Estimulação Magnética Transcraniana (EMTr) e Psicoterapia: como se ajudam?

Sabe-se que a EMTr pode trazer resultados mais eficazes combinada à medicação, mas será que os resultados também são bons com psicoterapia? Descubra aqui!
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin

Embora grande parte dos transtornos mentais possam ser tratados com medicamentos e técnicas de neuromodulação, frequentemente é recomendado que o paciente também faça psicoterapia simultaneamente.

Isso porque, ao longo dos anos, surgiram muitas evidências de que a psicoterapia pode ajudar a potencializar os efeitos de diversos tratamentos psiquiátricos. Existem até mesmo transtornos que são tratados somente com psicoterapia, embora estes sejam minoria, e depende muito do psiquiatra responsável analisar se o paciente realmente se beneficiaria apenas com a psicoterapia.

Neste artigo, iremos explorar um pouco melhor a forma em que a psicoterapia pode ajudar no tratamento de transtornos mentais em conjunto com a Estimulação Magnética Transcraniana de Repetição (EMTr).

O que é Estimulação Magnética Transcraniana de Repetição (EMTr)?

A Estimulação Magnética Transcraniana é uma técnica de neuromodulação frequentemente usada para o tratamento da depressão em casos nos quais o paciente não responde bem aos tratamentos convencionais (medicação e psicoterapia).

Trata-se de uma técnica não-invasiva e altamente eficaz, que é feita em sessões de 20 a 50 minutos com o paciente consciente, sem a necessidade de sedação ou relaxantes musculares. A técnica é indolor e não apresenta os efeitos colaterais comumente encontrados no tratamento medicamentoso.

A EMTr utiliza pulsos magnéticos que agem no córtex cerebral influenciando as sinapses para torná-las mais eficientes e combater os sintomas dos transtornos de humor.

É indicada para tratar a depressão unipolar, a depressão refratária (resistente ao tratamento), depressão bipolar, bem como alucinações auditivas em pacientes com esquizofrenia.

Você pode conferir mais sobre a EMTr e como ela funciona no seguinte artigo: Estimulação Magnética Transcraniana (EMT): O que é, funciona?

Como funciona a psicoterapia?

A psicoterapia é um processo terapêutico no qual a principal ferramenta é a fala. Na psicoterapia, paciente e terapeuta exploram questões mais profundas trazidas pelo paciente, podendo assim identificar fatores que acabam auxiliando na manutenção de sintomas dos transtornos mentais.

Com frequência, os transtornos mentais alteram a forma que uma pessoa vê o mundo, fazendo com que tenha pensamentos irrealistas acerca das situações, o que pode contribuir para manter o humor abalado ou gerar sintomas ansiosos, por exemplo.

Na terapia, busca-se questionar e elaborar essas percepções, provocando mudanças profundas e que a longo prazo podem permitir uma remissão dos sintomas, coisa que a medicação sozinha é incapaz de fazer.

Embora a medicação possa provocar a remissão dos sintomas, essa remissão não se sustenta quando a medicação é tirada; já os efeitos da psicoterapia duram mesmo anos após o término do processo psicoterapêutico.

É válido ressaltar que a psicoterapia pode ser feita de maneiras muito diferentes, conhecidas como “abordagens da psicologia”. Atualmente, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) possui uma série de abordagens regulamentadas que trazem resultados significativos para os pacientes, mas nem todas são indicadas para qualquer paciente.

A abordagem escolhida depende de uma série de fatores, como objetivo da psicoterapia, diagnóstico do paciente, evidências científicas da eficácia para o tratamento de determinadas questões, entre outros.

Atualmente, as terapias com o maior número de evidências científicas são as terapias baseadas na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e na Análise do Comportamento (AC).

Se você quiser ler mais sobre psicoterapia e como funciona, confira nosso artigo: Psicoterapia: como é? Funciona?

EMTr e psicoterapia possuem um efeito sinérgico

Sinergia é um termo da fisiologia usado para descrever quando há ação simultânea de um ou mais órgãos ou substâncias a fim de promover um resultado. Em outras palavras, é quando duas coisas trabalham juntas em prol de um objetivo em comum.

No caso dos tratamentos de transtornos mentais, não é raro que seja usado um conjunto de tratamentos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, como é o caso de medicações e psicoterapia. Com a EMTr, isso não é diferente.

Estudos mostram que as áreas do cérebro frequentemente estimuladas pela EMTr são áreas que também sofrem alterações como resultado da psicoterapia por meio da neuroplasticidade. Por conta disso, pode-se pensar que a EMTr e a psicoterapia possuem um efeito sinérgico, atuando nas mesmas áreas para promover a melhora do paciente, porém de formas completamente diferentes.

Esses efeitos já foram vistos em pesquisas combinando psicoterapia com medicação ou até a própria EMTr com medicação, demonstrando eficácia de longo prazo.

Contudo, a possibilidade de combinar apenas EMTr e psicoterapia é bastante desejável, tendo em vista que muitos pacientes gostariam de parar com os remédios a fim de evitar os efeitos colaterais e demais inconveniências relacionadas ao uso de medicações a longo prazo.

A combinação entre EMTr e psicoterapia resulta em respostas terapêuticas relativamente altas em 66% dos pacientes, bem como um grande índice de remissão (56% dos pacientes) em pessoas que sofrem de transtorno depressivo maior.

Esse efeito também foi observado previamente em outras pesquisas com outros transtornos mentais, como por exemplo o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

No entanto, algo que ainda não foi esclarecido para os pesquisadores é se a EMTr junto com a psicoterapia funcionam tão bem por questões de neuroplasticidade, como apontado anteriormente, ou se é simplesmente uma questão da relação entre dose e resposta. Em outras palavras, pode ser que a combinação funcione não por conta da neuroplasticidade, mas simplesmente porque são dois tratamentos feitos simultaneamente, o que traz mais resultados do que apenas um tratamento.

Vale ressaltar que a psicoterapia pesquisada é com base na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma das terapias com o maior nível de evidência científica de sua eficácia para uma série de transtornos.

Conclusão

A estimulação magnética transcraniana pode ser de bastante ajuda para pessoas que sofrem de algum tipo de transtorno que não responde adequadamente à medicação. No entanto, apenas a técnica de neuromodulação pode não ser o suficiente para alcançar bons resultados.

Por isso, não é raro que a EMTr seja feita em conjunto com algum outro tipo de tratamento, especialmente a psicoterapia e o uso de medicações, tendo em vista que a EMTr pode ajudar também a fazer com que as medicações sejam mais efetivas.

Se você sofre com algum transtorno mental que não responde aos tratamentos convencionais e acredita que a EMTr pode trazer mais resultados, é importante ter em mente que pode haver a necessidade de continuar o tratamento convencional junto com a técnica de neuromodulação a fim de conseguir alcançar o efeito máximo de todas os tratamentos juntos.

Em caso de dúvidas ou necessidade de mais informações, não hesite em procurar um profissional da saúde mental.

Referências

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1935861X17309609
https://bmcpsychiatry.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12888-022-03732-6 

Confira posts relacionados