Uma pessoa que leva uma vida funcional e não apresenta sintomas psiquiátricos pode, de repente, apresentar sintomas psicóticos. É o que ocorre na psicose breve, um transtorno caracterizado pela presença desse tipo de sintoma, mas que tem curta duração e que não está relacionado a algum outro transtorno mental.
O que é o transtorno psicótico breve?
O transtorno psicótico breve é caracterizado pela presença de sintomas psicóticos como delírios e alucinações, porém dentro de um episódio autolimitado de curta duração. O episódio tem início súbito e pode durar de um dia a um mês.
A pessoa pode apresentar um ou mais sintomas psicóticos, como:
- Delírios;
- Alucinações;
- Fala desorganizada;
- Comportamento desorganizado;
- Catatonia.
É comum que a pessoa apresente também dificuldades cognitivas e dificuldades de regulação emocional, apresentando reações emocionais intensas e desproporcionais.
O episódio pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum que seja entre os 20 e 30 anos. Além disso, apesar de se tratar de um episódio de curta duração, os sintomas podem ser tão intensos que a pessoa pode representar risco para os outros e para si mesma, necessitando tratamento urgente.
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), o transtorno consta como “transtorno psicótico breve”. Já na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), consta como “transtorno psicótico agudo”, sob o código F23.
Causas
Não existem causas definidas para o transtorno psicótico breve. No entanto, sabe-se que muitos casos ocorrem após um evento estressor, ou seja, algum evento que causou um nível de estresse considerável ao indivíduo.
São eventos como a perda de um ente querido, acidentes, desastres naturais, migração, entre outros eventos que causam grandes mudanças na vida e na rotina de uma pessoa.
Sintomas da psicose breve
A psicose breve é caracterizada pela presença de pelo menos um dos seguintes sintomas:
Delírios
O termo delírio se refere a uma ideia irreal, na qual a pessoa acredita piamente mesmo que haja evidências contrárias. Os delírios podem ser bizarros, como no caso de acreditar estar sendo controlado por extraterrestres, ou podem ser até plausíveis, como é o caso dos delírios de infidelidade, em que a pessoa tem certeza que está sendo traída mesmo que não haja qualquer evidência.
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Alucinações
As alucinações são um fenômeno no qual a pessoa percebe um estímulo que não está lá. Em outras palavras, a pessoa vê coisas que não estão lá, ouve vozes, entre outros.
Fala e comportamento desorganizado
Em um episódio psicótico, a pessoa pode apresentar um discurso desconexo, no qual não fala “nada com nada”. Seu comportamento também pode ser desorganizado, fazendo coisas sem sentido e aparentemente sem propósito. Esses discursos e comportamentos podem ou não estarem relacionados ao conteúdo dos delírios apresentados pela pessoa.
Catatonia
A catatonia é um distúrbio comportamental que se manifesta no movimento do indivíduo. A pessoa pode ficar horas parada numa mesma posição, ainda que esta seja desconfortável, ou apresentar movimentos súbitos e estranhos, sem propósito.
Falta de insight em pacientes com psicose breve
Uma das questões mais complexas dos episódios psicóticos é a falta de insight, ou seja, a própria pessoa não percebe que há algo de errado consigo mesma. É como se ela perdesse o contato com a realidade e acreditasse que seus sintomas fossem o real.
Por conta disso, é bastante comum que quem percebe a necessidade de ajuda profissional sejam os familiares e amigos da pessoa. De início, a pessoa pode apresentar resistência em procurar tratamento, mas é importante ressaltar que, em alguns casos, o quadro pode representar risco para si mesmo e para os outros, sendo necessário o tratamento urgente.
Se você percebe que uma pessoa conhecida está apresentando sintomas psicóticos, sejam de início súbito ou não, não deixe de oferecer ajuda para procurar um profissional da saúde mental.
Tem cura?
O transtorno psicótico breve se resolve dentro de um mês e a pessoa tem uma recuperação completa, ou seja, consegue voltar a viver como vivia antes do transtorno. No entanto, é possível que pessoas que já apresentaram um episódio passem a apresentar mais episódios.
É importante investigar esses casos, pois pode ser que não se trate de uma psicose breve, mas sim algum outro transtorno que leva a sintomas psicóticos que ainda não foi diagnosticado, como é o caso de transtornos de personalidade e o transtorno afetivo bipolar.
Quanto tempo demora para a pessoa sair do episódio psicótico?
No caso do transtorno psicótico breve, o episódio tem duração entre 1 dia e 1 mês.
Em outras palavras, a pessoa deve voltar ao normal em até um mês para ser caracterizado como transtorno psicótico breve. Caso os sintomas persistam por mais tempo, é necessário uma reavaliação.
Em alguns casos, os sintomas duram tão pouco quanto apenas um dia. No entanto, a depender da intensidade desses sintomas, pode ser necessário buscar ajuda profissional urgentemente.
Diagnóstico do transtorno psicótico breve
O transtorno psicótico breve só pode ser diagnosticado quando a pessoa não apresenta outros transtornos que expliquem a vivência de um episódio psicótico.
Ou seja, se a pessoa já possui um diagnóstico de esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo, transtorno de personalidade borderline ou transtorno afetivo bipolar, a psicose breve não pode ser diagnosticada, pois os sintomas psicóticos já fazem parte destes outros transtornos.
Contudo, se a pessoa não apresenta outros sintomas relacionados aos transtornos citados e apresenta os sintomas psicóticos de início súbito (sem a chamada fase prodrômica, na qual a pessoa tende a se isolar antes do aparecimento de sintomas psicóticos), pode-se considerar o diagnóstico de psicose breve.
Segundo o DSM-V, a pessoa com psicose breve deve apresentar no mínimo um sintoma psicótico, como delírios, alucinações, fala e comportamento desorganizado e catatonia.
Por fim, os sintomas psicóticos não podem ser consequência do uso de substâncias como drogas e álcool.
Tratamento
O tratamento da psicose breve é feito com medicamentos antipsicóticos. Em casos mais severos, nos quais a pessoa apresenta risco para si mesma e/ou para outros, pode ser necessário o internamento psiquiátrico.
Geralmente, o tratamento com antipsicóticos é bastante efetivo e a pessoa tem uma recuperação completa. Caso os sintomas não passem com o tratamento ou após um mês de seu início, é necessário uma reavaliação do quadro, pois não se trata de psicose breve.
Embora o episódio possa se resolver de forma rápida, o acompanhamento psicológico também pode auxiliar no tratamento, especialmente após a resolução do episódio.
Para muitos, um episódio psicótico pode ser uma experiência traumática que causa diversos prejuízos. Neste sentido, a psicoterapia pode ajudar a lidar com o trauma e a recuperar aquilo que foi danificado durante o episódio.
A psicoterapia também pode ajudar prevenindo novos episódios, especialmente nos casos em que o episódio surgiu por conta de um evento estressor. Ao trabalhar questões como traumas e regulação emocional, torna-se mais fácil prevenir o desenvolvimento de quadros psiquiátricos.
Embora de surgimento súbito, o transtorno psicótico breve pode ser tratado e tem ótimo prognóstico. Se você suspeita que alguém ao seu redor está lidando com sintomas psicóticos, não hesite em oferecer ajuda e contatar um profissional da saúde mental!
Referências
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/esquizofrenia-e-transtornos-relacionados/transtorno-psic%C3%B3tico-breve
https://www.sanarmed.com/transtorno-psicotico-breve-pospsq
https://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_psic%C3%B3tico_breve