O que são parafilias e transtornos parafílicos? Qual a diferença?

Nem sempre o prazer sexual é atingido de forma saudável. Entenda melhor sobre parafilias e transtornos parafílicos aqui!
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A sexualidade humana é bastante diversa e complexa, sendo um objeto de estudo bastante interessante. Embora uma vida sexual ativa seja fonte de grande prazer, podendo ajudar também na saúde mental e na saúde relacional, é importante lembrar que nem sempre a sexualidade pode ser exercida de forma saudável.

Para algumas pessoas, a sexualidade pode ser fonte de grande angústia, como é o caso das pessoas que sofrem de transtornos parafílicos. Estes transtornos são caracterizados pela presença de impactos negativos de uma parafilia específica, podendo necessitar intervenção terapêutica.

Neste texto, será abordado o que são parafilias e como elas se diferenciam dos transtornos parafílicos, bem como as parafilias mais comuns.

O que são parafilias?

As parafilias podem ser definidas como perturbações sexuais, ou “perversões” no senso comum, que consistem em um interesse sexual intenso e recorrente em outras coisas que não a estimulação genital ou as carícias preparatórias para o ato (preliminares).

Em outras palavras, trata-se de uma conduta sexual que se difere do que é socialmente aceito (tabus). Vale ressaltar que o socialmente aceito é um conceito histórico-cultural e, portanto, pode sofrer alterações a depender da sociedade e do tempo histórico em que está inserido.

No passado, em diversos países, era comum o casamento de homens de maior idade com meninas que acabaram de entrar em idade fértil (início da adolescência), por exemplo, o que era considerado socialmente aceitável. Hoje em dia, em grande parte do ocidente, esse tipo de relação se configura como crime e a atração por crianças e pessoas no início da adolescência configura o transtorno parafílico da pedofilia.

Contam como parafilias também a fantasia com objetos inanimados e fantasias com corpos não humanos (animais, criaturas fictícias como monstros, entre outros). Para ser considerado uma parafilia, essas fantasias devem ser recorrentes e persistir por mais de 6 meses.

É importante lembrar que orientações sexuais para além da heterossexualidade não são parafilias. Embora no passado orientações sexuais como a homossexualidade e o bissexualidade tenham sido considerado transtornos, atualmente essas orientações são vistas como variações normais da sexualidade humana, não sendo mais patologizadas.

Algumas fantasias parafílicas podem ser realizadas quando há consentimento das outras pessoas envolvidas, como é o caso do sadomasoquismo, e não são consideradas patologias. Já outras parafilias possuem a falta de consentimento como característica importante, o que pode levar a atos criminosos caso sejam realizadas.

Parafilia versus transtorno parafílico: qual a diferença?

A parafilia pode ser definida como qualquer conduta sexual desviante da norma. Em outras palavras, qualquer tipo de fetiche entra no conceito de parafilia, mesmo quando são fetiches comuns, que não trazem prejuízos a ninguém e são consentidos.

Já os transtornos parafílicos são transtornos mentais relacionados a alguma parafilia específica, geralmente potencialmente prejudicial, fazendo com que a pessoa não possa realizar suas fantasias pois causaria mal a outros e teria problemas com a justiça.

É o caso de parafilias como a pedofilia e o exibicionismo, por exemplo. Vale ressaltar que muitas das pessoas que vivem com esses transtornos não agem sobre eles, ou seja, não realizam suas fantasias sexuais, não podendo ser consideradas criminosos. Porém, isso causa grande angústia a essas pessoas, que precisam então procurar ajuda psicológica.

Além disso, nem todas as pessoas que realizam crimes sexuais são portadoras de algum transtorno parafílico. Frequentemente, pessoas que abusam de crianças e adolescentes o fazem apenas porque é mais fácil, e não porque sentem algum tipo de atração por essas idades, não configurando pedofilia. Há muitas pessoas que cometem crimes sexuais contra crianças e adolescentes cujo diagnóstico mais preciso seria a sociopatia.

Para obter um diagnóstico de transtorno parafílico, é necessário que as fantasias parafílicas persistam por mais de 6 meses e causem sofrimento significativo ao indivíduo.

As parafilias mais comuns

Dentre as parafilias mais comuns estão:

Exibicionismo

O exibicionismo consiste em ter fantasias de surpreender alguém ao expor seus órgãos genitais ou praticar atos sexuais com a intenção de que outras pessoas possam ver, o que inclui mas não se limita a ter relações sexuais em público.

Voyeurismo

Esta parafilia é, de certa forma, o contrário do exibicionismo. O voyeurismo consiste em observar pessoas em momentos íntimos (durante o ato sexual ou momentos de nudez), frequentemente sem que haja o consentimento dessas pessoas.

Fetichismo

O fetichismo envolve fantasias com objetos inanimados, como sapatos de salto alto, cinta-ligas, entre outros.

Pedofilia

Consiste no desejo sexual por crianças pré-púberes, ou seja, crianças que ainda não passaram pela puberdade e ainda não apresentam as características sexuais secundárias (desenvolvimento das mamas, crescimento de barba, mudanças na voz, entre outros).

Frequentemente considera-se pedofilia a atração por pessoas menores de 13 anos, pois esta é uma idade em que grande parte das crianças desenvolvem suas características sexuais secundárias. No entanto, é possível considerar pedofilia também quando a criança/adolescente está desenvolvendo essas características, ou seja, quando está no meio de sua adolescência.

Depois que o adolescente adquire essas características, o que ocorre por volta dos 16 anos, já não se considera mais pedofilia. No entanto, legalmente falando, ainda pode ser considerado crime o envolvimento sexual de pessoas de maior idade com adolescentes, considerando que a pessoa de maior idade seja 5 anos mais velha que o adolescente.

Também pode ser considerado pedofilia quando a pessoa apenas consome materiais midiáticos cujo conteúdo envolve crianças e adolescentes em situações sexuais. É importante lembrar que o consumo e o compartilhamento deste tipo de material é crime.

Masoquismo

O masoquismo consiste em sentir prazer sexual ao ser submetido a formas de sofrimento, tal qual humilhação, espancamento, amarração, imobilização, entre outros.

Sadismo

Contrário ao masoquismo, no sadismo a pessoa sente prazer sexual ao provocar o sofrimento do outro, submetendo-o à humilhação, espancamento etc.

Sadomasoquismo

Neste tipo de parafilia, a pessoa apresenta traços tanto de masoquismo quanto de sadismo, podendo trocar de papel durante o ato ou a depender do parceiro.

Vale ressaltar que, no caso do sadismo e do masoquismo, existe a possibilidade da realização dessas fantasias desde que haja o consentimento das outras pessoas envolvidas no ato.

Trasvestismo fetichista

Nessa parafilia, o prazer sexual vem se vestir-se e usar adereços que são convencionalmente vistos como de outro gênero, como no caso de homens usando maquiagem etc.

É importante lembrar que o trasvestimo fetichista não está relacionado com a disforia de gênero, condição na qual a pessoa não se identifica com o gênero que foi assinalado ao nascer por conta dos genitais. Nessa condição, a pessoa frequentemente precisa fazer a transição para se sentir bem com seu corpo e ser tratada socialmente como o gênero com o qual se identifica.

O tranvestismo fetichista está presente apenas no contexto sexual, não social, e não necessariamente envolve se sentir desconfortável com o próprio corpo. Trata-se de um tipo específico de fetichismo.

Frotteurismo

Caracterizado pela obtenção de prazer sexual ao tocar ou roçar suas partes íntimas em outras pessoas sem o seu consentimento. Esse tipo de parafilia, se realizada, é considerada crime.

Outras parafilias

Existem ainda várias outras parafilias que podem ou não levar uma pessoa a cometer crimes sexuais. Dentre elas estão a zoofilia (animais), necrofilia (corpos mortos), fluidos e excrementos (fezes, urina etc.), deformações anatômicas, partes específicas do corpo, cheiros, entre outros.

Causas das parafilias

Não existem causas específicas documentadas para o desenvolvimento de parafilias. No entanto, estima-se que grande parte delas se desenvolvem já durante a infância. Mesmo que a criança não tenha qualquer pensamento sexual por ainda não ter conhecimento sobre o assunto (nem a circulação de hormônios sexuais), ela pode se sentir atraída por objetos e partes específicas do corpo, por exemplo.

É comum que as parafilias estejam relacionadas às vivências que a pessoa passa durante seu desenvolvimento, tanto na infância quanto na adolescência. Ou seja, experiências de nível sexual, sendo traumáticas ou não, bem como fatores ambientais e socioculturais podem ter influência no surgimento de parafilias.

Grande parte das parafilias são mais frequentes em homens, com exceção do masoquismo, que costuma ser mais frequente em mulheres.

Não é raro que pessoas que sofrem de transtornos parafílicos sejam também acometidas por outros transtornos mentais, como o transtorno de personalidade antissocial e o transtorno de personalidade narcisista.

Quais parafilias são crime?

As parafilias, em si, não são crimes. No entanto, alguns transtornos parafílicos podem levar a pessoa a realizar infrações penais. São elas:

  • Exibicionismo: Crime de ato obsceno (art. 233 do Código Penal);
  • Frotteurismo: Crime de importunação sexual (art. 215-A do Código Penal);
  • Pedofilia: Crimes de estupro de vulnerável (art. 217-A), corrupção de menores (art. 218), satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente (art. 218-A) e crimes previstos nos artigos 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D do Estatuto da Criança e do Adolescente;
  • Sadismo/masoquismo: Crimes de lesões corporais ou homicídio (artigos 129 e 121 do Código Penal).

Os transtornos parafílicos têm tratamento?

Assim como nos transtornos mentais, os transtornos parafílicos podem causar angústia debilitante na pessoa que sofre com esse problema.

Essa angústia costuma surgir pela impossibilidade da realização de suas fantasias, bem como da culpa em realizá-las e prejudicar outras pessoas. A pessoa pode, então, lidar com problemas de autoimagem, considerando-se perigosa, e apresentar comportamentos de isolamento e sintomas depressivos.

Não é raro que pessoas que sofrem com transtornos parafílicos sofram também de disfunções sexuais, pois não conseguem se envolver sexualmente se não for a partir de suas fantasias. Isso pode causar também problemas nos relacionamentos amorosos, em que a pessoa não pode satisfazer sexualmente seu parceiro.

O tratamento para os transtornos parafílicos envolve psicoterapia, bem como medicação. A medicação pode ajudar a controlar compulsões e pensamentos intrusivos relacionados às fantasias. Além disso, é possível também usar medicamentos supressores de andrógenos que ajudam a suprimir o desejo sexual, diminuindo as chances da pessoa realizar as fantasias parafílicas.

Na psicoterapia, é possível trabalhar os sentimentos de angústia relacionados à parafilia, bem como explorar situações vividas pelo paciente que podem ter influenciado no seu surgimento. Dependendo do caso, é possível também ajudar a pessoa a desenvolver uma sexualidade mais saudável, podendo também sentir prazer em relações sexuais consentidas nas quais suas fantasias não são realizadas.

Embora muitas parafilias sejam fantasias perfeitamente realizáveis e não causem sofrimento, existem casos em que elas podem gerar prejuízos significativos nas relações e na vida sexual de uma pessoa.

Se você se identifica ou conhece alguém que sofre consequências emocionais por conta de uma parafilia, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/parafilias-e-transtornos-paraf%C3%ADlicos/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-parafilias-e-transtornos-paraf%C3%ADlicos
https://www.saudebemestar.pt/pt/blog/psicologia/parafilias/
https://bebendodireito.com.br/parafilias/

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