Terapia dos esquemas: o que é, como funciona?

Terapia de longa duração pode ajudar a alcançar mudanças significativas em casos complexos. Entenda!
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A psicoterapia acaba sendo um pilar muito importante no tratamento de uma série de transtornos mentais. Atualmente, existem diversos tipos de terapias para todos os gostos, sendo que algumas apresentam maior eficácia do que outras para determinados transtornos.

Este é o caso da terapia do esquema, desenvolvida por Jeffrey Young no final da década de 80 para ajudar pacientes de transtornos de personalidade que não respondiam bem ao tratamento com a terapia cognitivo-comportamental (TCC) de curta duração — que costuma ser eficaz para uma série de transtornos, como ansiedade e depressão.

O que é terapia do esquema?

A terapia do esquema é um tipo de terapia cognitiva que integra elementos da terapia cognitivo-comportamental, da teoria do apego, da Gestalt-terapia, da teoria das relações objetais, entre outros, e tem como principal objetivo a modificação de esquemas desadaptativos a fim de tratar os transtornos de personalidade.

Nesta terapia, trabalha-se junto do terapeuta para identificar, compreender e modificar os esquemas, também chamados de esquemas desadaptativos iniciais. O termo “esquema” se refere a um padrão de sentimentos, percepções e comportamentos que uma pessoa desenvolve quando suas necessidades emocionais não são atendidas.

Em geral, os esquemas se formam na infância e se cristalizam conforme a idade avança, transformando-se em estruturas rígidas que resistem à mudança. Já o termo “desadaptativo” significa que estes esquemas não se adaptam adequadamente às situações e acabam trazendo prejuízos.

Caso estes esquemas não sejam tratados, a longo prazo eles podem fazer com que a pessoa lide com as situações exibindo comportamentos problemáticos, causando prejuízos significativos nas suas relações interpessoais.

Por se tratar de uma terapia que tem foco em transtornos de personalidade (em especial o transtorno de personalidade borderline), sua duração costuma ser entre 2 e 3 anos, levando em conta que flexibilizar traços de personalidade pode ser bastante demorado.

Apesar de ter sido pensada para o tratamento destes transtornos, a terapia do esquema também pode ser benéfica em diversos casos, como por exemplo transtornos alimentares, depressão, uso de substâncias, problemas de casais, entre outros. A terapia também pode ser útil para pessoas que não possuem nenhum diagnóstico, mas que percebem traços de personalidade que gostariam de modificar.

Objetivos da terapia do esquema

Como toda terapia, o objetivo geral da terapia de esquema é trazer um funcionamento mais saudável e adaptativo ao paciente. Isso pode ser feito por meio dos seguintes objetivos menores:

  • Identificar e modificar esquemas desadaptativos;
  • Identificar e trabalhar os modos de enfrentamento que impedem a pessoa de atender às suas próprias necessidades emocionais;
  • Mudar padrões de sentimentos e comportamentos que são direta ou indiretamente causados pelos esquemas;
  • Aprender a atender suas necessidades emocionais de forma saudável e adaptativa;
  • Aprender a lidar de forma saudável com as frustrações e demais sentimentos negativos quando eventualmente uma necessidade emocional não pode ser atendida.

Desenvolvimento dos esquemas: necessidades emocionais

Como dito anteriormente, os esquemas geralmente se formam quando as necessidades emocionais de uma pessoa não são atendidas. Isso é especialmente relevante na infância, período em que se formam os esquemas desadaptativos iniciais. As necessidades emocionais infantis que estão envolvidas no desenvolvimento de esquemas são:

  • Vínculos seguros: Sensação de segurança nos seus apegos, sabendo que pode contar com os outros se precisar de alguma coisa;
  • Autonomia: Estímulo à criação de um senso de identidade e à competência;
  • Liberdade de expressão: Para que a criança possa expressar seus sentimentos e seja recebida com validação;
  • Espontaneidade e lazer: Possibilidade de brincar e se expressar de forma espontânea;
  • Limites realistas e autocontrole: Criação de limites que são seguros, comunicados de forma amorosa, e apropriados para a idade.

Situações que levam ao desenvolvimento de esquemas

Em geral, existem algumas situações bem delimitadas que levam ao desenvolvimento de esquemas. É importante lembrar que esquemas podem se desenvolver em resposta a diversas situações, mas estas são as mais comuns. São elas:

  • Necessidades não atendidas: Quando a criança não recebe afeto dos pais ou cuidadores, ou quando eles falham em atender às outras necessidades emocionais;
  • Trauma e vitimização: Situações nas quais a criança vivencia abusos, traumas e situações similares;
  • Indulgência em excesso/falta de limites: Ocorre quando os pais ou cuidadores são superprotetores ou envolvidos em demasia na vida e privacidade da criança, impedindo a criação de limites saudáveis;
  • Identificação e internalização seletivas: Quando a criança absorve alguns comportamentos e atitudes dos pais ou cuidadores.

Quais são as categorias de esquemas?

Os esquemas podem ser bastante diversos e, até o momento presente, já foram identificados 18 tipos de esquemas. Eles são classificados em 5 categorias:

  • Domínio I – Evitação e rejeição: São esquemas que dificultam o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis;
  • Domínio II – Prejuízo na autonomia e performance: Inclui os esquemas que dificultam o desenvolvimento de uma identidade própria, prejudicando o funcionamento na idade adulta;
  • Domínio III – Falta de limites: São os esquemas que prejudicam o autocontrole e habilidade de respeitar limites dos outros ou próprios;
  • Domínio IV – Dedicação ao outro: Esquemas que fazem com que uma pessoa priorize as necessidades dos outros, deixando de cuidar das suas próprias necessidades;
  • Domínio V – Hipervigilância/inibição: Inclui os esquemas que priorizam a evitação de falhas e erros, geralmente por meio de autoconsciência exagerada, regras e desprezo por desejos e emoções.

Tipos de esquemas

Abaixo você encontra uma lista dos 18 esquemas identificados, bem como explicações rápidas de como eles se manifestam.

Evitação e rejeição

Abandono/Instabilidade

Neste tipo de esquema, a pessoa está constantemente esperando um inevitável abandono ou decepção em suas relações.

Desconfiança

A pessoa tem dificuldades para confiar nos outros, sentindo que os outros estão sempre prontos para magoá-la de alguma forma. A pessoa teme abusos, humilhações, ser enganada, manipulada ou negligenciada, e acredita que os outros irão fazer isso de propósito a qualquer momento.

Privação emocional

Este esquema faz com que a pessoa acabe se privando de emoções saudáveis, como o amor. A pessoa espera e acredita que não será amada, respeitada, querida, valorizada ou cuidada pelos outros.

Deficiência/vergonha

Neste esquema, a pessoa se sente inferior de alguma forma, tendo vergonha de si mesma. Vê-se como inferior, defeituosa, problemática e/ou indigna de ser amada.

Isolamento/alienação

É o caso de pessoas que se sentem diferentes e incapazes de participar de algum tipo de grupo social. Essas pessoas acabam se sentindo incompreendidas e não acreditam que possa existir alguém que possa compreendê-las ou aceitá-las.

Prejuízos na autonomia e performance

Dependência/incompetência

A pessoa se sente incapaz de satisfazer suas próprias necessidades, considerando-se uma pessoa incapaz de viver sozinha e gerando dependência de outras pessoas.

Vulnerabilidade

É uma pessoa que se sente vulnerável o tempo todo, antecipando contratempos, catástrofes, acidentes, crimes, doenças e até mesmo morte.

Submissão

Sente necessidade de agradar e para isso acaba se submetendo aos desejos de outras pessoas.

Fracasso

Pessoas com esse tipo de esquema sentem uma desesperança constante, pois acreditam que estão destinadas ao fracasso e nada do que façam vai ser bom o suficiente.

Falta de limites

Superioridade/grandiosidade

Pessoas com esse tipo de esquema se sentem superiores aos outros, acreditando que tem mais direitos e talentos que os demais.

Insuficiência no autocontrole/autodisciplina

São pessoas que não conseguem controlar seus impulsos e desejos imediatos, mesmo que isso prejudique seus planos de longo prazo.

Dedicação ao outro

Subjugação/repressão

Neste esquema, a pessoa esconde suas necessidades e desejos pois teme que os outros vão reagir mal, expressando raiva ou decepção.

Auto-sacrifício/altruísmo

São pessoas que sentem que devem sacrificar suas próprias necessidades para agradar ou atender às necessidades dos outros.

Busca por aprovação/reconhecimento

Neste esquema, as pessoas sofrem com o constante desejo de aprovação, validação, reconhecimento e atenção dos outros. Esse desejo é tão intenso que a pessoa chega a reprimir sua identidade, gostos e pensamentos.

Hipervigilância/inibição

Negatividade/pessimismo

Este esquema faz com que a pessoa espere sempre maus resultados, apresentando uma tendência a enfatizar os aspectos negativos das situações, bem como minimizar os aspectos positivos.

Inibição emocional

Pessoas que inibem suas emoções, em especial aquelas tidas como negativas (tristeza, raiva, medo, entre outras), com o objetivo de evitar consequências negativas.

Perfeccionismo

Neste esquema, a pessoa tende a exigir o máximo de si mesma e das outras pessoas. Ela desenvolve expectativas irrealistas, com bastante atenção a detalhes, e por conta disso apresenta insatisfação constante.

Punitividade

Este esquema leva a pessoa a crer que todos os erros devem ser punidos, independente de serem erros próprios ou de outras pessoas. Apresenta tendência a analisar e criticar em demasia.

Estilos de enfrentamento

Um outro conceito importante para a terapia do esquema são os estilos de enfrentamento, que são as respostas que uma pessoa dá aos esquemas desadaptativos. Os estilos de enfrentamento se expressam por meio de pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Esses estilos de enfrentamento podem ajudar bastante a lidar com os esquemas durante a infância e adolescência, mas costumam ser prejudiciais na idade adulta, tendo em vista que podem acabar reforçando os esquemas.

Não existe uma relação direta entre o tipo de esquema e o tipo de estilo de enfrentamento desenvolvido. Geralmente, o estilo de enfrentamento está mais relacionado ao próprio temperamento da pessoa ou aos estilos de enfrentamento aprendidos com os pais e cuidadores primários. Além disso, os estilos de enfrentamento podem mudar ao longo do tempo, mesmo que o esquema continue o mesmo.

Os estilos de enfrentamento são muito parecidos com as respostas de luta ou fuga. São eles:

Rendição

Ocorre quando a pessoa aceita o esquema e se rende a ele. Em geral, esse tipo de enfrentamento acaba reforçando o esquema.

É o caso de pessoas que sofreram negligência emocional durante a infância e continuam se envolvendo com parceiros emocionalmente negligentes na vida adulta.

Evitação

Na evitação, a pessoa tenta levar sua vida sem ativar o esquema. Ela pode acabar evitando atividades e situações que poderiam ativar o esquema e trazer a sensação de vulnerabilidade.

Esse estilo de enfrentamento está relacionado ao desenvolvimento de padrões de abuso e dependência de substâncias, bem como comportamentos compulsivos, arriscados e outros comportamentos que possam promover algum tipo de distração do esquema.

Contra-ataque ou supercompensação

Nesse estilo de enfrentamento, a pessoa se esforça para agir em oposição ao esquema. Apesar de parecer uma resposta saudável ao esquema, geralmente a supercompensação acaba indo longe demais e, de alguma forma, reforça o esquema.

Por conta disso, a pessoa pode acabar desenvolvendo comportamentos que parecem agressivos, exigentes, insensíveis ou excessivos, o que pode causar uma série de prejuízos nas relações interpessoais e na relação consigo mesmo.

Modos esquemáticos

Não raramente, as pessoas apresentam mais de um esquema, o que pode tornar o trabalho de modificar os esquemas em si bastante complexo. Por conta disso, pode ser que, durante a terapia, o terapeuta foque nos chamados modos esquemáticos para conseguir trabalhar as queixas trazidas pelo paciente.

Os modos esquemáticos são estados mentais que incluem o estado emocional e a maneira que a pessoa está lidando com ele no momento presente. Em outras palavras, é algo bem mais efêmero do que os esquemas em si, sendo mais uma análise do momento em que um esquema específico está ativo e que tipo de enfrentamento a pessoa está usando.

Uma mesma pessoa pode variar entre modos de forma considerável, o que explica mudanças abruptas e contrastantes no comportamento, ainda que a pessoa esteja respondendo ao mesmo esquema.

Técnicas usadas na terapia do esquema

Existem diversas técnicas que podem ser usadas nesse tipo de terapia. Algumas técnicas vão funcionar melhor para algumas pessoas e esquemas específicos.

Para trabalhar os modos e os esquemas, o terapeuta poderá utilizar os seguintes tipos de técnicas:

  • Técnicas emotivas: Usam as emoções para desarmar os esquemas, ajudando o paciente a vivenciar e expressar suas emoções de forma mais autêntica em um espaço seguro;
  • Técnicas interpessoais: Essas técnicas tem como objetivo analisar as relações do paciente e reconhecer de que forma os esquemas influenciam nessas relações;
  • Técnicas cognitivas: São técnicas parecidas com as técnicas da TCC, na qual o paciente irá identificar e questionar os padrões de pensamento prejudiciais que resultam de um esquema;
  • Técnicas comportamentais: As técnicas comportamentais ajudam a construir um repertório com mais comportamentos adaptativos e, portanto, saudáveis, evitando aqueles comportamentos problemáticos que surgem dos esquemas.

Terapia do esquema versus Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

Embora a terapia do esquema tenha surgido com base na TCC, existem algumas diferenças bastante significativas entre as duas.

A TCC tem como objetivo identificar as crenças disfuncionais dos pacientes, analisando os pensamentos, emoções e comportamentos do paciente com o objetivo de modificá-los para alcançar a chamada reestruturação cognitiva. É uma terapia de curta duração e que trabalha de uma forma bastante diretiva.

Já a terapia do esquema reúne uma série de teorias e práticas que tem como objetivo identificar esquemas, estilos de enfrentamento e modos, promovendo mudanças adaptativas. É um tipo de terapia de longa duração, pois mexe com questões como mágoas bastante antigas e traços e personalidade que podem demorar para alcançarem mudança significativa.

Se você se identificou com algum esquema e suspeita estar precisando de ajuda psicológica, não hesite em contatar um profissional da saúde mental! Vale ressaltar que diversos tipos de terapia são eficazes para tratar várias aflições mentais e você tem total liberdade para escolher a terapia que você sentir que é mais eficaz para você.

Referências

https://iptc.net.br/o-que-e-a-terapia-do-esquema/
https://blog.cognitivo.com/terapia-do-esquema-como-e-por-que-aplicar/
https://www.psychologytools.com/professional/therapies/schema-therapy/
https://www.healthline.com/health/schema-therapy-2

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