Transtorno do desejo sexual hiperativo: ninfomania e satiríase são problemas?

Quando o desejo sexual passa a prejudicar a rotina e as relações, pode ser necessário procurar ajuda. Entenda melhor aqui!
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A sexualidade é um assunto importante para a saúde mental, ainda que não se fale tanto sobre isso. Ter uma boa saúde sexual influencia na saúde mental e vice-versa.

Contudo, geralmente, quando pensamos em problemas sexuais, pensamos em problemas de falta de libido, dificuldade em engajar no ato sexual, entre outros. Porém, existem pessoas que tem o problema contrário: trata-se de uma libido muito exagerada, que chega a prejudicar seu funcionamento no dia-a-dia. É o caso das pessoas com transtorno do desejo sexual hiperativo.

O que é transtorno do desejo sexual hiperativo?

Também chamado de hipersexualidade, o transtorno do desejo sexual hiperativo é um transtorno de controle do impulso, ou seja, um transtorno no qual a pessoa não possui controle acerca dos seus impulsos sexuais. Sua principal característica é um nível elevado de impulso sexual que chega a prejudicar o funcionamento da pessoa no dia-a-dia.

Em outras palavras, é um transtorno no qual a pessoa gasta muitos recursos, energia e tempo em comportamentos relacionados ao desejo sexual, seja por meio da realização da atividade sexual, pelo consumo de pornografia, entre outros. A pessoa não tem controle sobre esses impulsos e acaba gastando mais tempo do que gostaria nessas atividades, podendo até mesmo repeti-las mesmo que já tenha alcançado o clímax.

Quando uma pessoa sofre com hipersexualidade, ela tem pensamentos obsessivos, desejos e comportamentos sexuais que podem ser angustiantes, levando a problemas como busca exagerada pela atividade sexual, o que pode prejudicar uma relação de molde monogâmico, recorrendo então a relações extramaritais, à prostituição, à pornografia e até mesmo ao voyeurismo (observação de outras pessoas realizando atos sexuais).

O transtorno também pode aumentar o risco de exposição a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A pessoa também pode praticar masturbação com frequência exagerada, podendo até mesmo causar lesões por continuar praticando o ato repetitivamente.

O transtorno do desejo sexual hiperativo não consta como um diagnóstico real no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V). No entanto, está presente na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10) sob o código F52.7, descrito como “Apetite sexual excessivo”.

Estima-se que a hipersexualidade seja mais frequente em homens do que em mulheres e sua incidência é de 3 a 10% da população estadunidense.

Outros nomes para o transtorno do desejo sexual hiperativo são hipersexualidade, apetite sexual excessivo, vício em sexo, ninfomania e satiríase.

Ninfomania ou satiríase?

O transtorno do desejo sexual hiperativo em mulheres é popularmente conhecido por ninfomania. O termo vem da mitologia grega, em que ninfas são espíritos da floresta altamente associados a uma sexualidade exagerada.

No entanto, o que poucas pessoas sabem é que existe um termo equivalente para este transtorno em homens: satiríase. O termo também vem da mitologia grega, mas desta vez considerando sátiros, que seriam espíritos que também possuem uma relação forte com a sexualidade.

Em outras palavras, os dois termos estão corretos para se referir ao transtorno do desejo sexual hiperativo, porém o seu uso vai depender do gênero da pessoa a qual está se referindo.

Quais são as causas do desejo sexual hiperativo?

Não existe uma causa específica para que uma pessoa desenvolva a hipersexualidade. No entanto, há evidências de que ela pode surgir a partir de diversos cenários e cada pessoa pode desenvolvê-la em contextos bastante diferentes.

Dentre estas condições estão:

Lesões cerebrais

Lesões cerebrais podem ser causadas por impactos e acidentes, mas também podem ser causadas por doenças como demência, quadros neurodegenerativos e tumores. Essas lesões podem levar à hipersexualidade pois podem danificar estruturas relacionadas ao controle de impulsos. Nestes casos, é possível que a lesão cause problemas de controle em outros tipos de impulsos também, não apenas os sexuais.

Desequilíbrios hormonais

Os hormônios sexuais podem afetar diretamente a libido e, em alguns casos, o apetite sexual exagerado pode ser sintoma de um desequilíbrio nesses hormônios. No entanto, é importante lembrar que, em determinados momentos, é normal que haja um aumento dos hormônios sexuais, como na puberdade e, nas mulheres, durante o período fértil.

O simples aumento de hormônios sexuais não necessariamente indica um quadro patológico, sendo necessário considerar as consequências comportamentais desse aumento para avaliar a possibilidade de um quadro de hipersexualidade.

Baixa autoestima

Pessoas que possuem uma autoestima baixa e problemas de autoimagem podem acabar buscando validação externa por meio da atividade sexual. Por conta disso, essas pessoas podem desenvolver um padrão de comportamento compulsivo no que tange a sexualidade.

No entanto, vale ressaltar que a baixa autoestima se manifesta de diversas formas e o comportamento sexual exagerado pode ser apenas uma dessas formas. Algumas pessoas que sofrem com problemas de autoestima podem ter uma reação contrária, podendo ter aversão à sexualidade.

Traumas sexuais

Embora eventos traumáticos frequentemente gerem repulsa, existem casos em que esses eventos podem acabar fazendo com que a pessoa se envolva em um padrão de comportamento que busca repetir o trauma. O porquê disso acontecer não é claro, mas estudos mostram que isso pode acontecer em casos de traumas sexuais, fazendo com que a pessoa se exponha com mais frequência a situações sexuais.

Dificuldades emocionais

Algumas pessoas podem ter dificuldades para lidar com as próprias emoções, utilizando o ato sexual como uma forma de escape.

Mania bipolar

No caso de pessoas que sofrem de transtorno bipolar, a hipersexualidade pode aparecer em episódios de mania.

Uso de substâncias

Quando uma pessoa apresenta um comportamento hipersexual recorrente do uso de alguma substância, geralmente não se diagnostica o transtorno do desejo sexual hiperativo. No entanto, é importante lembrar que algumas substâncias podem sim aumentar o comportamento sexual, como é o caso da cocaína, das anfetaminas e até mesmo o álcool.

Sintomas do desejo sexual hiperativo

Os sintomas da hipersexualidade se assemelham aos sintomas apresentados por pessoas que possuem um vício em substância. Dentre os sintomas, estão:

  • Pensamentos obsessivos de conteúdo sexual;
  • Fantasias sexuais intensas e recorrentes;
  • Comportamentos sexuais frequentes que chegam a tomar mais tempo do que o desejado ou planejado, prejudicando assim o tempo disponível para outras atividades;
  • A frequência dos comportamentos sexuais está relacionada a momentos de grande estresse ou estados afetivos desagradáveis, como sintomas depressivos, ansiedade, tédio, entre outros;
  • Dificuldade para controlar suas fantasias e impulsos sexuais;
  • Desconsideração pelos possíveis riscos ao se envolver em atividades sexuais;
  • Sentimentos de culpa e arrependimento após engajar-se em atos sexuais;
  • Angústia significativa ao não conseguir satisfazer seus impulsos sexuais, semelhante aos sintomas de abstinência em pessoas que sofrem com um vício em substâncias;
  • Perda de prazer ao realizar atos sexuais, incluindo uma necessidade de realizar os atos mais vezes para sentir satisfação (tolerância);
  • Em caso de relações monogâmicas, dificuldade em manter-se fiel pela necessidade de realizar atos sexuais com frequência.

É importante ressaltar que nem todas as pessoas que sofrem com apetite sexual excessivo traem seus parceiros. Algumas pessoas podem acabar desenvolvendo um consumo exagerado de pornografia para satisfazer sua compulsão, por exemplo, ao invés de se envolver sexualmente com outras pessoas.

Vale ressaltar que não existem números exatos para definir um comportamento sexual patológico. Estima-se, por exemplo, que homens atinjam o clímax sexual cerca de 3 vezes por semana. No entanto, homens que chegam nesse ponto mais vezes por semana não necessariamente tem uma relação patológica com a sexualidade, desde que consigam manter seu funcionamento normalmente em outras esferas da vida.

Tratamento

O tratamento do transtorno do desejo sexual hiperativo é feito principalmente por meio de psicoterapia, sendo bastante semelhante ao tratamento de outros transtornos aditivos.

Leia mais: Terapia Cognitivo-Comportamental para Transtornos Aditivos: como tratar vícios?

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajuda a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento que acabam ajudando a manter o vício. No entanto, existem outras terapias que podem ajudar, como a terapia de aceitação e compromisso (ACT) e outras terapias comportamentais de terceira onda.

Um dos maiores desafios do tratamento da hipersexualidade é o fato de que a sexualidade é um tabu e pode fazer com que pessoas que sofrem do problema tenham vergonha e evitem procurar ajuda. Existem tratamentos efetivos, mas a vergonha e a culpa podem interferir no processo.

Vale ressaltar que os profissionais da saúde são preparados para receber diversos tipos de queixas e nenhum assunto é verdadeiramente tabu, especialmente se a pessoa está buscando ajuda.

Não existem medicamentos específicos para o tratamento do apetite sexual exagerado, mas a pessoa pode fazer um tratamento farmacológico em algumas condições.

Quando a pessoa sofre também de outros transtornos mentais como depressão, ansiedade ou transtorno bipolar, o uso de medicamentos psiquiátricos também pode ajudar a controlar os sintomas destes transtornos, que podem ser a razão do comportamento hipersexual.

Antidepressivos costumam ser usados para tratar a depressão unipolar e a ansiedade. No entanto, para pessoas com transtorno bipolar, pode ser necessário o uso de medicamentos estabilizadores de humor, pois a hipersexualidade ocorre em episódios maníacos que não são tratados nem prevenidos com antidepressivos.

Embora ter uma vida sexual ativa seja importante para a saúde mental em grande parte das pessoas, a verdade é que algumas pessoas podem desenvolver uma relação não saudável com sua sexualidade, chegando a um nível exagerado.

Se você se identificou com os sintomas aqui descritos, não hesite em procurar ajuda com um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/compulsive-sexual-behavior/symptoms-causes/syc-20360434
https://www.verywellhealth.com/hypersexuality-disorder-5205366
https://www.verywellmind.com/hypersexuality-definition-symptoms-treatment-5199535
https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/22690-sex-addiction-hypersexuality-and-compulsive-sexual-behavior
https://www.medicinanet.com.br/cid10/1545/f52_disfuncao_sexual_nao_causada_por_transtorno_ou_doenca_organica.htm

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