TDAH subtipo impulsivo: como se manifesta? Quais as consequências?

Para além de distrações e esquecimentos, o TDAH também está relacionado a uma impulsividade que pode ser perigosa. Saiba mais aqui!
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O transtorno de déficit de atenção provoca, além de dificuldades de regular a atenção, uma série de outros problemas que podem causar vários prejuízos na vida de uma pessoa. Dentre eles, a impulsividade.

Neste texto, falaremos sobre o TDAH subtipo impulsivo-hiperativo, suas principais manifestações, consequências e comorbidades que podem surgir e interferir na qualidade de vida.

O que é TDAH?

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades em regular a atenção, hiperatividade, impulsividade e dificuldades de autocontrole.

Em geral, o transtorno é diagnosticado já na infância, entre os 8 e 10 anos de idade, pois os sintomas costumam atrapalhar muito no desempenho escolar.

No entanto, há também casos nos quais o TDAH passa despercebido e a pessoa só recebe o diagnóstico na idade adulta. No entanto, nesses casos, é necessário que os sintomas estejam presentes em sua vida antes dos 12 anos.

Durante muito tempo, o TDAH foi visto como um transtorno comportamental, por conta das suas manifestações no comportamento da criança.

No entanto, à medida em que o transtorno foi sendo mais estudado, percebeu-se que se trata de um transtorno com bases neurológicas, sendo, portanto, um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, um transtorno no qual o desenvolvimento cerebral se dá de forma diferente do esperado.

Há evidências de que o TDAH está relacionado a alterações nos sistemas dopaminérgico e noradrenérgico, fazendo com que haja uma redução da atividade em algumas áreas do cérebro.

Não existem causas específicas para o TDAH, mas alguns fatores de risco identificados foram: histórico familiar de TDAH (fatores genéticos), exposição a substâncias (nicotina, álcool, cafeína, entre outros) durante a gravidez, complicações no parto, entre outros.

Vale ressaltar que, apesar de ter início na infância, o TDAH não é um transtorno exclusivamente infantil. Embora cerca de 50% das pessoas diagnosticadas na infância não satisfaçam mais os critérios diagnósticos na idade adulta, ainda há muitos adultos que lidam diariamente com os desafios impostos pelo transtorno e que precisam continuar o tratamento por tempo indeterminado para manter a qualidade de vida.

Saiba mais: Diagnóstico do TDAH em adultos: por que é tão difícil?

Subtipos do TDAH

Em versões mais antigas do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), o TDAH era dividido em dois transtornos: o TDA (transtorno de déficit de atenção) e o TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).

Hoje em dia, a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) entende os dois transtornos como apenas um (o TDAH), separando-o então em subtipos. São eles:

  • Impulsivo-hiperativo: Caracterizado pela dificuldade de ficar parado ou sentado, necessidade de se movimentar e falar com frequência, bem como impulsividade;
  • Desatento: É o antigo TDA, caracterizado pelas dificuldades de atenção, mas sem apresentar tanta hiperatividade;
  • TDAH Misto/combinado: Combina sintomas do subtipo impulsivo-hiperativo e do subtipo desatento.

Vale ressaltar que os subtipos são classificados de acordo com os sintomas predominantes. Isso não significa que pessoas com TDAH impulsivo-hiperativo não apresentam também sintomas do TDAH desatento, mas sim que os sintomas do subtipo impulsivo-hiperativo são mais predominantes. No caso do subtipo combinado, não há uma predominância notável de sintomas hiperativos ou desatentos, havendo um equilíbrio entre esses dois.

Principais sintomas do TDAH impulsivo

No subtipo impulsivo-hiperativo, os principais sintomas e sinais que a pessoa apresenta são:

Agitação psicomotora

A pessoa pode ter muita dificuldade em se manter parada, podendo apresentar necessidade de se mexer constantemente, mesmo em momentos inadequados (como reuniões no trabalho, por exemplo).

É importante ter em mente que a hiperatividade motora tende a diminuir com a idade e, portanto, adultos com TDAH do subtipo impulsivo-hiperativo podem não apresentar tanta necessidade de se movimentar, mas tendem a ter uma espécie de hiperatividade mental, na qual os pensamentos não param e costumam ir e vir em grande velocidade.

Busca por estimulação

Para pessoas com esse subtipo de TDAH, o tédio é simplesmente intolerável, e a pessoa tende a buscar estimulação constantemente. É comum que essas pessoas se envolvam em diversas tarefas ao mesmo tempo e estejam sempre em busca de novidades.

Fala rápida e excessiva

Pessoas com TDAH impulsivo podem conversar o tempo todo, mesmo em ambientes inadequados (como a sala de aula), e apresentam uma tendência a interromper outras pessoas enquanto elas estão falando, bem como completar as frases dos outros antes que eles tenham terminado de falar.

Além disso, não é raro que essas pessoas falem numa velocidade rápida, concatenando diversos assuntos em uma única frase, podendo deixar o interlocutor confuso e com dificuldade de acompanhar sua fala.

Falas inapropriadas

Por conta da impulsividade, pessoas com esse subtipo de TDAH podem acabar falando coisas sem pensar antes, o que pode fazer com que digam coisas inadequadas para o momento, como soltar uma piada em um momento que pede maior seriedade, por exemplo.

Imediatismo

O subtipo impulsivo do TDAH pode fazer com que a pessoa tenha dificuldades em adiar a gratificação, ou seja, são pessoas que sentem necessidade de resultados imediatos, podendo se frustrar muito ou se irritar diante de situações em que é necessário esperar, como aguardar sua vez em filas, esperar seu pedido em um restaurante, entre outros.

Irritabilidade

Pessoas com TDAH impulsivo-hiperativo também apresentam uma maior irritabilidade se comparado a pessoas com TDAH predominantemente desatento ou pessoas que não foram diagnosticadas com nenhum transtorno mental.

É comum também que pessoas com TDAH tenham dificuldade com a regulação emocional, o que pode aumentar a irritabilidade nessas pessoas.

Instabilidade de planos, metas e objetivos

Por conta da necessidade de busca por estimulação, não é raro que pessoas com esse tipo de TDAH estejam sempre mudando seus planos, metas e objetivos. Além disso, o imediatismo pode fazer com que essas pessoas tenham dificuldade em se ater a planos de médio e longo prazo, aumentando as chances de mudanças nesses aspectos.

Em crianças, essa instabilidade pode ser vista como uma tendência a se entediar facilmente com coisas que antes queriam muito.

A impulsividade no TDAH e suas consequências

O termo “impulsividade” pode ser entendido como uma tendência a agir de forma rápida, “por impulso”, sem planejar ou considerar as possíveis consequências do comportamento.

Algumas das consequências mais frequentes da impulsividade no TDAH são:

Comportamentos inconsequentes no trabalho ou nos estudos

Não é raro que a impulsividade leve pessoas com TDAH a tomarem decisões sem pensar nas consequências, mesmo em contextos bastante significativos, como trabalho e estudos.

Muitas pessoas com TDAH do subtipo impulsivo saem da escola antes de concluir o ensino fundamental ou médio ou, alternativamente, quando chegam a ingressar no ensino superior, acabam largando o curso antes de concluí-lo.

O mesmo ocorre com empregos: é difícil uma pessoa com TDAH não tratado conseguir manter um emprego por mais do que alguns meses ou poucos anos.

Isso porque a impulsividade pode levar a problemas no local de trabalho e na relação com os colegas, ou até mesmo porque a pessoa pode não gostar do seu emprego e pedir demissão sem pensar em como isso poderia afetar sua carreira e suas finanças.

Gastos impulsivos

A falta de autocontrole frequentemente leva pessoas com TDAH do subtipo impulsivo-hiperativo a ter gastos impulsivos.

Isso se torna ainda mais relevante quando pensamos no fenômeno do hiperfoco, em que a pessoa tem um interesse muito intenso em algum assunto a ponto de investir todo seu tempo e dinheiro naquilo, para depois acabar abandonando tudo quando não tiver mais a sensação de novidade.

Tendência a vícios

A impulsividade está relacionada a dificuldades de autocontrole que, por sua vez, torna uma pessoa muito mais suscetível a desenvolver vícios, sejam eles comportamentais ou químicos.

Dentre os vícios químicos, podemos pensar no uso de drogas lícitas ou ilícitas que, muitas vezes, podem até ser usadas como forma de automedicação dos sintomas do TDAH, considerando que algumas substâncias (em especial as estimulantes) aliviam os sintomas desse transtorno.

Já no quesito comportamental, pessoas com TDAH do subtipo impulsivo frequentemente desenvolvem vício em telas, em videogames e até mesmo em alimentos.

Comportamentos de risco

A impulsividade está relacionada a comportamentos de risco por conta da dificuldade em pensar nas consequências ou, alternativamente, valorizar o impacto dessas consequências.

Os comportamentos de risco também podem surgir como uma resposta a problemas de regulação emocional. Neste sentido, a pessoa pode tentar lidar com suas emoções a partir de comportamentos impulsivos que podem parecer ajudar emocionalmente no momento, mas que trazem prejuízos a longo prazo.

Comorbidades e diagnósticos diferenciais

Algumas comorbidades são bastante comuns no TDAH do subtipo impulsivo-hiperativo.

Em alguns casos, a pessoa, na idade adulta, não satisfaz mais os critérios para diagnóstico de TDAH, mas pode continuar apresentando sintomas impulsivos, podendo ser necessário ter atenção a outras possibilidades diagnósticas (diagnósticos diferenciais.

Algumas comorbidades e diagnósticos diferenciais a se notar são:

Depressão e ansiedade

Embora seja mais frequente no subtipo desatento, o desenvolvimento de quadros de depressão e ansiedade também pode ocorrer em pessoas com TDAH subtipo impulsivo.

Isso porque as consequências dos sintomas podem acabar trazendo emoções negativas com bastante frequência, o que é um fator bastante conhecido para o desenvolvimento desses transtornos.

Transtorno por uso de substâncias e dependência química

A impulsividade frequentemente leva pessoas com TDAH a se envolverem em comportamentos de risco, dentre eles o uso de substâncias (legais ou ilegais).

O que começa de forma recreativa pode rapidamente se tornar uma dependência química por conta da falta de autocontrole que a impulsividade proporciona.

Além disso, não é raro que pessoas com TDAH acabem utilizando substâncias estimulantes ilícitas (como cocaína, anfetaminas etc.) como automedicação, pois essas substâncias não apenas trazem o efeito recreativo, mas também ajudam essas pessoas a lidar com seus sintomas, aumentando significativamente as chances de desenvolver uma dependência química.

Transtornos de personalidade

Muitas pessoas com TDAH do subtipo impulsivo acabam desenvolvendo, mais tarde, um transtorno de personalidade, como o transtorno de personalidade antissocial (TPA) ou o transtorno de personalidade borderline (TPB).

Esses transtornos são caracterizados por uma grande impulsividade, que pode levar a pessoa a comportamentos de risco.

No transtorno de personalidade antissocial, a impulsividade vem acompanhada da falta de sentimentos de remorso ou culpa, fazendo com que a pessoa muitas vezes não se sinta mal que suas ações impulsivas possam prejudicar outras pessoas.

Já no transtorno de personalidade borderline, a impulsividade tende a aparecer muito nas relações interpessoais, fazendo a pessoa tomar atitudes impulsivas para evitar rejeições ou abandono, bem como para tentar lidar com suas próprias emoções se envolvendo em comportamentos de risco.

Além disso, no caso do TPB, há ainda mais questões que se assemelham ao TDAH do subtipo impulsivo, como: busca por estimulação, imediatismo, baixa tolerância à frustração e instabilidade em planos, metas e objetivos (por conta da instabilidade na autoimagem característica do transtorno).

Como tratar o TDAH impulsivo-hiperativo

Em geral, o tratamento para o TDAH é feito por meio de medicamentos estimulantes e psicoterapia.

Os medicamentos estimulantes geralmente ajudam a pessoa a controlar melhor sua hiperatividade, podendo também ajudar nos comportamentos impulsivos.

No entanto, para trabalhar a impulsividade em si, a psicoterapia costuma ajudar bastante. Na psicoterapia, é possível identificar momentos nos quais a pessoa tende a agir por impulso e aprender a lidar melhor com esses momentos para evitar os comportamentos impulsivos.

Existem diversas terapias para tratar a impulsividade, mas as abordagens que mostram maior eficácia são a terapia cognitivo-comportamental (TCC), a análise do comportamento e a terapia comportamental-dialética (DBT).

Embora o TDAH possa se manifestar de diversas maneiras, a impulsividade do transtorno pode torná-lo especialmente prejudicial para quem convive com ele. Se você suspeita que possui algum problema de atenção e impulsividade, não hesite em procurar um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/pediatria/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-desenvolvimento/transtorno-de-deficit-de-aten%C3%A7%C3%A3o-hiperatividade-tdah
https://www.webmd.com/add-adhd/childhood-adhd/adhd-hyperactive-impulsive-type
https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2017.00454/full
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6850677/

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