Nova Inteligência Artificial converte pensamentos em palavras

A fim de ajudar pessoas com dificuldade de fala, inteligência artificial pode transformar pensamentos em texto
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Uma nova Inteligência Artificial, chamada “decodificador semântico”, é capaz de transformar a atividade cerebral de uma pessoa em texto fluído. O sistema foi desenvolvido na Universidade do Texas, em Austin, e teve um estudo publicado no periódico científico Nature Neuroscience.

Com funcionamento semelhante ao ChatGPT (Open AI) e ao Gemini (inteligência artificial da Google, antigamente chamada de Bard), o modelo usa a atividade cerebral do indivíduo, medida por meio de ressonância magnética funcional (fMRI), para converter pensamentos em palavras na forma de texto escrito.

Qual a utilidade dessa ferramenta de IA?

Em um primeiro momento, essa ferramenta é pensada para ajudar pessoas que estão conscientes, mas que por algum motivo não podem falar. É o caso de pessoas que sofreram acidentes vasculares cerebrais (AVC) e desenvolveram dificuldades motoras, assim como outras enfermidades que tornam a pessoa fisicamente incapaz de produzir os sons da fala.

No entanto, neste momento, a tecnologia está em fase de testes e ainda precisa de muito trabalho para se tornar algo acessível ao público. Embora seja um grande avanço, a ferramenta tem uma taxa de acerto de 50%, podendo produzir textos desconexos e sem sentido em grande parte do tempo.

Mesmo assim, se trata de uma ferramenta promissora no futuro, considerando que não necessita de implantes cirúrgicos, tornando-se uma alternativa não invasiva para melhorar a comunicação daqueles que não podem falar.

Como funciona?

O método utilizado no estudo publicado consiste em, primeiro, treinar o decodificador a fim de produzir respostas precisas. Depois, utilizando a ressonância magnética funcional, os participantes da pesquisa foram colocados para ouvir uma história inédita ou imaginar que estão contando uma história.

A atividade cerebral gerada dessas atividades permite que inteligência artificial a converta em texto. No entanto, por enquanto, o texto não é exatamente aquilo que a pessoa pensou ou ouviu, mas uma aproximação dos significados pretendidos.

Por exemplo, se a pessoa ouviu “eu ainda não tenho minha carteira de motorista”, a ferramenta converteu esse pensamento para “ela ainda não aprendeu a dirigir”. Ao ouvir “Eu não sabia se gritava, chorava ou fugia. Ao invés disso, eu disse ‘Me deixe em paz!’”, a ferramenta traduziu para “Começou a gritar e chorar, então ela disse ‘Eu pedi que você me deixasse em paz’”.

Embora haja muitas palavras em comum, as frases podem ter significados diferentes, o que pode causar certa confusão.

Problemas e implicações éticas dessa tecnologia

Assim como muitas novas tecnologias, esta também apresenta algumas implicações éticas.

Uma das principais implicações éticas dessa ferramenta é a questão da privacidade dos pensamentos. Dentro da psicologia, os pensamentos são entendidos como eventos privados, que ocorrem dentro de uma pessoa, e que nem sempre podem ser controlados.

Isso significa que muitas pessoas, no dia-a-dia, pensam coisas com as quais não concordam ou que não gostariam de comunicar. Com essa tecnologia, seria necessário haver uma forma de impedir que os pensamentos fossem comunicados a todo tempo, para que a pessoa conseguisse ter essa privacidade dos pensamentos.

Além disso, não é como se todas as pessoas tivessem apenas um pensamento ocorrendo em um determinado tempo. Algumas pessoas podem ter mais de um pensamento ocorrendo em sua mente simultaneamente, o que poderia atrapalhar a conversão.

O fato de que a transcrição também não ocorre palavra por palavra abre espaço para confusões que podem ser bastante prejudiciais, a depender da situação.

Por fim, a tecnologia de inteligência artificial também tem seus problemas. Uma das críticas existentes a essa tecnologia é a possibilidade de vieses que perpetuam problemas como a discriminação com base em etnia, gênero, condições psiquiátricas, entre outros.

Isso não é um problema exclusivo da IA, porque, no fim, ela só está reproduzindo o que já existe na sociedade. No entanto, seria bem complicado se a ferramenta em questão trocasse as palavras pensadas pela pessoa por termos racistas, por exemplo, o que teria implicações legais.

Sobre a ressonância magnética funcional

Anteriormente, falamos sobre como a inteligência artificial se utiliza de uma técnica chamada ressonância magnética funcional para detectar a atividade cerebral que será transcrita em palavras.

Essa técnica consiste na detecção de alterações no fluxo sanguíneo no cérebro, que ocorre devido à ativação neuronal durante a execução de uma atividade específica. Ou seja, quando uma pessoa pensa em algo específico, uma determinada área do cérebro tem atividade neuronal, que por sua vez causa alterações no fluxo sanguíneo da região.

Trata-se de uma técnica bastante utilizada em estudos neurocientíficos desde os anos 90, sendo responsável por grande parte do conhecimento que temos atualmente sobre o funcionamento do cérebro.

No entanto, é uma técnica que necessita a utilização de fortes ímãs, o que pode não ser prático para sua utilização no dia-a-dia. Em outras palavras, pode demorar para que essa técnica possa ser usada por pessoas fora de um consultório, como um equipamento de acessibilidade.

Alternativas para fala

Enquanto essa tecnologia não se torna acessível para o público geral, existem algumas alternativas para pessoas que não conseguem se comunicar verbalmente, como sintetizadores de voz que transformam o texto escrito em fala.

Com essa tecnologia, a pessoa pode elaborar um texto do que deseja comunicar e usar a voz do programa para traduzir sua mensagem em linguagem oral.

O problema dessa ferramenta é que, geralmente, ela necessita de mobilidade nas mãos para que a pessoa consiga usá-la, a fim de conseguir digitar o texto. No entanto, algumas pessoas tem perda da mobilidade em todo o corpo, dificultando essa tarefa.

Contudo, adaptações desse sistema vem sido feitas para que mais pessoas tenham acesso a ele, mesmo quando existem outros desafios motores.

É como o aparelho usado por Stephen Hawking, grande físico britânico que perdeu toda sua mobilidade devido a uma condição chamada “esclerose lateral amiotrófica” ou “doença de Lou Gehrig”. Este aparelho era controlado por movimentos em sua bochecha ao invés do movimento das mãos.

Acessibilidade é um recurso muito importante para que pessoas com algum tipo de deficiência sejam capazes de recuperar sua autonomia e ter uma melhor qualidade de vida. Por isso, as pesquisas em relação a essas tecnologias continuam a todo vapor.

Agora, com o avanço das inteligências artificiais, essas tecnologias podem ganhar novas proporções e ajudar milhares de pessoas. No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que essas ferramentas sejam precisas e confiáveis.

Referências

https://neurosciencenews.com/thoight-text-ai-decoder-23437/
https://www.forbes.com/sites/jeffraikes/2023/04/21/ai-can-be-racist-lets-make-sure-it-works-for-everyone/?sh=357c84362e40

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