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Não é de hoje que ouvimos falar que psiquiatra é “médico de louco”. Infelizmente essa percepção errônea da profissão é muito difundida, chegando até mesmo a ser prejudicial, uma vez que muitas pessoas deixam de procurar ajuda quando precisam por medo de serem julgadas.
Diante deste quadro, é preciso pensar: o que um psiquiatra realmente faz? Durante muitos anos, a indústria cinematográfica vendeu uma imagem de que hospitais psiquiátricos são verdadeiros shows de horrores, e que qualquer pessoa necessitada dos serviços de um psiquiatra estaria, de fato, louca. No entanto, a verdade está muito longe do que acontece nas telas.
O que faz um psiquiatra?
O psiquiatra é um profissional especialista em saúde mental, ou seja, sua atividade consiste em identificar, tratar e prevenir os transtornos que podem surgir na mente. Ao contrário do que muitos pensam, a mente não é algo separada do corpo, tendo um funcionamento muito parecido com qualquer outro órgão e, sendo assim, passível de adoecimento.
Muitos transtornos mentais possuem uma base neurofisiológica, ou seja, acontecem por conta de um funcionamento alterado no cérebro. O psiquiatra é capaz de identificar se esse é o caso e aplicar o tratamento adequado para que o indivíduo leve uma vida funcional. O que tem de loucura nisso? Nada!
O que é saúde mental?
É importante entender que o conceito de saúde mental também não implica na ausência de transtornos mentais. Segundo a Organização Mundial da Saúde, saúde não é sinônimo de ausência de doença, e o mesmo vale para a saúde mental. Pessoas com diagnósticos severos, como esquizofrenia ou transtorno do pânico, podem se apresentar saudáveis no dia a dia. O que determina se uma pessoa precisa de um tratamento para a saúde mental não é a presença de um transtorno mental, mas sim sua qualidade de vida e a capacidade de ser funcional.
No caso de um indivíduo que acabou de passar por um divórcio e tem dificuldades para manter a sua rotina por conta disso, por exemplo, é aconselhável a procura por um profissional da saúde mental, seja ele um psiquiatra ou um psicólogo. Isso não significa que essa pessoa desenvolveu um transtorno por conta da separação, mas sim que, neste exato momento, há uma vulnerabilidade para pensamentos disfuncionais, que atrapalham a sua qualidade de vida.
Que tipo de problema um psiquiatra trata?
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Como vimos anteriormente, o psiquiatra trata principalmente transtornos mentais, embora possa auxiliar pessoas que estão em situação de vulnerabilidade mental e emocional sem que haja algum transtorno.
No entanto, existe uma confusão a respeito do quais são os tipos de transtornos que o psiquiatra pode tratar. Pois bem, aqui vão alguns exemplos:
- Transtornos depressivos, como a depressão maior, distimia e depressão refratária;
- Outros transtornos de humor, como o transtorno afetivo bipolar;
- Transtornos de ansiedade, como a síndrome do pânico e fobias específicas;
- Transtornos de personalidade, como o transtorno de personalidade borderline;
- Transtornos psicóticos, como a esquizofrenia;
- Abuso de drogas;
- Transtornos alimentares como anorexia e bulimia;
Só com essa lista, já dá pra ter uma noção de que são muitos os transtornos que podem ser tratados por um psiquiatra, não é mesmo? E muitos deles não sei encaixam dentro da definição de “loucura” que estamos acostumados!
Como é feito o tratamento psiquiátrico?
Muitos pensam que o tratamento psiquiátrico é feito apenas com medicamentos ou até mesmo através daqueles choques que vemos nos filmes de terror. Acontece que essas são apenas algumas das técnicas que o psiquiatra pode usar para tratar o paciente.
Além da prescrição de medicamentos adequados para cada caso, o psiquiatra pode planejar uma estratégia de reabilitação em conjunto com um psicólogo para que o paciente possa voltar a ter uma vida funcional. A aplicação de técnicas como eletroconvulsoterapia (os famosos choques) é feita com muito cuidado e preparação, incluindo anestesia, diferente do que é visto nos filmes.
Uma outra técnica que vem sido usada em casos de depressão, principalmente aquelas resistentes aos medicamentos, é a estimulação magnética transcraniana, que traz resultados eficazes e menos efeitos colaterais. No Instituto de Psiquiatria do Paraná oferecemos esta modalidade de tratamento. Saiba mais clicando neste post aqui.
Em casos de risco de vida elevado, como em uma crise suicida, o psiquiatra pode indicar um internamento para que o paciente receba cuidados integralmente, contribuindo para que não haja danos permanentes na vida desse indivíduo.
Ao contrário do que muitos pensam, dentro de uma instituição psiquiátrica, os pacientes não ficam “soltos” ou são medicados para ficarem “dopados” a todo instante. Há diversas atividades terapêuticas supervisionadas que auxiliam o paciente, promovendo uma base para um tratamento eficaz quando o paciente receber alta.
Quando procurar um psiquiatra?
É importante saber que tristeza não é depressão, oscilações de humor não são bipolaridade e sintomas de ansiedade não são pânico. Todas essas coisas são normais e fazem parte do espectro emocional do ser humano. Sendo assim, como saber quando se deve procurar um psiquiatra? Como saber quando esses fatores são sintoma de algum transtorno não diagnosticado?
A maneira mais fácil de descobrir se você precisa de ajuda é pensar se essas emoções e pensamentos estão atrapalhando a sua vida de maneira significativa. É normal se sentir triste após um infortúnio, mas não é normal não querer levantar da cama dia após dia por sentir uma tristeza duradoura que não vai embora.
É normal acordar com o pé esquerdo e, na metade do dia, estar de bom humor, porque o nosso humor não é algo constante. No entanto, não é normal quando se está triste e sem esperanças há várias semanas sem que haja qualquer motivo e, de repente, você se encontra energético e capaz de fazer qualquer coisa, chegando até mesmo a se envolver em atividades de risco.
Sentir-se inquieto, gaguejar, suar frio e ter vontade de ir ao banheiro antes de uma prova importante ou uma apresentação é uma manifestação da ansiedade fisiológica e saudável. Contudo, quando esses sintomas aparecem repentinamente, sem que haja qualquer motivo, de maneira muito intensa e impedindo você de realizar as suas tarefas adequadamente, pode ser um indicativo de que há algum problema na regulação das respostas ansiosas, o que necessita investigação e tratamento.
Por que o psiquiatra é conhecido como “médico de louco”?
Historicamente falando, a loucura foi um termo usado para designar pessoas que estavam fora dos padrões por algum motivo. Durante a época da Inquisição, por exemplo, qualquer pessoa que tivesse comportamentos não aprovados pela igreja era taxada de louca e bruxa, sendo condenada aos métodos de tortura para tentar converter essa pessoa.
Logicamente, com o tempo a loucura se tornou uma justificativa para os comportamentos desviantes das normas sociais vigentes no momento. Neste contexto, uma pessoa que pinta seus cabelos com cores fantasia, como rosa ou roxo, pode ser vista como louca — e, infelizmente, isso acontece com frequência.
Como diversos transtornos mentais afetam o comportamento de uma pessoa, ela pode agir de maneiras não esperadas pela sociedade em que a cerca. Desta forma, tem-se uma ligação entre o termo “loucura” e os transtornos mentais. No entanto, é comum que pessoas que sofrem com transtornos ajam de maneira socialmente adequada, sem levantar nenhuma suspeita de ter algum problema. Estaria essa pessoa livre da loucura? Se transtorno mental e loucura fossem a mesma coisa, certamente não.
Vale lembrar também que a expressão “médico de louco” está ligada à psicofobia, que é a aversão a pessoas com transtornos mentais. Como qualquer tipo de preconceito, a psicofobia é embasada em estereótipos errôneos que prejudicam a vida tanto de pessoas que assumem ter transtornos mentais quanto daquelas que sofrem em silêncio e nunca procuram ajuda por medo de julgamentos.
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Já passou da hora de pararmos de usar a “loucura” como sinônimo de transtorno mental, não é mesmo? Como pudemos ver, os transtornos são bem variados e afetam as pessoas das mais diversas formas, que podem ou não trazer consequências sociais, mas que jamais devem ser comparados ao conceito de loucura que, no fim das contas, já está obsoleto, não é mesmo?