Os subtipos de TOC: quais são?

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O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um transtorno mental caracterizado por pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos, geralmente realizados para aliviar o sofrimento causado pelas obsessões.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência do TOC é de 2% no mundo inteiro. É importante ressaltar que o transtorno pode atingir todas as idades, sendo comum seu início já na infância. Infelizmente, nesses casos é frequente que demore até que o paciente receba o diagnóstico correto.

Obsessões e compulsões: o que são?

Obsessões são pensamentos intrusivos e indesejados que provocam angústia. Uma pessoa que sofre com obsessões tem pensamentos desagradáveis involuntariamente e tem muita dificuldade para evitar ou reprimir esses pensamentos.

Compulsões são comportamentos ou atos mentais repetitivos e estereotipados provenientes de impulsos difíceis de resistir. Frequentemente, as compulsões são feitas para neutralizar ou aliviar a ansiedade e angústia causadas por pensamentos obsessivos.

A dinâmica entre obsessões e compulsões pode se tornar tão elaborada que a pessoa que sofre com TOC chega a desenvolver rituais complexos e demorados, que por sua vez trazem prejuízos significativos para a vida social, profissional e/ou acadêmica do indivíduo.

Existem “tipos de TOC”?

Não existe uma classificação oficial dos subtipos de TOC, mas muitas pesquisas mostram dados que sugerem alguns subtipos de sintomas baseados na temática dos sintomas.

É comum ouvirmos falar em pessoas que tem “TOC de limpeza” ou “TOC de checagem”, dando a impressão de que os subtipos do TOC são muito bem definidos. Contudo, uma mesma pessoa pode sofrer com mais de um subtipo. Ter um “TOC de limpeza” não impede que a pessoa sofra também com um TOC de ferimentos e compulsões de checagem.

Vale ressaltar que o desenvolvimento dos sintomas do TOC pode seguir cursos muito distintos, sendo difícil comparar as experiências de pessoas diferentes. As obsessões variam em tema e intensidade, assim como as compulsões, que podem ou não estar relacionadas às obsessões.

Subtipos de sintomas

Medo de contaminação

O medo de contaminação é uma das obsessões mais frequentes e costuma vir acompanhada de compulsões relacionadas a limpeza.

A pessoa que sofre com esse subtipo de sintoma costuma ter pensamentos relacionados a contaminação por germes quando entra em contato com superfícies que não foram higienizadas recentemente, tal qual uma maçaneta em um local público.

Ela pode carregar lenços consigo para limpar as superfícies antes de tocá-las, ou correr para o banheiro para lavar as mãos caso não tenha a possibilidade de limpar as coisas antes de tocar. Essas pessoas podem ter dificuldades até mesmo em cumprimentar os outros.

Esse subtipo costuma ser comum em pessoas que têm histórico familiar do transtorno obsessivo-compulsivo.

Em crianças pequenas, os sintomas desse subtipo podem aparecer já entre os 22 e 24 meses de vida. Por conta da baixa idade, eles aparecem mais frequentemente na forma de preocupação com a sujeira ao invés de atos compulsivos como lavar as mãos com frequência exagerada.

No que tange o tratamento, estudos mostram que o uso de medicamentos antidepressivos é bastante efetivo para ajudar nesses pacientes.

Ferimentos e compulsões de checagem

Pessoas com sofrem com TOC de ferimentos temem constantemente machucar a si próprios ou aos outros. Esse subtipo é mais comum em pessoas com histórico familiar de TOC.

Um exemplo de obsessão que surge neste subtipo de TOC é o medo de que haja um vazamento de gás e a casa pegue fogo. Por isso, a pessoa checa compulsivamente o fogão para se assegurar que nada assim irá acontecer.

Esse subtipo não se refere apenas a ferimentos, mas também a prejuízos em geral. Uma das possíveis obsessões, por exemplo, é o medo de que alguém entre em casa e roube todos os pertences importantes. Nesse caso, a pessoa checa as trancas de casa várias vezes para ter certeza de que não há como alguém entrar e roubar a casa.

Pensamentos proibidos/tabus

Abrange obsessões relacionadas a agressão, sexo, religião e outros assuntos que são considerados tabus na sociedade. Em muitos casos, a pessoa com esse subtipo de TOC não apresenta comportamentos compulsivos, motivo pelo qual ele é frequentemente referido por “obsessão sem compulsões aparentes”. As compulsões, nesses casos, ficam quase exclusivamente confinadas aos atos mentais.

A resposta desses pacientes a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) não é muito significativa, especialmente quando não há comportamentos compulsivos. Em especial os casos de obsessões e compulsões relacionadas a agressão em adultos tendem a responder bem ao tratamento com antidepressivos.

Simetria

Esse subtipo abrange obsessões de simetria com compulsões de organização e contagem. Pessoas que sofrem com esse tipo de TOC costumam pensar que, se as coisas não estiverem organizadas adequadamente, coisas ruins podem acontecer. Contudo, esse nem sempre é o caso. Vez ou outra, a desorganização apenas causa uma angústia imensa, sem que haja a preocupação de que alguma catástrofe pode ocorrer.

Em crianças, os primeiros sintomas podem se dar a partir dos 22 meses de idade. Os pais ou cuidadores podem perceber que a criança passa a mexer com objetos frequentemente até que eles pareçam organizados. Dependendo do objeto, esse tipo de comportamento pode ser visto como normal, como é o caso de brinquedos de encaixar. Contudo, quando se trata de TOC, é provável que a criança faça isso com os mais variados tipos de objetos.

Acumulação compulsiva ou colecionismo

Antigamente, a acumulação compulsiva era vista como um subtipo de TOC. Agora, no entanto, ela recebeu seu próprio diagnóstico no DSM-5: transtorno de acumulação.

Trata-se de um transtorno no qual a pessoa tem a necessidade de poupar seus bens materiais, tendo uma dificuldade imensa de se desfazer deles. Mesmo objetos quebrados ou raramente usados não são desfeitos pois a pessoa acredita que um dia irá precisar deles. Em casos graves, a acumulação de objetos é tão grande que a pessoa tem pouco espaço em casa.

Existe, de fato, alguns objetos que são necessários e dos quais não devemos nos livrar, mesmo que sejam pouco usados. Contudo, no caso do transtorno de acumulação, a pessoa tende a guardar coisas que não são realmente úteis para ela ou que não tem valor de fato, como revistas velhas, roupas que não cabem mais, recibos de compras, anotações velhas, entre outros.

Nas crianças, a acumulação também pode começar cedo, entre os 25 e 27 meses de idade. Embora possa parecer normal a criança querer guardar coisas que chamam sua atenção, é importante investigar caso a criança esteja coletando e armazenando objetos com muita frequência.

Pesquisas mostram que o tratamento com a TCC tem uma eficácia reduzida em pacientes com TOC de acumulação. Um dos possíveis motivos é que esses pacientes costumam desistir mais facilmente do tratamento.

Alguns estudos mostram que, em grande parte dos casos, a acumulação está relacionada mais a um transtorno de de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) do que ao TOC em si. Portanto, algumas pessoas que sofrem com acumualação compulsiva podem não satisfazer os critérios diagnósticos para transtorno obsessivo-compulsivo. Isso explica o porquê, em muitos casos, o tratamento medicamentoso não tem tanto efeito quanto em outros subtipos do transtorno.

TOC relacionado a tiques

Um outro possível subtipo do transtorno obsessivo-compulsivo é quando há a presença de tiques. Esse subtipo compõe de 10 a 40% dos casos de TOC que se iniciam na infância e tem uma relação forte com hereditariedade, sendo mais comum em homens.

Há também uma grande frequência de sintomas dos subtipos simetria, pensamentos proibidos e acumulação quando há tiques. Em alguns poucos casos, pode haver sintomas de limpeza.

A síndrome de Tourette, frequentemente representada por tiques verbais de conteúdo obsceno, se encaixa nesse subtipo de TOC.

Comorbidades comuns ao TOC relacionado a tiques são o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno opositivo-desafiador (TOD) e tricotilomania (compulsão por arrancar cabelos e pêlos do corpo).

No que tange o tratamento, estudos mostram que, nesses casos, o uso de medicamentos antidepressivos pode ajudar a diminuir os tiques. Além disso, é comum que haja um pico da severidade dos sintomas aproximadamente aos 12 anos de idade. Após essa idade, as chances de remissão são altas.

Outros subtipos de TOC

Além dos subtipos mencionados acima, o TOC parece ter outros subtipos classificados de acordo com outros fatores diferentes do conteúdo das obsessões e compulsões. São eles:

TOC de início precoce

O TOC de início precoce é aquele que se dá antes dos 18 anos de idade e tem características marcantes que fazem com que esses casos sejam um subtipo do transtorno.

Em geral, esse tipo de TOC está relacionado a um histórico familiar de TOC, é mais comum em meninos e aumenta a chance do desenvolvimento de tiques.

Felizmente, não há evidências de que o início na infância prejudica o tratamento medicamentoso, o que significa que a eficácia do tratamento é a mesma tanto nos casos em que o TOC inicia na infância quanto nos casos em que se inicia na idade adulta.

TOC familiar vs TOC esporádico

Esses dois subtipos de TOC se diferenciam pela presença do transtorno na família. Pessoas com histórico familiar de TOC estariam dentro da categoria “TOC familiar”, enquanto o “TOC esporádico” seria aqueles casos em que ninguém da família possui o diagnóstico, sendo assim uma primeira aparição do transtorno naquela família.

Sabe-se atualmente que, na maioria dos casos, o TOC possui um componente genético, o que torna o tipo esporádico curioso. Afinal, há diferenças entre esses dois subtipos?

Um estudo publicado no periódico científico Psychopatology em 2011 indica que sim, há diferenças.

Em primeiro lugar, o TOC familiar costuma ter um início mais cedo. Além disso, há uma incidência maior de comorbidades como ansiedade e depressão, além de um maior número de compulsões. Já no caso do TOC esporádico, são mais comuns sintomas relacionados ao subtipo pensamentos proibidos e sem compulsões aparentes. Os outros subtipos de sintomas são mais comuns em TOC familiar, em especial o de simetria e organização.

Por fim, o TOC familiar demora mais tempo para ser tratado. Ainda que a presença do transtorno na família deveria facilitar o diagnóstico precoce e o tratamento, costuma acontecer justamente o contrário: a pessoa passa mais tempo convivendo com o transtorno sem tratamento. Além disso, a resposta ao tratamento é melhor em casos de TOC esporádico do que em casos de TOC familiar.

***

Se você sofre com sintomas que acredita ser de transtorno obsessivo-compulsivo, não se esqueça de entrar em contato com um psicólogo ou psiquiatra de confiança. O diagnóstico correto e o tratamento adequado são fundamentais para uma melhor qualidade de vida.

Referências

Grados, M. & Riddle, M. A. (2008). Do all obsessive-compulsive disorder subtypes respond to medication? International Review of Psychiatry, 20(2): 189-193.

Leckman, J. F.; Bloch, M. H. & King, R. A. (2009). Symptom dimensions and subtypes of obsessive-compulsive disorder: a developmental perspective. Dialogues Clin Neurosci., 11: 21-33.

Viswanath, B. et al (2011). Is Familial Obsessive-Compulsive Disorder Different from Sporadic Obsessive-Compulsive Disorder? A Comparison of Clinical Characteristics, Comorbidity and Treatment Response. Psychopathology, 44: 83-89. DOI: 10.1159/000317776

https://www.verywellmind.com/what-are-the-different-types-of-ocd-2510663

http://beyondocd.org/ocd-facts

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