Terapia de exposição assistida por Realidade Virtual: como funciona?

Muito usada para entretenimento, a Realidade Virtual pode ajudar também no tratamento de diversas condições. Entenda!
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A terapia de exposição é um tipo de terapia usada para tratar transtornos ansiosos e fobias, que podem impactar negativamente a vida de uma pessoa. Nesta terapia, a pessoa consegue, aos poucos, superar seus medos e resistências, recuperando assim sua qualidade de vida.

No entanto, nem sempre é simples conseguir os recursos necessários para a exposição adequada nesse tipo de terapia. É nesse contexto que entra a ajuda da Realidade Virtual, que simula situações em que a pessoa é exposta a estímulos ansiogênicos (que geram ansiedade) em um contexto seguro.

Quais transtornos podem ser tratados com Realidade Virtual?

Em geral, a Realidade Virtual (VR) é usada para tratar transtornos ansiosos como:

  • Fobias;
  • Síndrome do pânico;
  • Agorafobia;
  • Ansiedade social;
  • Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT);
  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG);
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

Esses transtornos são conhecidos por gerarem sintomas ansiosos diante de determinados estímulos. Estes estímulos são chamados de estímulos ansiogênicos.

Por exemplo, uma pessoa que tem fobia de agulhas apresenta sintomas ansiosos debilitantes ao ver agulhas, o que pode causar dificuldades em alguns contextos importantes como ao tomar vacinas ou ao precisar fazer um exame de sangue.

Pessoas que sofrem de síndrome do pânico com agorafobia podem ter dificuldade para sair de casa e pessoas com ansiedade social podem evitar situações sociais, podendo sofrer prejuízos não apenas na vida social como também na vida profissional e acadêmica.

Já pessoas que sofreram um trauma podem ter dificuldades com determinadas situações, como por exemplo entrar em um carro após ter sofrido um acidente. Nesses casos, a pessoa pode evitar se locomover de carro, tendo preferência por outras formas de locomoção que podem não ser tão eficazes a depender da distância a ser percorrida.

Com a Realidade Virtual, é possível simular diversos desses contextos para que a pessoa seja exposta a essas situações de forma segura, estando acompanhada de um terapeuta que ajuda a controlar os sintomas ansiosos.

Como é feita a terapia de exposição?

A terapia de exposição consiste em expor a pessoa gradativamente aos estímulos fóbicos, ao mesmo tempo em que trabalha para diminuir os sintomas ansiosos diante desses estímulos.

Isso pode ser feito por meio de exercícios de relaxamento, controle da respiração, entre outras técnicas conhecidas por ajudarem a diminuir estes sintomas.

Nessa terapia, a exposição é feita de forma gradual, ou seja, a pessoa vai sendo exposta aos poucos. Isso porque uma exposição muito direta logo no começo da terapia pode desencadear sintomas ansiosos muito intensos, podendo gerar até mesmo um ataque de pânico, reforçando a ansiedade sentida diante do estímulo fóbico.

Se isso acontece, o tratamento fica bastante comprometido, pois a pessoa tende a associar ainda mais o sentimento de medo e apreensão diante do estímulo específico.

Uma pessoa que tem medo de voar de avião, por exemplo, não pode ser tratada indo viajar de avião diretamente. É preciso primeiro expor a pessoa a situações mais amenas, como ir ao aeroporto observar os aviões, bem como adquirir conhecimento sobre como estas máquinas funcionam, estatísticas relacionadas à segurança dos aviões, entre outros.

A exposição é acompanhada de técnicas e habilidades que tem como objetivo diminuir os sintomas ansiosos, permitindo que a pessoa associe a situação ansiogênica a sentimentos mais amenos. Aos poucos, a pessoa deixa de temer a situação.

A terapia de exposição pode ser feita tanto pela exposição ao vivo, ou seja, a exposição direta à situação ansiogênica, como também por meio da imaginação. Ao imaginar as situações ansiogênicas, a pessoa tende a apresentar os mesmos sintomas que teria se estivesse exposta de verdade à situação.

Em alguns casos, a terapia de exposição é feita em conjunto com a utilização de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos, conforme receitado por um psiquiatra.

Dificuldades na terapia de exposição

A terapia de exposição é bastante eficaz no tratamento de transtornos ansiosos, no entanto, nem sempre é fácil ter acesso a ambientes e situações ansiogênicas.

Pessoas que passaram por situações traumáticas como acidentes de carro ou um assalto à mão armada de madrugada podem não conseguir recriar as situações com facilidade. Até mesmo fobias de insetos podem ser difíceis de recriar, pois nem sempre é possível fazer exposição direta ao animal.

Nesses casos, a imaginação costuma ser usada para recriar essas situações. Contudo, isso pode ser difícil, pois o terapeuta não tem acesso à cena imaginada, sem poder controlar a intensidade do estímulo ansiogênico. Em outras palavras, a pessoa pode imaginar uma cena muito pior do que seria uma exposição real, gerando sintomas ainda mais intensos do que o previamente esperado.

Vale ressaltar que também existem pessoas que sofrem de afantasia, que significa a falta de capacidade de imaginar coisas de forma vívida. Nestes casos, a imaginação não é um recurso que pode ser utilizado. Além disso, a capacidade imaginativa costuma declinar com a idade, então pacientes mais velhos podem ter mais dificuldade de imaginar uma situação do que pacientes mais novos.

Por fim, em casos nos quais a exposição direta é possível, muitos pacientes não se sentem confortáveis em tentar essa abordagem, preferindo desistir do tratamento.

Como a Realidade Virtual pode ajudar?

A Realidade Virtual simula um ambiente 3D completamente imersivo e interativo que permite que a pessoa engaje na situação apresentada de forma relativamente realista, promovendo a sensação de estar realmente naquela situação.

Por conta disso, a pessoa que usa da Realidade Virtual pode ter as mesmas respostas que teria em uma situação real, ou seja, se uma situação específica evoca sintomas ansiosos, ela apresentará esses mesmos sintomas dentro da simulação.

Isso permite que a pessoa esteja exposta à situação ansiogênica dentro de um contexto completamente seguro, como o consultório, sendo acompanhada do terapeuta que a ajuda a praticar as habilidades necessárias para diminuição dos sintomas ansiosos.

A Realidade Virtual permite que o terapeuta controle muito melhor o ambiente ao qual a pessoa está exposta, ao contrário da terapia de exposição feita com imaginação. Desta forma, o terapeuta pode controlar a intensidade do estímulo ansiogênico, evitando que a pessoa seja exposta a uma situação muito intensa logo no começo da terapia.

O tratamento feito com Realidade Virtual também ajuda na adesão à terapia. Isso porque as pessoas estão muito mais dispostas a serem expostas aos estímulos ansiogênicos dentro de um ambiente controlado e seguro. Na exposição ao vivo, a pessoa não tem a possibilidade de escapar ou sair da experiência caso haja uma resposta ansiosa muito intensa, diminuindo a sensação de segurança necessária para que o tratamento seja efetivo.

Além disso, o uso do VR pode ajudar o terapeuta a tornar a experiência mais individualizada, para que atenda exatamente à demanda trazida pelo paciente. Na exposição ao vivo, a falta de controle do ambiente pode fazer com que a pessoa seja exposta a mais estímulos do que o esperado, prejudicando sua capacidade de utilizar as habilidades aprendidas para lidar com os sintomas ansiosos.

Como funciona a terapia de exposição assistida por Realidade Virtual?

De início, algumas sessões de terapia podem ser usadas para discutir a ansiedade, seus gatilhos (estímulos ansiogênicos), possíveis traumas relacionados, entre outros. Nessas sessões, é avaliada a necessidade do uso de Realidade Virtual.

Depois, junto com o terapeuta, são planejadas as sessões de exposição. A exposição pode começar fora da Realidade Virtual, por meio de fotografias, por exemplo. Com o tempo, quando os sintomas ansiosos estão relativamente controlados, pode-se partir para a exposição assistida por um óculos VR.

O óculos VR é um aparelho que cobre todo o campo de visão da pessoa, muitas vezes possuindo também um fone de ouvido para maior imersão na cena por meio de sons. Algumas vezes, o óculos também possui um motor de vibração.

Com o óculos equipado, a pessoa é exposta a um ambiente imersivo e interativo que imita a situação ansiogênica.

Uma pessoa que tem ansiedade social, por exemplo, pode ser exposta a uma festa na qual precisa interagir com algumas pessoas. Já uma pessoa que tem medo de elevadores pode ser colocada em um prédio no qual precisa usar o elevador para chegar em outro andar. Em casos de agorafobia, a simulação pode ser sair de uma porta para um ambiente cheio de pessoas.

A simulação é feita de forma personalizada, para que a pessoa seja exposta exatamente à situação ou estímulo que lhe causa ansiedade. De início, as simulações podem ser mais amenas, aumentando gradativamente a exposição com o tempo.

No caso da pessoa com ansiedade social, uma primeira simulação pode consistir em simplesmente entrar no ambiente da festa. Já em um outro momento, é pedido que ela tente se aproximar de uma pessoa. Depois, é pedido que consiga falar com essa pessoa. Mais tarde, pode ser pedido que ela converse com mais pessoas dentro da simulação.

Já quando a pessoa tem medo de elevadores, em uma primeira simulação, ela só observa o elevador. Depois, pede-se que ela entre no elevador dentro da simulação e passe um tempo lá dentro, sem que o elevador se mova. Em sessões posteriores, pode ser pedido que ela entre no elevador e suba alguns andares, e assim por diante.

Parte da sessão é usada para a simulação ao mesmo tempo em que se aplicam habilidades para diminuição dos sintomas ansiosos, e outra parte da sessão é usada para discutir a experiência com o terapeuta, buscando explorar os sentimentos e impressões resultantes da simulação, bem como fazendo ajustes na simulação quando necessário.

Quanto tempo dura uma sessão de Realidade Virtual?

O tempo de duração da sessão vai depender da resposta do paciente. Entretanto, há pesquisas que mostram que sessões semanais de 15 minutos de simulação na Realidade Virtual já produzem bons resultados ao longo de 12 semanas.

Contraindicações da terapia assistida por Realidade Virtual

Infelizmente, a terapia assistida por Realidade Virtual pode não servir para todas as pessoas.

O uso de um óculos VR pode causar tontura, náusea e dores de cabeça em algumas pessoas, especialmente às mais sensíveis ao movimento. Já algumas pessoas podem ter alta sensibilidade à luz, que impede a utilização de um óculos VR.

Por fim, pacientes que sofrem de epilepsia fotosensitiva não devem fazer o uso deste equipamento pelo risco de desencadear convulsões.

Embora as fobias possam ser bastante incapacitantes, há tratamentos que podem ajudar imensamente pessoas que sofrem com esses problemas.

Se você se identificou ou conhece alguém que sofre prejuízos em seu dia-a-dia por conta de alguma fobia, não hesite em procurar ajuda de um profissional da saúde mental!

Referências

Boeldt, D., McMahon, E., McFaul, M., Greenleaf, W. (2019). Using Virtual Reality Exposure Therapy to Enhance Treatment of Anxiety Disorders: Identifying Areas of Clinical Adoption and Potential Obstacles. Front Psychiatry, 10:773. doi: 10.3389/fpsyt.2019.00773. PMID: 31708821; PMCID: PMC6823515.

https://www.brainline.org/treatment-hub/virtual-reality-exposure-therapy-vret
https://www.webmd.com/anxiety-panic/virtual-reality-exposure-therapy-overview
https://www.verywellmind.com/virtual-reality-exposure-therapy-vret-2797340

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