Estima-se que 275 milhões de pessoas tenham usado uma droga ilícita pelo menos uma vez em 2016. Embora o uso ocasional de drogas não seja motivo de alarde, a verdade é que o uso recreativo, quando demasiado, pode ter consequências devastadoras na vida de uma pessoa.
A dependência química é um transtorno neuropsiquiátrico que surge do uso abusivo de drogas, tanto lícitas, como o álcool e o tabaco, quanto ilícitas, como a cocaína, a maconha e anfetaminas. Trata-se de um transtorno mental pois, além de envolver aspectos físicos, há uma dependência psicológica da substância.
Apesar de ser frequentemente falada no contexto das drogas recreativas, a dependência química também pode ocorrer com medicamentos. Por conta disso, é necessário seguir as instruções corretamente na hora de tomar um remédio receitado por um médico.
O que são drogas?
Drogas são substâncias psicoativas, ou seja, que agem no sistema nervoso central, alterando a função cerebral trazendo mudanças no comportamento, humor, percepção, entre outros.
Nessa definição se encaixam também os medicamentos que usamos frequentemente para lidar com patologias. Contudo, ao falar de dependência química, geralmente se fala sobre substâncias de uso recreativo, como álcool, tabaco, maconha, cocaína, crack, entre outras.
O termo “uso recreativo” significa que as pessoas utilizam a droga por prazer e não pelos seus possíveis efeitos terapêuticos.
Dentro das drogas recreativas, existem categorias, como as estimulantes (cocaína, anfetaminas etc.), as depressoras (álcool, heroína etc.) e as alucinógenas (LSD, cogumelos, entre outras). Cada uma delas características específicas no efeito recreativo e nos efeitos colaterais, bem como na abstinência.
Muitas das drogas recreativas podem ter efeitos colaterais que prejudicam a saúde física, podendo levar ao óbito caso haja exageros.
Dependência física vs. psicológica
Quando uma pessoa sofre com um vício, é comum que ela consuma a substância com uma frequência exagerada, podendo ser todos os dias ou até mesmo mais de uma vez por dia. Quando o efeito da droga passa, o corpo sente a falta da substância e surge uma série de efeitos colaterais que fazem com que a pessoa volte a consumir a droga. É a chamada abstinência.
Contudo, se a pessoa conseguir se manter afastada da substância pro tempo o suficiente, a abstinência tende a passar. Isso significa que o organismo não está mais sentindo a falta da substância. Ainda assim, a pessoa pode sentir uma vontade quase incontrolável de usar a droga. Essa vontade é popularmente conhecida como “fissura”. Quando isso acontece, estamos falando de uma dependência psicológica.
Enquanto a abstinência é facilmente tratada pela abstenção da droga, a dependência psicológica é mais difícil de lidar. É preciso tratamento adequado com uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais da saúde mental como psicólogos e psiquiatras.
Por que as pessoas ficam viciadas?
Existem diversos fatores que levam uma pessoa a desenvolver um vício em uma substância, mas o principal é o mecanismo de recompensa que existe no cérebro humano. Esse mecanismo é extremamente importante para a sobrevivência humana, porém o uso abusivo das drogas pode levar a problemas nesse mecanismo.
Muito do nosso comportamento é moldado pela presença de uma recompensa. Essa recompensa gera prazer, o que por sua vez indica ao cérebro que determinada atividade deve ser repetida mais vezes. Isso é o chamado reforço: uma recompensa que provoca um aumento na frequência de um comportamento.
Dentre as recompensas naturais que são saudáveis e necessárias para a sobrevivência humana estão a comida, a água, a atividade sexual e o cuidado. Contudo, existem recompensas artificiais que, em alguns casos, podem se tornar problemáticas. É o caso das substâncias psicoativas.
Ao introduzir no organismo uma substância que causa um prazer imenso com pouco esforço, como é o caso de muitas drogas de abuso, esse mecanismo de recompensa acaba auxiliando no desenvolvimento do vício pois, por conta do prazer, o comportamento de usar a droga é reforçado. Isso se torna especialmente problemático porque usar uma droga, geralmente, requer muito menos esforço do que outras atividades que também dão prazer.
Com o tempo, o comportamento de usar a droga é cada vez mais reforçado, enquanto outros comportamentos que antes traziam prazer são deixados de lado porque o esforço necessário é muito maior. A pessoa pode até mesmo acabar perdendo a capacidade de sentir prazer com outras atividades, o que recebe o nome de “síndrome amotivacional”.
É por isso que pessoas viciadas em substâncias acabam deixando toda a sua vida de lado apenas para continuar usando a droga. Por mais que existam efeitos colaterais e a pessoa esteja sofrendo com eles, o efeito da droga é tão poderoso nesse mecanismo que a pessoa simplesmente não consegue parar.
Sintomas da dependência química
A dependência química ocorre com uma variedade de sintomas, dentre eles:
- Sentir necessidade de usar a droga com frequência, às vezes até mais que uma vez por dia;
- Ter uma necessidade impulsiva de usar a droga, tendo dificuldade para pensar em qualquer outra coisa;
- Precisar cada vez mais de uma quantidade maior da droga para sentir seus efeitos (tolerância);
- Consumir a droga em maior quantidade e por mais tempo do que pretendia;
- Fazer estoque da droga;
- Gastar dinheiro com a substância, mesmo que não possa gastar;
- Deixar de comparecer ao trabalho, escola, faculdade ou situações sociais nas quais não há a droga;
- Continuar usando a droga, mesmo que ela esteja trazendo prejuízos físicos e sociais;
- Fazer coisas que normalmente não faria apenas para consumir a droga, com roubar;
- Realizar atividades de risco enquanto sofre influência da droga, como dirigir após beber álcool;
- Gastar bastante tempo para conseguir, usar ou se recuperar do uso da droga;
- Falhar nas tentativas de parar de usar a substância;
- Ter sintomas de abstinência ao tentar parar de usar a droga.
Se você se identificou com algum desses sintomas, é importante procurar ajuda o mais rápido possível!
Quem pode desenvolver dependência química?
Apesar de ser uma realidade, a dependência química acontece apenas com uma minoria dos usuários de drogas. É só pensar: quantas pessoas que você conhece bebem? E dessas pessoas, quantas desenvolveram um vício na bebida?
É comum que as pessoas exagerem ao usar uma droga depressora do sistema nervoso central como o álcool, mas o mero exagero (uso abusivo) não é o suficiente para caracterizar um vício. No caso do alcoolismo, a pessoa mostra sinais de um vício quando precisa beber quase todos (ou todos) os dias, tem sintomas de abstinência sérios como tremedeiras, entre outros.
Então, fica a questão: existem fatores que podem prever se uma pessoa irá desenvolver dependência química ou não? E, na realidade, a resposta é bem complexa. Enquanto grande parte da sociedade costuma culpar o próprio indivíduo pelo vício, existem outros fatores envolvidos.
Em alguns tipos de vício, já está claro que existe um fator genético envolvido, como é o caso do alcoolismo. Em outros, não se sabe exatamente o papel do fator genético, mas percebe-se uma grande questão social por trás do vício. Até mesmo no caso do alcoolismo o social é muito importante.
Se a pessoa está em um ambiente no qual o consumo de álcool está ligado a comemorações e sentimentos bons como a alegria, a chance dessa pessoa desenvolver problemas com a bebida são maiores, mesmo que ela não tenha o componente genético envolvido no alcoolismo.
O principal fator de risco para o desenvolvimento de uma dependência é o acesso à droga. Se a pessoa tem um acesso muito facilitado, as chances de desenvolver um vício são maiores. Morar em uma região onde há muito consumo de drogas ou andar em grupos sociais nos quais o consumo é alto são fatores importantes.
A presença de transtornos mentais como depressão, transtorno afetivo bipolar ou transtornos de personalidade também aumentam as chances de um uso abusivo de substâncias, que por sua vez pode se tornar um vício.
Outros fatores que aumentam as chances de desenvolver dependência química são o uso precoce, um status socioeconômico inferior e ser vítima de abuso físico ou sexual. Não existem evidências de que traços de personalidade estão relacionados ao abuso e dependência de substâncias.
Embora o uso de substâncias nem sempre seja motivo de preocupação, algumas pessoas podem desenvolver problemas sérios com o uso. Se você se identifica ou conhece alguém que se encaixa nos sintomas apresentados neste texto, não se esqueça de entrar em contato com um psicólogo ou psiquiatra de confiança!
Referências
https://www.who.int/topics/substance_abuse/en/
https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/drug-addiction/symptoms-causes/syc-20365112
https://www.health.harvard.edu/addiction/substance-addiction