sexual. Posteriormente, essas pessoas foram categorizadas no nível “X”, ao invés de um número, pois percebeu-se que a assexualidade era mais comum do que se imaginava.

Atualmente, entende-se que essa escala está desatualizada e não representa bem as identidades sexuais vivenciadas pelo ser humano. No entanto, continua sendo um estudo pioneiro e bastante revolucionário no momento de seu desenvolvimento.

Quem foi Alfred Kinsey?

Alfred Kinsey foi um biólogo estadunidense, professor de entomologia (estudo dos insetos) e zoologia, que posteriormente estudou também sexologia (estudo da sexualidade humana).

Nascido em 1894, Kinsey se graduou inicialmente em biologia e psicologia. Em 1920, era professor assistente de zoologia na Universidade de Indiana e passou 20 anos estudando vespas-das-galhas, uma família de vespas que contém cerca de 1.300 espécies.

No entanto, em 1938, estudantes da Association of Women (Associação de Mulheres, em tradução livre) pediu que a Universidade de Indiana ofertasse um curso sobre casamento para estudantes casados ou que estivessem pensando em casar. Por ser popular entre os estudantes, Kinsey foi apontado como coordenador do novo curso, chamado “Casamento e Família”, que era exclusivo para estudantes casados ou mais velhos.

Durante esse curso, Kinsey recebia perguntas de estudantes relacionadas à sexualidade. Contudo, ao pesquisar para conseguir trazer melhores respostas aos alunos, Kinsey logo percebeu que as informações eram escassas e baseadas em pesquisas com amostras pequenas, o que prejudica a qualidade dos estudos.

Foi a partir de então que começou a se interessar por coletar relatos de histórias sexuais. Inicialmente, sua amostra eram seus próprios estudantes. Com o tempo, no entanto, a amostra passou a contemplar grupos de pessoas de todo o estado de Indiana.

Em 1947, Alfred Kinsey fundou o Institute of Sex Research (Instituto de Pesquisas Sexuais, em tradução livre) da Universidade de Indiana, hoje chamado de Kinsey Institute. Seu trabalho deu origem a dois livros, o primeiro focado no comportamento sexual de homens (Sexual Behavior in the Human Male, 1948) e o segundo no comportamento sexual de mulheres (Sexual Behavior in the Human Female, 1953).

Ao todo, Alfred Kinsey coletou mais de 18.000 histórias sexuais detalhadas que contribuíram para os seus trabalhos.

A fins de curiosidade, há um filme sobre Alfred Kinsey chamado “Kinsey – Vamos falar sobre sexo” (2004), o qual foca mais na biografia do pesquisador do que suas pesquisas em si.

Críticas à Escala Kinsey de homossexualidade

Apesar de revolucionária, a Escala Kinsey de homossexualidade também foi recebida com críticas e, especialmente hoje em dia, serve mais como um retrato do conhecimento sobre a sexualidade humana da época do que uma escala que pode ajudar efetivamente a medir e compreender a sexualidade das pessoas.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que o principal material de pesquisa eram os relatos dos participantes das pesquisas. Embora o autorrelato seja uma técnica importante para pesquisa até hoje e espera-se sempre sinceridade dos participantes, é importante lembrar sempre que não é possível eliminar completamente a possibilidade de participantes mentirem sobre suas vivências sexuais.

Juntando isso a uma sociedade que criminalizava o comportamento homossexual e que tratava como tabu a sexualidade como um todo, não é possível afirmar que todas as histórias trazidas por participantes seriam realistas.

Além disso, apesar de Kinsey ter uma amostra de tamanho excepcional para a época, posteriormente percebeu-se que os participantes das pesquisas eram, em sua maioria, pessoas brancas com nível de educação superior. Ou seja, a falta de diversidade na amostra de Kinsey torna seus resultados um tanto quanto enviesados, tornando difícil a generalização dos resultados.

Outra questão apontada é que a escala sugere que o comportamento heterossexual e homossexual são mutuamente exclusivos, ou seja, quanto mais de um, menos do outro. No entanto, na realidade, isso não necessariamente é real e as pessoas podem se engajar nesses comportamentos com frequências diferentes ao longo de suas vidas, sem que isso modifique sua identidade sexual como um todo.

Por fim, um último problema apontado na pesquisa de Kinsey é a falta de inclusão de pessoas trans.

Escalas e testes alternativos

Como dito anteriormente, a Escala Kinsey de homossexualidade se tornou um tanto quanto obsoleta ao longo de tempo e outras alternativas existem atualmente que podem trazer uma compreensão melhor da sexualidade humana.

Dentre elas está a Grade de orientação sexual de Klein, desenvolvida por Fritz Klein com base na escala Kinsey, mas levando em consideração as dimensões de atração, comportamento sexual, fantasias sexuais, preferências emocionais, preferências sociais, estilo de vida e identificação própria, considerando também noções de tempo (passado, presente) e o que a pessoa considera ideal.

A sexualidade humana é diversa e pode ser bastante complexa, especialmente quando tentamos categorizar comportamentos e identidades sexuais.

No entanto, o trabalho feito por Kinsey foi de extrema importância para o reconhecimento da bissexualidade, bem como o entendimento de que a sexualidade não é necessariamente estática como se acreditava anteriormente.

Este post tem como objetivo informar e faz parte de uma série de artigos sobre sexualidade, uma das especialidades disponíveis no IPPr.

Referências

https://kinseyinstitute.org/research/publications/kinsey-scale.php
https://kinseyinstitute.org/about/history/alfred-kinsey.php
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cv2qd3j1p49o
https://cienciadoamanha.com/2023/07/21/o-que-e-a-escala-de-kinsey/
https://papodehomem.com.br/hetero-homo-ou-bissexual-o-que-a-escala-kinsey-pode-dizer-sobre-nos/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_de_Kinsey

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