O transtorno bipolar é caracterizado por episódios de humor como a depressão e a mania. Por conta disso, o tratamento busca principalmente estabilizar o humor do paciente para que ele possa levar uma vida funcional.
Existe uma grande variedade de medicamentos utilizados para tratar o transtorno bipolar, mas as pesquisas para achar novas alternativas e tratamentos não param. Uma das possíveis novas maneiras de amenizar os sintomas do transtorno bipolar é a dieta cetogênica.
O que é uma dieta cetogênica?
A dieta cetogênica é um regime alimentar no qual há uma grande quantidade de gorduras, proteína em quantidades adequadas e pouco carboidrato.
Costuma ser usada para proporcionar a perda de peso, mas algumas enfermidades também requerem uma dieta assim. É o caso da epilepsia refratária, por exemplo. Nesses casos, a epilepsia não responde bem aos medicamentos, mas é amenizada com a dieta cetogênica.
Essa dieta é feita para chegar ao estado de cetose, que necessita uma boa quantidade de ácidos graxos (vindos das gorduras) e pouca glicose (vinda dos carboidratos) disponível para acontecer.
O que é cetose?
A cetose é um estado metabólico no qual a energia do corpo vem de corpos cetônicos presentes no sangue, ao contrário da glicose proveniente dos carboidratos ingeridos.
Isso ocorre quando não há muita glicose disponível no organismo, então o fígado passa a metabolizar ácidos graxos (quebrar gorduras), transformando-os em corpos cetônicos para prover energia ao organismo.
Em outras palavras, o organismo passa a usar a gordura como fonte de energia, ao invés de usar a glicose. Por esse motivo, essa dieta também ajuda na perda de peso.
Por que usar dieta cetogênica no transtorno bipolar?
Algumas vezes, o paciente com transtorno bipolar não responde adequadamente aos medicamentos estabilizadores de humor. Nesses casos, são indicados medicamentos anticonvulsivantes, pois seu mecanismo de ação frequentemente causa estabilização do humor.
Como dito anteriormente, pessoas com epilepsia refratária muitas vezes se beneficiam de uma dieta cetogênica. Isso se dá porque os efeitos da dieta se assemelham ao mecanismo de ação dos anticonvulsivantes.
Os medicamentos anticonvulsivantes diminuem a concentração intracelular de sódio, amenizando os sintomas da epilepsia e do transtorno bipolar. A dieta cetogênica torna o sangue levemente ácido, causando o mesmo efeito de diminuição da concentração intracelular de sódio.
Seguindo essa lógica, pessoas com transtorno bipolar poderiam alcançar a estabilização do humor também por meio da dieta, evitando a ingestão de muitos medicamentos.
O que dizem os estudos
Estudos sobre a dieta cetogênica em pacientes com transtorno bipolar são bem controversos. Alguns estudos feitos anteriormente, como o estudo feito por Yaroslavsky, Stahl e Belmaker em 2002, não mostraram resultados positivos, mas acredita-se que seja porque os participantes não chegaram a alcançar o estado de cetose.
Em 2013, Phelps, Siemers e El-Mallakh publicaram um estudo de caso no qual duas pessoas com transtorno bipolar tipo II atingiram cetose e puderam passar cerca de 2 anos sem medicamentos estabilizadores de humor.
Essas duas pessoas faziam uma dieta cetogênica composta principalmente de gorduras, ingerindo alimentos como carnes, laticínios e frutos do amor, eventualmente fazendo suplementação com ômega 3 e vitaminas.
As duas participantes relataram uma melhora subjetiva nos sintomas do transtorno ao mesmo tempo em que entraram e mantiveram o estado de cetose. Contudo, uma das pacientes utilizava, vez ou outra, um medicamento anticonvulsivante para ajudar a manter a cetose. Esta pequena quantidade de participantes no estudo é muito pequena para se generalizar este achado para a população que sofre deste mal. Por enquanto, o tratamento farmacológico continua a ser a principal intervenção.
No entanto, nem tudo são flores e a dieta cetogênica pode trazer alguns problemas com o tempo. Estudos feitos no contexto da epilepsia refratária mostram que, a longo prazo, a dieta cetogênica pode trazer complicações como hepatite, pancreatite aguda, pedras nos rins, colesterol e triglicerídeos elevados, osteopenia, cardiomiopatia, entre outros.
Além disso, a acidez provocada pela dieta deve ser leve, caso contrário pode provocar acidose metabólica, condição na qual o sangue está muito ácido, e pode colocar a vida do paciente em risco.
Vale lembrar que os estudos apresentados não são o suficiente para dizer que a dieta cetogênica pode ser usada como um tratamento do transtorno bipolar, pois baseiam-se na percepção subjetiva dos sintomas de uma amostra pequena. Desta forma, não é possível generalizar os resultados obtidos.
Mais pesquisas devem ser feitas, mas esses resultados parecem ser promissores.
O que comer numa dieta cetogênica?
A dieta cetogênica é composta principalmente por gorduras. Proteínas vem em segundo lugar a os carboidratos são cortados ao máximo. Algumas pessoas chegam a fazer uma dieta composta por 70% gorduras, 22% proteínas e apenas 8% carboidratos.
Os alimentos mais consumidos em uma dieta cetogênica são carnes, vegetais, oleaginosas, entre outros. Evita-se pães, massas e demais fontes de carboidratos.
A maior parte dos vegetais são permitidos na dieta cetogênica, mas é preciso retirar aqueles que são muito calóricos e proteicos. Não se deve ingerir batatas, mandioca, feijão, soja, lentilha, entre outras leguminosas.
Deve-se dar preferência para frutas que são fontes de gordura, como o abacate e o coco.
No que tange as gorduras, pode-se ingerir manteiga, castanhas, azeite, óleo de coco, banha de porco, carnes, frango, peixe, ovo, queijos, iogurte, entre outros.
Os alimentos proibidos são pães, doces, farinhas, macarrão, bebidas alcoólicas, bebidas açucaradas (refrigerante, sucos, chás e café com açúcar), tubérculos, amidos, milho, leguminosas e outras possíveis fontes de açúcar e carboidratos.
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É de extrema importância consultar um médico antes de iniciar uma dieta. A dieta cetogênica não serve para todas as pessoas, pois seus efeitos no organismo podem variar de pessoa para pessoa, podendo ser mais prejudicial do que benéfica em alguns casos.
Se você sofre com transtorno bipolar e gostaria de tentar a dieta, converse com seu psiquiatra e nutricionista antes, pois eles saberão se a dieta é viável no seu caso, além de poderem indicar a maneira mais adequada de fazer a dieta.
Referências
El-Mallakh, R. S., & Paskitti, M. E. (2001). The ketogenic diet may have mood-stabilizing properties. Medical Hypotheses, 57(6), 724–726. doi:10.1054/mehy.2001.1446
Phelps, J. R., Siemers, S. V., & El-Mallakh, R. S. (2013). The ketogenic diet for type II bipolar disorder. Neurocase, 19(5), 423–426. doi:10.1080/13554794.2012.690421
https://vivabem.uol.com.br/alimentacao/dieta/dieta-cetogenica.htm