Café: amigo ou inimigo? Os efeitos da bebida no organismo e na saúde mental

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Photo by Emre Gencer on Unsplash

O café é consumido diariamente ao redor do mundo e faz parte da rotina de muitos brasileiros. Por esses motivos, é de vital importância investigar os efeitos da cafeína no organismo, a fim de evitar problemas de saúde induzidos pelo consumo excessivo de café.

Se você costuma tomar bastante café, provavelmente já ouviu alguém dizendo que é importante diminuir o consumo pois pode fazer mal para a saúde. De fato, o café traz alguns efeitos indesejáveis, mas o quão certo está essa teoria de que o café faz mal?

Pesquisas recentes mostram que, na realidade, o consumo de café pode até mesmo ser benéfico para a saúde. Tomar até 5 xícaras de café por dia parece ter um efeito positivo na saúde física e mental, além de aumentar a expectativa de vida. Entenda:

Efeitos do café na saúde física

Nas pesquisas mais recentes, o café demonstrou ter vários efeitos positivos na saúde física. Entenda:

Menor risco de morte por causas específicas

Estudos publicados no Annals of International Medicine mostram que o consumo de café está ligado a um risco menor de morte por causas específicas, como doenças. O estudo foi feito com pessoas de diversas etnias, indicando que os resultados podem ser mais generalizados.

Foram entrevistados afrodescendentes, havaianos nativos, descendentes de japoneses, latinos e caucasianos entre 45 e 75 anos de idade. O consumo de café foi medido através de um questionário sobre alimentação. Essa amostra foi acompanhada durante cerca de 16 anos e, durante esse tempo, foi descoberto que aqueles que consumiam café com frequência (a partir de 1 xícara por dia) tinham menos chances de morrer de alguma causa específica. Havaianos nativos foi o único grupo étnico que não obteve resultados significativos.

Doenças cardiovasculares

As doenças cardiovasculares são um conjunto de enfermidades que afetam o coração e o sistema circulatório. Ainda não se sabe o porquê, mas a cafeína diminui as chances de desenvolver doenças como doença coronária, insuficiência cardíaca e fibrilação atrial.

Um outro estudo apresentado na Heart Rhythm Society 2015 Scientific Sessions mostra que, para pacientes com arritmia cardíaca, o consumo de café não é tão prejudicial quanto se pensava. Os pesquisadores avaliaram o funcionamento cardíaco de pacientes aleatórios e compararam com os dados obtidos através de um questionário sobre alimentação que foi aplicado nos participantes.

No fim, os pesquisadores não encontraram nenhuma alteração significativa no funcionamento do coração desses pacientes decorrente do consumo de café, chá e chocolate.

Não se sabe exatamente o porquê de tudo isso, mas acredita-se que haja alguma relação com o fato de que grãos de café reduzem a oxidação de LDL, também conhecido como “colesterol ruim”, e marcadores de inflamação (substâncias que indicam quando há uma inflamação no organismo).

Doença cerebrovascular e derrame cerebral

Assim como o café diminui as chances de desenvolver doenças cardiovasculares, ele também previne acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como derrame. Uma meta-análise verificou que o consumo de 1 a 6 xícaras de café por dia diminui as chances de ter um AVC em 17%.

Outra meta-análise concluiu que consumir 1 a 3 xícaras por dia diminui a chance de um AVC isquêmico na população em geral, enquanto outro estudo japonês indica que o consumo de café por cerca de 13 anos diminui o risco de derrame em 20%.

Diabetes

Para pacientes com diabetes, o consumo de café pode ajudar a prevenir hiperglicemia (concentração de açúcar no sangue acima do saudável), níveis anormais de lipídios e aumento da gordura corporal.

Diversos estudos mostram que há uma relação entre o consumo de café, melhora no metabolismo da glicose e secreção de insulina. Para não-diabéticos, o café pode reduzir o risco de desenvolver a doença.

O que os pesquisadores pensam é que isso acontece por conta das propriedades anti-inflamatórias do café, além do mecanismo antioxidante do ácido clorogênico (presente no café) aparentemente reduzir a absorção da glicose.

Câncer

O consumo de café também está ligado a um menor risco de diversos tipos de câncer, como o câncer de endométrio (mais de 4 xícaras por dia), próstata (6 xícaras por dia), cabeça e pescoço (4 xícaras por dia), mama (mais de 5 xícaras por dia), carcinoma basocelular (mais de 3 xícaras por dia) e melanoma. Mais recentemente, foi descoberto também uma redução significativa no risco de câncer colorretal em pessoas que consomem mais de 2 xícaras e meia por dia.

Acredita-se que isso se dê, em partes, por conta das propriedades antioxidantes e antimutagênicas do café.

Doenças hepáticas

O café pode desacelerar a progressão de cirrose hepática alcoólica e hepatite C, além de reduzir o risco de carcinoma hepatocelular. Também foram encontradas evidências de que o consumo de café previne doença hepática gordurosa não alcoólica e, em pacientes que já sofrem com essa enfermidade, previne a fibrose do fígado.

Efeitos prejudiciais do café no organismo

Nem tudo são flores. O café pode trazer diversos efeitos prejudiciais, apesar de todos os benefícios. Alguns desses efeitos são o aumento da pressão arterial, insônia, tremores e pode, até mesmo, aumentar o risco de glaucoma.

É possível, também, ter uma intoxicação por café, cujos sintomas são náusea, ansiedade, palpitações, nervosismo, entre outros.

Efeitos do café na saúde mental

Photo by Chris Benson on Unsplash

Não só o corpo é beneficiado com o consumo de café. Dependendo do caso, a cafeína pode ser uma ótima aliada, ou algo a ser evitado. Entenda:

Doenças neurodegenerativas

Aparentemente, o café ajuda a preservar a cognição a longo prazo. Doenças como demência e mal de Parkinson podem ser desaceleradas pelo consumo de café.

Um estudo mostrou que, em pacientes com comprometimento cognitivo leve, o consumo de 3 a 5 xícaras de café por dia seria capaz de evitar a progressão do problema. Outro estudo encontrou uma ligação entre a cafeína e consolidação de memórias e a prevenção na formação de corpos de Lewy (acúmulo anormal de proteínas dentro das células nervosas). O café também pode ter um papel neuroprotetor no mal de Parkinson.

Depressão

A cafeína também parece estar associada a um risco menor de depressão. Um estudo feito com mulheres mostrou que aquelas que tomavam de 2 a 3 xícaras por dia tinha uma diminuição de 15% no risco de desenvolver depressão. Aquelas que tomavam 4 ou mais xícaras por dia chegavam a ter 20% menos risco.

Os pesquisadores acreditam que, a curto prazo, essa diminuição se dê por conta de uma alteração no atividade da serotonina e dopamina, dois neurotransmissores altamente relevantes na depressão. Já a longo prazo, essa diminuição pode ser por conta das propriedades antioxidantes e antiinflamatórias do café.

Psicose e mania

Existem evidências de que o café pode causar sintomas psicóticos e de mania. No entanto, para que isso ocorra, é necessária uma alta dose de cafeína. Além disso, uso de substâncias estimulantes de maneira geral parecem estar ligados a maiores oscilações de humor no transtorno bipolar.  No entanto, não se pode dizer que o consumo excessivo de café seria capaz de causar algum transtorno psicótico, uma vez que os sintomas aparecem apenas enquanto há uma alta concentração de cafeína no sangue.

Ansiedade

Pessoas que sofrem com transtornos de ansiedade geralmente devem evitar consumir muito café. Isso porque a cafeína é ansiogênica, piorando os sintomas. Contudo, não é assim para todos os transtornos: pacientes com síndrome do pânico e transtorno de ansiedade social são os mais afetados pelos efeitos da cafeína, enquanto em fobias específicas o uso não parece ter qualquer efeito.

Atenção

Existem estudos que falam sobre uma melhora na atenção ao consumir café. Isso pode ser particularmente benéfico para pacientes com algum problema de atenção, como o transtorno de déficit de atenção de hiperatividade. Entretanto, mais estudos são necessários para avaliar se esse efeito terapêutico do café é realmente eficaz.

***

E então, o café é um amigo ou inimigo? Bem, talvez a questão não seja exatamente essa, mas sim “o quanto de café é possível tomar em segurança?”

Independente de qualquer coisa, é importante manter o consumo moderado. A maior parte das pesquisas citadas falam de termos de, no máximo, 6 xícaras de café por dia. Consumir mais do que isso pode ser contraproducente, ou seja, piorar a situação, ao invés de ajudar.

Se você acha que toma café demais e precisa diminuir, consultar um profissional de sua confiança pode ser uma boa ideia. Já se você não costuma tomar café e está interessado nos efeitos benéficos, talvez começar a tomar a bebida não seja a melhor ideia, uma vez que há a possibilidade de intoxicação e dependência. Nesse caso, seria mais recomendado prevenir-se por outros meios, como através da atividade física, por exemplo.

Referências

https://www.medscape.com/slideshow/coffee-6004434#1

http://annals.org/aim/article-abstract/2643433/association-coffee-consumption-total-cause-specific-mortality-among-nonwhite-populations

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2016457100

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