Dispareunia: dor nas relações íntimas e saúde mental

Dores durante as relações sexuais podem ter causas tanto orgânicas quanto psicológicas. Entenda melhor aqui!
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A sexualidade é importante para uma vida plena e saudável. No entanto, há algumas pessoas que sentem dores durante as relações e acreditam que isso é normal. A verdade é que dores durante as relações íntimas não são normais e podem estar relacionadas à saúde mental.

Felizmente, estas dores podem ser tratadas! Continue lendo para entender mais sobre a dispareunia (dor durante a relação sexual), sua relação com a saúde mental e como é possível melhorar essa condição.

O que é dispareunia?

O termo dispareunia se refere à dor no genital durante as relações íntimas. A dor pode ocorrer logo antes, durante ou até mesmo após a relação sexual, sendo um fenômeno recorrente na vida da pessoa e não apenas resultado de uma relação mais intensa.

Em geral, a dor é sentida na área genital. No entanto, no caso das mulheres, a dor pode ser sentida na área da vulva e da entrada da vagina, mas também no cérvix e no útero, o que pode se manifestar como uma dor na região inferior do abdômen.

O problema, também chamado de “transtorno da dor gênito-pélvica/penetração”, pode afetar tanto homens quanto mulheres, mas é mais comum em mulheres. Também pode ocorrer em qualquer idade e, geralmente, possui alguma ligação com problemas físicos na área genital, mas também pode ocorrer por conta de fatores psicológicos.

Estima-se que a dor durante as relações sexuais seja um dos problemas ginecológicos mais comuns, podendo afetar cerca de 10 a 20% da população sexualmente ativa nos Estados Unidos.

Nas mulheres, a dispareunia pode se fazer presente também em outros tipos de penetração, como ao utilizar absorventes internos, ao realizar exames ginecológicos ou ao utilizar brinquedos eróticos.

Existem tipos de dispareunia?

A dispareunia pode se manifestar de formas diferentes, o que pode ser entendido como tipos diferentes da condição. São eles:

  • Superficial: Refere-se à dor na região da entrada da vagina durante a penetração e pode estar relacionada a problemas como falta de lubrificação, lesões ou até mesmo infecções;
  • Profunda: É o tipo de dor que ocorre na penetração profunda, depois da penetração inicial. Ela é sentida na região do cérvix ou do abdômen e pode piorar de acordo com a posição sexual. Frequentemente este tipo de dispareunia está relacionada a condições médicas adjacentes ou um histórico de cirurgia na região.

Além disso, a dispareunia também pode ser classificada de acordo com quando ela ocorre:

  • Primária: A dor surge logo que a pessoa se torna sexualmente ativa;
  • Secundária: A dor se desenvolve depois que a pessoa já teve experiências sexuais indolores;
  • Completa: A dor ocorre em todas as relações sexuais;
  • Situacional: A dor só ocorre em algumas relações.

Causas da dispareunia

A dor durante as relações íntimas pode ser causada por diversas condições, desde problemas simples como falta de lubrificação até condições médicas mais sérias que necessitam tratamento. Há também casos em que a dispareunia é resultado de uma questão psicológica. Entenda:

Falta de lubrificação

A falta de lubrificação pode ocorrer por diversos motivos, como uso de medicamentos ou até mesmo preliminares insuficientes. Para resolver este problema, basta relaxar, aumentar o tempo das preliminares ou utilizar um lubrificante íntimo adequado.

Atrofia vaginal

Ocorre quando o revestimento vaginal se torna mais ressecado e fino, podendo apresentar sinais de inflamação. Essa atrofia pode ser resultado de alterações hormonais, menopausa ou uso de medicamentos.

Vaginismo

O vaginismo é uma condição na qual os músculos da vagina se contraem involuntariamente durante o ato sexual, tentando impedir a penetração e tornando o ato extremamente doloroso. Essa condição geralmente se desenvolve por questões psicológicas como traumas, inseguranças, medo, entre outros.

Infecções vaginais

Infecções na área íntima podem ser relativamente comuns e podem causar problemas como inflamação do revestimento vaginal, secura, entre outros.

Vale ressaltar que nem sempre essas infecções são infecções sexualmente transmissíveis, mas recomenda-se a utilização de proteção da mesma forma.

Problemas no cérvix

Quando a penetração é profunda o suficiente, o pênis pode alcançar o cérvix. A depender do ritmo e da força da penetração, isso pode não ser dolorido. No entanto, problemas no cérvix como infecções ou outras condições médicas podem tornar essa penetração profunda bastante dolorosa.

Problemas no útero e ovários

Uma série de condições que afetam o útero e os ovários podem estar relacionadas à dor durante a relação sexual. São elas:

  • Mioma uterino: tumores benignos no útero;
  • Endometriose: quando o revestimento do útero (endométrio) se desenvolve também por fora do útero;
  • Cistos ovarianos: outro tipo de massa benigna que surge nos ovários;
  • Doença inflamatória pélvica (DIP): condição na qual uma infecção se desenvolve no útero, nas tubas uterinas e nos ovários.

Gravidez ectópica

A gravidez ectópica é uma condição na qual um óvulo fertilizado se desenvolve fora do útero. Em outras palavras, o embrião se forma fora do útero, geralmente nas tubas uterinas.

Vulvodinia

Condição na qual se desenvolve uma dor crônica (com duração de mais de 3 meses) na região da vulva, independente da realização de relações íntimas.

Malformações congênitas

Quando o órgão genital possui malformações congênitas, isso significa que a formação do órgão é incompleta ou defeituosa de alguma forma, e isso vem desde antes do nascimento do indivíduo.

Algumas mulheres podem ter um canal vaginal não formada completamente (agenesia vaginal) ou pode apresentar condições no hímen, uma membrana que cobre a entrada da vagina e que, geralmente, se rompe na primeira relação sexual. Essa membrana costuma ter uma abertura bem estreita, mas existem casos em que não há abertura e, por conta disso, pode impedir a penetração e causar muita dor durante o ato.

Variações anatômicas

Algumas variações anatômicas, como a distribuição de nervos no assoalho pélvico, podem estar relacionadas a presença de dor durante relações sexuais.

Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)

As infecções sexualmente transmissíveis podem causar sintomas tanto externos (na pele do órgão genital) quanto internos (na região do útero, tubas uterinas, entre outros).

Lesões no órgão genital

Apesar de haver uma série de mecanismos naturais para que os órgãos genitais não sofram lesões, às vezes podem ocorrer lacerações que causam dor na região.

Isso pode ocorrer tanto decorrente de relações sexuais intensas, frequentes e com lubrificação insuficiente, como também podem ser resultado de processos como parto, que pode ser bem agressivo para a região.

Em homens, lesões no prepúcio (pele retrátil que envolve a glande) também podem acabar causando dores durante as relações íntimas.

Problemas de pele

Problemas de pele que podem se desenvolver na área também podem acabar causando dores na região durante a penetração.

Deformidades penianas

Em homens, a presença de deformidades no pênis pode tornar o sexo doloroso tanto para si mesmo quanto para a parceira. É o caso, por exemplo, da doença de Peyronie, na qual a pessoa desenvolve ereções curvas e dolorosas.

Priapismo

O priapismo se refere a uma ereção de longa duração que também é dolorosa. Essa ereção tende a durar horas e pode causar danos irreversíveis ao pênis.

Questões psicológicas

Uma série de questões psicológicas podem estar relacionadas ao surgimento da dor na hora do sexo. Dentre elas estão:

  • Problemas que afetam diretamente a libido, como sintomas ansiosos, sintomas depressivos, entre outros;
  • Traumas, especialmente em pessoas que sofreram abusos sexuais;
  • Trauma religioso no qual a sexualidade é tratada como tabu e a pessoa desenvolve resistência ao ato sexual;
  • Problemas de autoestima que afetam diretamente a libido e a capacidade de performar.

Sintomas da dispareunia

O único sintoma da dispareunia é a dor durante o coito. No entanto, essa dor pode se manifestar de diversas formas, como:

  • Dor aguda durante a penetração inicial;
  • Dores profundas durante a movimentação;
  • Dores pulsantes após a relação sexual;
  • Ardência na região genital;
  • Cólicas na região pélvica;
  • Espasmos e rigidez muscular.

Vale ressaltar que sangramento genital não é um sintoma da dispareunia. Se houver sangramento, ele pode estar sendo causado pela mesma condição que causa a dor durante a relação, o que frequentemente necessita atenção médica.

Diagnóstico da dispareunia

O diagnóstico desse problema pode ser feito por meio do simples relato de sintomas. No entanto, o médico também pode pedir alguns exames complementares para entender o que causa o problema, como:

  • Papanicolau (exame preventivo): Geralmente usado para detectar estágios iniciais de câncer de útero, o Papanicolau é um exame que permite ao médico coletar uma amostra do fluído cervical para identificar a presença de infecções ou outros possíveis problemas;
  • Ultrassom transvaginal: Trata-se de um exame de ultrassom que pode avaliar o sistema reprodutor feminino como um todo, evidenciando possíveis problemas;
  • Laparoscopia ginecológica: Quando os resultados de exames anteriores são inconclusivos, pode-se realizar uma laparoscopia ginecológica, que consiste em uma pequena cirurgia minimamente invasiva para examinar e tratar o útero e demais órgãos reprodutores femininos.

Como é o tratamento da dispareunia?

O tratamento da dispareunia depende diretamente da sua causa.

Mulheres que apresentam problemas como lubrificação insuficiente podem resolver o problema utilizando lubrificantes íntimos que são encontrados em farmácias. Já mulheres que apresentam um problema hormonal como causa da dispareunia precisam do acompanhamento de um endocrinologista para conseguir tratar o problema.

Há também casos em que o tratamento pode ser feito por fisioterapia do assoalho pélvico, quando a causa do problema está claramente ligada aos músculos dessa região, como no caso do vaginismo.

Há casos em que a dispareunia ocorre após o parto. Nestes casos, o tratamento é basicamente esperar para ter relações sexuais com penetração novamente, sendo interessante buscar outras formas de se relacionar enquanto isso.

E quando o problema é psicológico?

Como citado anteriormente, há casos em que a dor durante as relações sexuais pode ter relação com questões psicológicas. Neste caso, o tratamento vai depender da questão em específico.

O tratamento psicológico é feito, principalmente, por meio da psicoterapia, tendo como objetivo trabalhar as questões que levam a pessoa a ter problemas com sua sexualidade.

Pessoas que sofreram algum trauma sexual podem trabalhar esse trauma em terapia, buscando novas formas de agir perante os chamados “gatilhos”.

É importante ressaltar que, quando há um abuso sexual, trata-se de uma relação violenta que pode causar muita dor à vítima. Nestes casos, a pessoa pode associar relações sexuais à dor e voltar a sentir dor mesmo quando é uma relação consentida e saudável.

A psicoterapia pode ajudar a pessoa a, aos poucos, desvincular essa ideia de dor das relações sexuais, reconhecendo que, com consentimento, a relação tende a ser prazerosa e não causar danos físicos nem psicológicos.

Nestes casos, uma técnica chamada dessensibilização sistemática pode ser bastante útil. Esta técnica consiste em expor a pessoa ao estímulo aversivo (aquilo que causa angústia, dor, etc.) junto com técnicas de relaxamento, ajudando a pessoa a desvincular o estímulo das sensações de dor.

Já pessoas com traumas religiosos podem trabalhar uma ressignificação da sexualidade como um todo, diminuindo sentimentos de culpa e de aversão ao sexo.

No entanto, pessoas que sofrem com sintomas ansiosos e depressivos que podem afetar a vida sexual podem acabar necessitando de um tratamento farmacológico. Nestes casos, um psiquiatra irá receitar os medicamentos adequados (antidepressivos, ansiolíticos, entre outros) para tratar a condição.

Dicas para evitar relações dolorosas

Se você se identifica com os sintomas aqui descritos, em primeiro lugar é de extrema importância buscar um diagnóstico, pois algumas das causas do problema podem ser condições sérias que precisam de tratamento.

Contudo, se você já está fazendo tratamento e ainda tem relações dolorosas, aqui vão algumas dicas de como evitar esse problema:

  • Utilize lubrificantes íntimos adequados, lembrando que lubrificantes à base de óleo não podem ser usados com preservativo (camisinha), sendo necessário usar lubrificantes à base de água nestes casos;
  • Tentar novas posições, buscando uma que diminua a dor;
  • Reduzir sentimentos de estresse e ansiedade, buscando relaxar antes de iniciar a relação;
  • Buscar relaxar os músculos antes da relação, seja com técnicas de relaxamento ou com um banho quente;
  • Comunicar ao parceiro sempre que sentir necessidade de parar ou desacelerar, pois forçar a continuação do ato pode ser ainda mais prejudicial.

Consequências da dispareunia não tratada

Se não tratada, a dispareunia pode trazer consequências principalmente à saúde mental.

Isso porque a saúde sexual está significativamente relacionada à saúde mental, e ter uma vida sexual saudável é importante para questões como a autoestima, a capacidade de sentir prazer, a autoimagem, entre outros.

Quando uma pessoa não trata o problema, ela pode ter dificuldades em manter relações sexuais, o que pode prejudicar também seus relacionamentos.

A saúde sexual pode afetar muito a saúde mental e, por isso, é importante estar em dia com ela também. Se você se identificou com os sintomas aqui citados, não hesite em buscar ajuda profissional!

Referências

https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/painful-intercourse/symptoms-causes/syc-20375967
https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/12325-dyspareunia-painful-intercourse
https://www.nhs.uk/common-health-questions/sexual-health/why-does-sex-hurt/
https://psychcentral.com/disorders/dyspareunia-symptoms
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-feminina/disfun%C3%A7%C3%A3o-sexual-em-mulheres/transtorno-da-dor-g%C3%AAnito-p%C3%A9lvica-penetra%C3%A7%C3%A3o

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