A psicologia, como ciência e prática, é um campo rico e diversificado, formado por diferentes correntes de pensamento e grandes teóricos que contribuíram para a compreensão da mente e do comportamento humano.
Dentre esses pensadores, Carl Rogers se destaca por inaugurar uma visão profundamente humanista, centrada na capacidade de crescimento e autonomia do indivíduo.
Neste texto, falaremos sobre quem foi Carl Rogers, suas ideias e seu legado, considerando também a abordagem terapêutica que desenvolveu ao longo de sua vida.
Quem foi Carl Rogers?
Carl Ransom Rogers foi um psicólogo norte-americano que fundou a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), uma abordagem da psicologia com raízes na teoria humanista, que valoriza o potencial e a capacidade de crescimento do ser humano.
Nascido em Oak Park, Illinois, no dia 8 de janeiro de 1902, Rogers era filho de pais que frequentavam a igreja pentecostal e o criaram com valores religiosos bastante restritivos. Ao todo, Rogers tinha 5 irmãos, sendo apenas um mais novo que ele.
Ao chegar na idade escolar, Carl Rogers já havia aprendido a ler em casa e, por conta disso, iniciou a escola pulando direto para o segundo ano.
Em 1914, sua família havia se mudado para uma fazenda em Glen Ellyn, onde Rogers passava muito tempo observando mariposas e outros seres vivos.
Quando pode ir à universidade, em 1921, Rogers iniciou seus estudos na Universidade de Wisconsin, inicialmente estudando agricultura. No entanto, resolveu trocar seu curso para história, graduando-se como bacharel em 1924.
Nessa época, havia entrado em um seminário protestante em Nova York, pois seus planos eram se tornar um ministro da igreja. Ao ter aulas sobre psicologia educacional, Rogers acabou se interessando pela psicologia e, em 1926, acabou desistindo da carreira religiosa.
Posteriormente, Carl Rogers fez mestrado (1928) e doutorado (1931) em Psicologia Clínica pela Universidade de Columbia.
Quando se graduou, Rogers trabalhou em uma instituição de proteção infantil chamada Rochester Society for the Prevention of Cruelty to Children. Quando estava nessa posição, trabalhou com crianças “problemáticas”, o que acabou influenciando muito sua visão sobre a importância do ambiente no desenvolvimento humano.
Também trabalhou dando aulas na Universidade de Rochester entre 1935 e 1940, quando foi aceito como professor na Universidade de Ohio.
Nessa época, o psicólogo tinha um colega de trabalho que havia estudado sob supervisão do psicanalista austríaco Otto Rank e entrou em contato com os trabalhos de Jessie Taft, uma autora que traduziu diversos trabalhos de Rank. Esses dois pensadores influenciaram o que, posteriormente, Roger chamaria de “terapia não diretiva”.
Essas experiências no trabalho com crianças problemáticas e seus pais e cuidadores o fizeram perceber que existe um valor no simples deixar o paciente falar, sem fazer intervenções diretas.
Em 1945, Carl Rogers se mudou para Chicago e fundou um centro de aconselhamento, semelhante a uma clínica psicológica, onde pôde pesquisar suas ideias e publicar seus resultados, o que ocorreu em 1951, no livro “Client-centered therapy”.
Carl Rogers também foi presidente da Associação Americana de Psicologia (APA) em 1947.
Rogers faleceu em 4 de fevereiro de 1987, em La Jolla, na Califórnia. Alguns dias após seu falecimento, ele havia sido nomeado para o Prêmio Nobel da Paz.
Contribuições de Rogers para a Psicologia
Carl Rogers e o Humanismo
O humanismo é uma abordagem que vê o ser humano como um agente de si mesmo, ao invés de ser controlado por forças inconscientes ou alguém apenas suscetível a fatores externos.
Esse pensamento contradiz as duas grandes escolas da psicologia de sua época: a psicanálise, que tinha como foco o inconsciente, e a comportamental (behaviorismo), que tinha como foco a influência do ambiente no reforço dos comportamentos de um indivíduo.
Para o humanismo, o indivíduo é responsável por si mesmo, por suas atitudes e suas escolhas. Ainda que haja influências externas ou internas, o humanismo vê o ser humano como capaz de “quebrar as correntes” dessas influências e encontrar uma forma de agir que seja congruente com seus pensamentos e valores.
As terapias humanistas, dentre elas a terapia desenvolvida por Rogers, tem como foco estimular essa autonomia e autorresponsabilidade do cliente.
A partir dessas ideias, Rogers focou seus estudos em pessoas que considerava sadias e não considerava que as pessoas que atendia eram “pacientes”, ou seja, pessoas passivas que apenas estavam esperando uma cura proposta pelo terapeuta, mas sim pessoas responsáveis pelo seu próprio processo de mudança.
Foi nesse contexto que Rogers desenvolveu a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP).
Abordagem Centrada na Pessoa (ACP)
Também chamada de Terapia Centrada na Pessoa (TCP), a ACP considera que, em vez de o terapeuta assumir um papel de autoridade, o cliente deve ser o centro do processo terapêutico, sendo tratado com empatia, autenticidade e aceitação incondicional positiva.
A aceitação incondicional positiva refere-se a uma consideração positiva pela pessoa pelo simples fato de ela existir, ao invés de valorizá-la positivamente somente quando se comporta de determinada maneira (aceitação condicional).
Os valores de empatia, autenticidade e aceitação incondicional são, na realidade, o que Rogers entende como as condições necessárias para que uma pessoa consiga atingir mudanças em sua personalidade.
Rogers acreditava que todo indivíduo possui dentro de si os recursos necessários para crescer e se desenvolver, desde que esteja em um ambiente acolhedor e compreensivo. O psicólogo nomeou esse fenômeno tendência atualizante.
Em suma, para Rogers, a melhora psicológica e comportamental vem da própria determinação do sujeito a partir do momento em que ele está em um ambiente saudável em que existe empatia, autenticidade e aceitação incondicional positiva.
Contudo, para que isso funcione em terapia, Rogers também postulou outras 3 condições complementares:
- O contato psicológico entre terapeuta e cliente (ou seja, uma relação terapêutica bem estabelecida);
- Incongruência do cliente (um desencontro entre a experiência vivida e a consciência do cliente, causando sentimentos de vulnerabilidade e ansiedade);
- A própria percepção do cliente acerca da empatia e aceitação do terapeuta.
A abordagem centrada na pessoa é conhecida por ser uma terapia não-diretiva, ou seja, o terapeuta não segue um protocolo ou técnicas específicas, mas permite que o cliente guie as sessões ao mesmo tempo em que promove esse ambiente empático, autêntico e de aceitação proposto por Rogers.
O indivíduo funcional segundo Carl Rogers
Para Carl Rogers, um indivíduo que atua conforme sua tendência atualizante estando em um ambiente saudável possui as seguintes 7 características:
- Abertura para a experiência e o abandono da defensividade;
- Um estilo de vida existencial que enfatiza o viver no momento, sem distorcê-lo;
- Confiança em si mesmo;
- A habilidade de tomar decisões de forma livre, responsabilizando-se pelas suas escolhas. Ou seja, é uma pessoa altamente autodirigida;
- Uma vida de criatividade e adaptação, incluindo o abandono da conformidade;
- A capacidade de se comportar de forma confiável e fazer escolhas construtivas;
- Uma vida plena e rica que envolve todo o espectro de emoções humanas.

Principais obras
Entre suas obras mais importantes estão Tornar-se Pessoa (1961), uma obra que introduz as ideias de Rogers a respeito do desenvolvimento da pessoa e de sua personalidade, e Liberdade para Aprender (1969), que apresentam seus princípios teóricos e sua aplicação na educação.
Outras obras notáveis são Um Jeito de Ser (1980), Grupos de Encontro (1970), Sobre o Poder Pessoal (1977), Quando fala o coração: a essência da psicoterapia centrada na pessoa (2004).
O legado de Carl Rogers
Carl Rogers foi, junto com Abraham Maslow, um dos fundadores da psicologia humanista, uma corrente da psicologia que considera o ser humano livre e único, enfatizando as singularidades de cada indivíduo.
A psicologia humanista é conhecida como a terceira força da psicologia, ao lado da psicanálise e da psicologia comportamental (behaviorismo).
Contudo, apesar das grandes contribuições de Rogers, Maslow é mais lembrado na cultura popular, em especial por conta da sua hierarquia de necessidades, também conhecida como pirâmide de Maslow.
Os estudos de Rogers também tiveram impacto no conhecimento acerca do desenvolvimento infantil e no aprendizado. Em outras palavras, além do campo da psicologia clínica, seus conhecimentos são usados também no campo da educação.
Rogers foi o primeiro psicólogo a chamar os pacientes de “clientes”, pois o termo “paciente” os colocava em um lugar de inação, enquanto a terapia proposta por Rogers era pautada justamente na tomada de ação do indivíduo em direção à autoatualização, dirigida pela própria tendência atualizante do indivíduo.
Ele também foi pioneiro na pesquisa científica em psicoterapia. Até então, a comunidade científica tinha resistência em fazer pesquisas com psicoterapia pois acreditava-se que a presença de um terceiro elemento no consultório poderia afetar os resultados.
Para isso, Rogers gravou diversas sessões, analisou transcrições e aplicou questionários psicométricos nos pacientes antes e depois do processo psicoterapêutico a fim de compreender a diferença que a psicoterapia fazia nos indivíduos.
Em 1973, Carl Rogers recebeu o prêmio Award for Distinguished Scientific Contributions na Associação Americana de Psicologia (APA) por conta de suas pesquisas na área da psicoterapia.
O pensamento de Rogers se tornou bastante popular durante os anos 60 e 70, quando ocorreu o movimento de contracultura nos Estados Unidos. Por conta disso, o trabalho de Carl Rogers foi descrito como “revolucionário” por Abraham Maslow em 1974.

Embora a psicologia seja um campo vasto, cada pensador trouxe contribuições importantes não apenas para a compreensão do ser humano, mas também para permitir que a psicoterapia e a saúde mental possam se encaixar aos mais diversos tipos de pessoa, com seus desafios e necessidades específicas.
Se você gostou do que viu sobre a Abordagem Centrada na Pessoa e acha que ela poderia te ajudar, não hesite em procurar um profissional!
Já se você acredita estar lidando com questões emocionais mais intensas e que podem precisar de uma intervenção maior do que só psicoterapia, entre em contato com um médico psiquiatra.
Referências
https://counsellingtutor.com/biography-of-carl-rogers/
https://www.goodtherapy.org/famous-psychologists/carl-rogers.html
https://historyofsocialwork.org/eng/details.php?cps=17&canon_id=159
https://www.apa.org/about/governance/president/carl-r-rogers